Reportagem: Raquel Casiraghi/Agência Chasque/4 dezembro 2007
Porto Alegre (RS) - A greve de fome do frei Luiz Flávio Cappio contra a transposição do rio São Francisco completou uma semana nesta terça-feira (04). Aos 61 anos, este é o segundo jejum realizado pelo religioso, que também é bispo da Diocese do município da Barra, na Bahia. Manifestação semelhante já havia sido realizada em 2005, quando o frei passou um mês sem comer. O protesto somente foi interrompido com a promessa do presidente Lula em realizar amplo debate com a população sobre o tema.
Em entrevista à RadioCom, de Pelotas (RS), frei Cappio se mostrou decepcionado com o presidente. Ele afirma que as discussões sobre a transposição e as alternativas à distribuição de água no Nordeste não ocorreram. Em fevereiro, o frei tentou novo diálogo com o governo por meio de documento protocolado no Palácio do Planalto. No entanto, como resposta, recebeu a notícia do início das obras de transposição pelo Exército."O projeto de transposição não beneficia de forma alguma os pobres do Nordeste brasileiro. Pelo contrário, além de prejudicar muito o rio São Francisco, ele vai beneficiar algumas empresas em detrimento das populações. É mais uma vez a primazia do capital. Quando fizemos nosso primeiro jejum só encerramos porque o presidente assumiu comigo um trato de abrirmos uma longa discussão nacional sobre as alternativas para o abastecimento do Nordeste, porque a transposição não é a melhor saída. Pelo contrário, é a pior maneira. E infelizmente, durante dois anos, tentamos debater o tema, o que não ocorreu", diz.
Frei Cappio reafirmou que a única condição para terminar com a greve de fome é a paralisação das obras. Caso isso não ocorra, não haverá nenhum tipo de diálogo ou de negociação com o governo Lula. Ele avalia que o episódio da transposição do rio São Francisco mostra, mais uma vez, a exclusão dos movimentos sociais no segundo mandato do governo Lula. "Eu percebo que os movimentos sociais vêm sendo totalmente excluídos da pauta do presidente Lula. Ele se tornou refém do grande capital e dos grandes interesses econômicos, e os movimentos sociais estão totalmente à margem. Ele se esqueceu do povo, de quem realmente o elegeu, e serve ao grande capital", afirma.
Durante a primeira semana da greve de fome, frei Luiz Cappio recebeu inúmeros manifestos de apoio. Além de jejuar, ele tem rezado missas para a população local e visitantes. No entanto, a iniciativa do frei também tem encontrado resistência na Igreja Católica, como a do arcebispo metropolitano da Paraíba, dom Aldo Pagotto. O religioso, que apóia o projeto de transposição, criticou em nota o protesto de Cappio. No documento, Pagotto diz que ninguém tem o direito de tirar a própria vida "a qualquer título".
Em resposta, frei Cappio escreveu uma carta nesta terça, em que contesta as afirmações do arcebispo, dizendo que seu comportamento é coerente com a trajetória em defesa das populações mais pobres. Também reafirmou sua posição de permanecer em greve de fome até quando for necessário.
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