Reportagem: Raquel Casiraghi e Luiz R. Almeida duração: 5'48" tamanho: 1019 Kb
Porto Alegre - O avanço do agronegócio e a perseguição policial e da Justiça são os principais entraves para que a reforma agrária aconteça no País. Apesar das diferenças regionais, esses itens aparecem em todos os Estados, gerando violência no campo e aumentado o poder local dos grandes proprietários de terra.
É o que acontece com a cadeia da cana-de-açúcar, que mantêm uma estrutura arcaida de trabalho, apesar de investir em tecnologias de ponta. Estados do Sudeste, do Nordeste e mais recentemente o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, sofrem as conseqüências do incentivo dado pelo presidente Lula. Como nos conta Cláudia Plachede, da direção estadual do Movimento Sem Terra (MST) de São Paulo.
"A nossa luta pela terra tem dois grandes desafios: o primeiro é o do agronegócio do eucalipto e da cana tem avançado e tem crescido. São Paulo está praticamente tomado pela cana e, onde a gente tem um pouco da Mata Atlântica, tem eucalipto. Então, a nossa luta pela terra tem o desafio de questionar o agronegócio", diz.
Além de tomar terras que poderiam ser utilizadas para a reforma agrária, os canaviais concentram os mais altos índices de mortes de trabalho no campo. Quinze bóias-frias morreram entre os anos de 2004 e 2006 somente na região de Ribeirão Preto. Todas as vítimas tinham entre 20 e 45 anos e não apresentavam problema cardíaco ou de saúde. As causas foram o trabalho em excesso e as más condições. A mesma situação é enfrentada pela população da Zona da Mata nordestina.
Em Pernambuco, a fruticultura para exportação, na região do Semi Árido, também dificulta a reforma agrária. Reginaldo Martins Silva, do MST, conta que diversos programas de irrigação estão sendo financiados pelo governo e bancos públicos para o setor. Somente o projeto Pontal Sul recebeu mais de R$ 300 milhões do governo e da iniciativa privada para construir 35 mil hectares de irrigação. Outra iniciativa que somente irá beneficiar o agronegócio, segundo Reginaldo, é a transposição do Rio São Francisco.
"Nós somos contra à transposição do rio porque a água não vai servir para matar a sede dos nordestinos, mas para sustentar a produção da cana e até mesmo do próprio eucalipto e da fruticultura, para poder continuar enriquecendo as grandes empresas que tem naquela região", diz.
A transposição também atingirá fortemente a Bahia. Dejacira de Oliveira Araújo, da direção estadual do MST, afirma que o projeto desalojará centenas de famílias pobres, que não serão as reais beneficiadas.
"A Bahia é uma região riquíssima e muito disputada pelo agronegócio, que tem quatro biomas importantes, cerrado, Mata Atlântica, Caatinga e Semi-Árido. Hoje, tem o projeto que está disputadíssimo e que o MST está contra porque irá desalojar mais famílias ainda, que é a transposição do rio São Francisco, que pega grande parte do Estado da Bahia", diz.
Na Bahia, a monocultura do pínus e do eucalipto para as papeleiras é a cara do agronegócio no Estado. Assim como no Espírito Santo, São Paulo e Minas e Gerais, a atividade já causou graves prejuízos ambientais e expulsou muitos camponeses da terra. Pesquisa do Centro de Estudos e Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia (Cepedes) mostra que a cidade de Eunápolis, no Sul baiano, foi a recordista em êxodo rural na última década: quase 54% dos moradores deixaram a zona rural devido à monocultura do eucalipto.
No Rio Grande do Sul, as papeleiras chegaram forte nos últimos três anos. Ivanete Tonin, do MST gaúcho, afirma que a compra de terras pelas transnacionais como Aracruz, Stora Enso e Votorantim irá aumentar ainda mais a concentração de terras.
"A política do agronegócio centrada na entrega das terras para empresas estrangeiras. O Rio Grande do Sul está sendo dividido em duas metades: uma para a produção do etanol, através da soja, da mamona e do girassol, e a outra metade, para a rpodução de matéria-prima para a celulose através do eucalipto. Então este é o principal limite em que as transnacionais, por conta da sua condição de lucro e muito dinheiro, tem conseguido comprar terras a preços superiores do que o próprio governo", diz.
A região Amazônica tem sentido na pele a chegada da monocultura da soja e da criação de gado. Ayala Ferreira, do MST no Pará, conta que o latifúndio que chega à região não é mais aquele arcaico, já que utiliza muita tecnologia de ponta. No entanto, as relações de trabalho e a forma de como lidam com os opositores ainda continua a mesma, como mostrou a morte da irmã Dorothy Stang em Anapu, há dois anos atrás.
"Tem esse enfrentamento direto com o latifúndio, que é tradicional mas que também tem características modernas e que utiliza as mesmas táticas, como a violência, assassinato, perseguição através do poder judiciário e da política. Prática que em alguns lugares do mundo é inimaginável, como o trabalho escravo", afirma.
A impunidade, segundo Ayala, acaba incentivando a violência na região. "A impunidade está muito presente e é este esforço que nós temos feito. A violência permanece porque existe impunidade e é isso o que a gente tem que combater", diz
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