quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Banca no espaço de língua portuguesa termina 2007 em efervescência

Macau, China, 3 dezembro 2007 - O sector bancário dos países de língua oficial portuguesa entra na recta final de 2007 em verdadeira efervescência, com aquisições, novos bancos, projectos de expansão e de cooperação, dispersões de capital e muitas operações volumosas.
Stanley Ho, milionário do jogo de Macau, é um dos principais protagonistas, depois de ter assegurado no espaço de poucos meses a compra de um banco na Guiné-Bissau, e, segundo foi conhecido já no final de Novembro, criar de raiz um banco em Moçambique, país onde já tinha tentado várias abordagens.
O empresário entra no mercado bem acompanhado: segundo noticiou em Lisboa a Agência Lusa, nada menos do que centena e meia de investidores, quase todos pessoas individuais e empresas moçambicanas, compõem a Moçambique Capitais, que será accionista maioritário do Moza Banco com 51 por cento, cabendo os restantes 49 por cento à Geocapital de Ho e de Jorge Ferro Ribeiro.
Sinal da forte aposta em Moçambique, Ho coloca na presidência do Moza Banco o antigo governador do Banco de Moçambique, Prakash Ratilal, um "peso pesado" do sector.
Virado para o investimento e serviços a empresas e gestão de património, o Moza Banco abre o seu primeiro balcão em 2008.
Stanley Ho assegura assim a presença da Geocapital num mercado com um crescimento pujante, em que no ano passado os lucros dos nove bancos comerciais moçambicanos aumentaram duas vezes e meia, segundo o mais recente relatório da Associação Moçambicana de Bancos e pela consultora KPMG.
O BIM, do grupo português Millennium Bcp, mantém-se o maior banco comercial moçambicano, com activos de 24,7 mil milhões de meticais (mais um quinto do que no ano anterior), o que compara com os 7,67 mil milhões de meticais do BCI-Fomento, e aumentou os seus lucros em 259 por cento em 2006.
A Geocapital tinha estado perto da compra do Banco de Desenvolvimento e Comércio (BDC), relatando então a imprensa moçambicana que Almeida Santos, na condição de advogado da Geocapital, teria inclusivamente contactado o presidente moçambicano, Armando Guebuza, no sentido obter uma aprovação célere à operação, então dependente do Banco de Moçambique.
Depois da ruptura das negociações e afastamento da Geocapital, os portugueses do Montepio Geral passaram os sul-africanos do First National para a frente no negócio.
Já na Guiné-Bissau o negócio entre Geocapital e Montepio Geral consumou-se, com a compra de 60 por cento do capital do Banco da África Ocidental (BAO), onde Ho e Ferro Ribeiro terão entre os seus associados o empresário guineense Carlos Domingues Gomes.
Apesar da pequena dimensão do mercado bancário guineense, o BAO apresenta a mais-valia de estar autorizado a abrir sucursais nos países-membros da União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) – Benim, Burkina-Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal e Togo.
Tem sido dada a conhecer também a aproximação de Ho ao mercado angolano, através do Banco Angolano de Negócios e Comércio (BANC), um projecto antigo e aparentemente paralisado, segundo a newsletter Africa Monitor, devido à recusa da atribuição de uma licença de exploração de jogo no novo hotel de cinco estrelas "Rosa Linda", empreendimento cuja primeira pedra foi lançada em Junho.
No BANC, a empresa de Stanley Ho e outros investidores tinha como parceiros influentes personalidades angolanas, como José Pedro de Morais, actual Ministro das Finanças, e Kundi Paihama.
Esta instituição financeira estava vocacionada para a comunidade chinesa, prevendo a intervenção em investimentos no sector privado, através de concessão de crédito ou tomada de participações.
Se o Montepio Geral vende, o maior banco português, a Caixa Geral de Depósitos, aparece também em posição de ataque, e está em vias de aumentar o seu peso em São Tomé e Príncipe.
Na semana passada, a newsletter Africa Monitor noticiava que o grupo financeiro português de capitais públicos está interessado em tornar-se único accionisto do Banco Internacional de São Tome e Príncipe (BISTP), onde detém 60 por cento e o Estado 40 por cento, devido a divergências na gestão.
Entretanto, a Caixa está em vias de iniciar a sua actividade em Angola, em parceria com o maior banco ibérico, o espanhol Santander, esperando-se uma autorização definitiva do banco central nas próximas semanas, depois de um atraso de mais de um ano, devido ao rearranjo das participações accionistas.
Também em Cabo Verde a actividade financeira, nomeadamente no "off-shore", tem vindo a captar importantes investimentos ao longo do último ano, mas de todos os "oito" é em Angola que parece registar-se maiores "movimentos tectónicos" na banca.
No sentido inverso, de Angola para Portugal, foi o banco BIC Portugal, do empresário Américo Amorim e Isabel dos Santos, filha do chefe de Estado Angolano.
Este, que se assume actualmente como um dos principais concorrentes do Fomento em Angola, vai dedicar-se à gestão de patrimónios e serviços às empresas, esperando-se que seja uma "ponte" para novos investimentos angolanos na antiga metrópole, depois dos protagonizados pela Sonangol, que assegurou recentemente uma participação de cinco por cento no maior banco privado português, o Millenium Bcp, e se tornou accionista de referência da Galp Energia, maior petrolífera portuguesa.
Na semana passada, a Voz da América noticiava que a Sonangol tem como objectivo entrar no capital do Millenium Angola e da Fomento, numa altura em que já é accionista do Banco BAI e de um outro de menor dimensão.
Se o Santander e a Caixa tardam em conseguir entrar em Angola, o "gigante" europeu Fortis deu um primeiro passo na semana passada, ao associar-se ao Banco de Negócios Internacional (BNI) na prestação de serviços bancários.
Também os bancos chineses dão significativo contributo para a efeverscência verificada no sector.
Segundo a imprensa brasileira, o Banco da China solicitou autorização das entidades reguladoras da maior economia sul-americana para iniciar operações bancárias e de corretagem.
Num outro plano, o Banco de Exportação e Importação da China (Eximbank), ligado ao financiamento de grandes projectos em Angola e Moçambique, apresentou recentemente aos representantes dos países de língua portuguesa um conjunto de propostas a fim de promover a criação de uma plataforma financeira.
A montagem de empréstimos para projectos de grande dimensão, o estabelecimento de financiamento conjunto de projectos, privilegiando os de grande influência nas relações bilaterais, são algumas das coordenadas que o banco chinês pretende seguir para pôr em funcionamento uma plataforma financeira entre a China e os países de língua portuguesa. (macauhub)

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