terça-feira, 25 de outubro de 2016

BRICS, БРИКС/A “ASSIM CHAMADA” CHINA COMUNISTA

23 outubro 2016, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)

Jeff Brown, All China Review
http://www.allchinareview.com/so-called-communist-china/




Apesar de, para o império ocidental, não haver democracia na China, o comunismo está funcionando muito bem nessa sociedade. O artigo discute como os avanços socioeconômicos e geopolíticos da China desde 1949 podem ser atribuídos àquela versão única de democracia que os chineses construíram.

Em meados dos anos 1930s, a China estava sendo dilacerada entre quatro forças opostas entre elas. Uma, o Exército Vermelho comunista comandado por Mao Zedong. Outra, os fascistas japoneses e seu Exército Imperial. Uma terceira, os Nacionalistas do Kuomintang, abreviado “KMT” em inglês, comandados por Chiang Kai-Shek. O quarto grupo eram todos os colonialistas ocidentais – imperialistas, é claro, que se bajulavam uns os outros com o rótulo pretensioso de “Grandes Potências”.

As coisas não estavam andando conforme planejado, para o império ocidental. Apoiavam, fizesse chuva fizesse sol, Chiang Kai-Shek (que adorava ser chamado de “Generalíssimo”, mas que os funcionários dos EUA chamavam, zombeteiros, pelas costas, de “Peanut”) para fazer dele o futuro líder da China pós-guerra. O plano do ‘ocidente’ era pôr Chiang como chefe fantoche da China pós-guerra, nos moldes do ditador de Cuba, Fulgencio Batista, sempre sob a falsa bandeira de algum tipo de “democracia ocidental”. E o ocidente parecia mais
desesperado, a cada dia.

O Generalíssimo comandava suas forças mais ou menos como o general George McClellan de Abraham Lincoln, praticamente sempre recolhidas às barracas e sempre em retirada quando o inimigo aparecia. Quando Peanut lutava, era tentando destruir Mao e o Exército Vermelho, muito mais que os desprezados fascistas japoneses. Lincoln acabou por substituir McClellan pelo general Ambrose Burnside. Os colonialistas ocidentais não tinham alternativa a Chiang, e Mao era o Inimigo Público Número Um, o mais temido “commie” [ing. communist].
 
Mas as notícias que vinham das fortalezas comunistas começavam a acumular-se, e já não era possível ignorá-las. Durante meses, Zhou Enlai, que era o premiê do Partido Comunista da China (PCC) e expert em política exterior, andara dizendo aos norte-americanos que o Exército Vermelho combateria sob comando dele, ao lado do KMT, para derrotar os japoneses. O Generalíssimo recusou-se teimosamente a cooperar com comunistas, ainda que fosse a decisão mais correta, considerados os melhores interesses da China. Para piorar, os Vermelhos estavam vencendo a guerra contra japoneses e a apática gangue de Chiang, ao mesmo tempo em que chegavam notícias sobre enxurradas, legiões de cidadãos comunistas felizes, saudáveis, produtivos e motivados. Isso, comparado às tropas do KMT, semimortas de fome, descalças, doentes e abandonadas pelo descaso de seus generais e oficiais corruptos nos campos, mas que a mídia insistia em ‘promover’.
 
Sem conseguir dar conta dela e cegos ante aquela ideologia, FDR, Washington e a mídia popular simplesmente não conseguiam escrever ou pronunciar a palavra “comunistas”. Por isso Mao & Co. eram conhecidos nos EUA como “os assim chamados comunistas”.

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O presidente Franklin D. Roosevelt dos EUA & Co. finalmente rendeu-se em 1937, e um pequeno contingente de funcionários e jornalistas foram mandados para ver com seus próprios olhos. Edgar Snow lá estava, e seu livro Red Star over China [Estrela Vermelha sobre a China] foi bestseller internacional naquele ano. Para grande surpresa e choque deles todos, era tudo verdade. Em todos os locais onde os comunistas assumiram o comando, a dependência do ópio, jogo, crime organizado, prostituição, amarração de pés femininos, escravidão infantil, legiões de sem-teto, analfabetismo e fome foram erradicados. Soldados do Exército Vermelho e cidadãos eram pessoas sorridentes, industriosas, positivas, bem nutridas e dedicadas à causa. Visivelmente não era propaganda e tudo era manifestamente real. Daquele ponto em diante, os norte-americanos compreenderam privadamente que o muito corrupto e dissoluto Generalíssimo e seu KMT não teriam qualquer chance contra Mao e os formidáveis Vermelhos. Mas, furioso odiador de comunistas (“commies”), o fascista Peanut era o único cavalo que os colonialistas ocidentais tinham para montar.
 
O Ocidente foi apanhando num vertiginoso silogismo vicioso. Mao e os Vermelhos são comunistas, comunismo é o mal, logo, tudo que Mao e os Vermelhos façam é mau. E aí estava o busílis, essa massiva dissonância cognitiva: se eram comunistas… como é possível que as coisas estivessem funcionando tão bem para eles?

Sem conseguir dar conta dela e cegos para aquela ideologia, FDR, Washington e a mídia popular simplesmente não conseguiam escrever ou pronunciar a palavra “comunistas”. Por isso Mao & Co. eram conhecidos nos EUA como “os assim chamados comunistas”. Joseph Stalin ajudou a formatar essa prestidigitação de língua, ao explicar ao primeiro-ministro britânico do tempo da guerra Winston Churchill e a Roosevelt, que os chineses eram “rabanetes”, vermelhos por fora, mas brancos sob a superfície – não eram comunistas reais. Assim, o parafuso quadrado da realidade do PCC foi metido à força no buraco redondo da negação no ocidente. Mas uma coisa, pelo menos, os imperialistas ocidentais constataram, afinal, com certeza. Não só o PCC varreu o Japão e os colonialistas ocidentais para fora da Nova China, como também, além disso, conseguiu espantar o KMT para Taiwan.
 
O mesmo tipo de ideologia anticomunista rígida ainda existe, forte, no ocidente, que tenta, quase sempre mal e incorretamente, compreender a evolução sociocultural do povo chinês e a gestão político-econômica do país, por Baba Pequim (a liderança). Para a mídia ocidental de massa, políticos e agitadores em geral, a China ainda é “assim chamada comunista”. Tem de ser capitalista, claro, para ter-se dado assim tão bem, claro.

Assim como FDR e sua geração foram cegados pela propaganda, assim também hoje a Angloeuropalândia e grande parte do resto do mundo continuam com a inteligência ainda lavada de todo o mal, rasa e oca. As provas batem e batem na cabeça dos ocidentais. Se, pelo menos, conseguissem arrancar os antolhos!
 
Comecemos com a Constituição Popular nacional da China e Deng Xiaoping. Anticomunistas adoram bajular Deng, como se fosse alguma espécie de guru capitalista em Cruzada pela China. Pois foi quem comandou a mais recente emenda à Constituição nacional, em 1982.¹ A Constituição da China é potentíssima resposta-contestação ao capitalismo e a tudo que o ocidente prega e defende.
 
A Constituição chinesa orgulhosamente estampa 15 vezes o termo “comunismo” ou “comunista”; e “socialismo” e “socialista”, impressionantes 123 vezes. Termos dialéticos como “classe”, “luta”, “massa”, “independência”, “trabalho”, “trabalhador/trabalhado”, “camponês”, “exploração”, “capitalismo”, “propriedade”, “proletariado”, “coletivo”, “cooperado”, “privado”, “combate”, “luta” “ditadura” (do povo), “poder” e “feudal” lá aparecem, somadas, 265 vezes. “Marxismo-Leninismo” e “Pensamento de Mao Zedong” são citadas dez vezes; e “revolução”, 12 vezes.
 
O vocabulário de governo amplo, de planejamento central, como “salvaguardar”, “proteger”, “liderar”, “reformar”,”rural”, “urbano”, “produção”, “plano”, “economia”, “sistema”, “administração”, “regras”, “regulações”, “instituição”, “empresa”, “ciência”, “tecnologia”, “moderno(a)”, “organização”, “gerenciar”, “progresso”, “agricultura”, “fazenda”, “terra”, “indústria”, “recursos”, “educação”, “central” e “desenvolver” lá aparecem, no texto da Constituição da China, estonteantes 703 vezes.
 
A importância do governo central como guia para o povo, na direção do que hoje está sendo chamado de O Sonho Chinês, aparece clara nas 292 vezes que são usadas as palavras “estado” e “governo”.
 
Palavras desafiadoras, que visam a fazer levantar e derrotar o ocidente, como “hegemonia”, “imperialismo”, “colonialismo”, “combate”, “defender”, “exército”, “militares”, “segurança”, “agressão”, “combate”, “sabotagem” e “provocação” são manejadas como armas num total de 85 vezes.

A Constituição da China é potentíssima resposta-contestação ao capitalismo e a tudo que o ocidente prega e defende.
 
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Dúvidas que haja sobre quem é o beneficiário da Constituição da China são dissipadas com a evidência de que a palavra “público(a)” é usada 143 vezes; e “povo”, impressionantes 392 vezes, amaldiçoado seja o elitismo ocidental.
 
O preâmbulo cobre, resumidamente, os 5 mil anos de civilização chinesa e, em seguida, destaca o século de humilhação que começou com o cartel criminoso de drogas organizado pelo ocidente imperial em 1840. Uma sessão inicial do preâmbulo proclama, orgulhosamente
“Depois da fundação da República Popular, a China gradualmente fez sua transição de sociedade neodemocrática, para sociedade socialista. A transformação socialista da propriedade privada dos meios de produção foi completada, o sistema de exploração do homem pelo homem, abolido; e o sistema socialista, estabelecido. A ditadura democrática pelo povo liderado pela classe trabalhadora e baseada na aliança de trabalhadores e camponeses, que é, na essência, a ditadura do proletariado, foi consolidada e desenvolvida. O povo chinês e o Exército de Libertação do Povo Chinês derrotaram a agressão, a sabotagem e as provocações armadas imperialistas e hegemonistas, e assim salvaguardaram a independência e a segurança nacional da China, e fortaleceram sua defesa nacional.”*
 
Adiante, o preâmbulo conclui com essa bofetada marcial artística gigante na cara coletiva do ocidente:
 
“A China opõe-se consistentemente ao imperialismo, à hegemonia e ao colonialismo, trabalha para fortalecer a unidade com os povos de outros países, apoia as nações oprimidas e países em desenvolvimento na justa lutas delas e deles para conseguir e preservar a independência nacional e desenvolver as economias nacionais, e esforça-se para salvaguardar a paz mundial e promover a causa do progresso humano.”
 
Ainda não compreenderam? Querem mais? Querem ler a Constituição do Partido Comunista da China?² Juntos os dois documentos, a Constituição do PCC e a Constituição do Povo da China são a espinha dorsal, a pedra angular da governança e da sociedade chinesa, e do incansável empenho de Baba Pequim para preservar o Mandato Celestial.
 
Bolha no mercado proprietário? Proprietário de quê? Que propriedade? A propriedade privada, é claro, mas essa não é propriedade real. Propriedade na China é 100% propriedade do povo chinês. Não há um metro quadrado de terra privada na República Popular. Você pode pagar pelo direito de usar durante 70 anos o seu palmo de terra, e desenvolvê-lo, mas ninguém pode comprar o barro.
 
Empresa privada? Claro, está progredindo, mas fortemente concentrada em empresas pequenas e médias, que se complementam e não competem seriamente com os setores estatais da economia.
 
O setor privado é especialmente os muitos milhões de empresas de mãe e filho ou de um só, que cobrem toda a China.
 
Livres mercados? Não há na China um único, um, que fosse, banco privado. Todos os bancos pertencem ao povo. O maior banco do mundo, Banco Indústria e Comércio da China [ing. Industrial and Commercial Bank of China (ICBC)] pertence, claro, ao Estado, bem como três outros bancos que estão entre os Top Ten globais: #1 (ICBC), #5 Banco Construção da China [ing. China Construction Bank (CCB)], #9 Banco da China [ing. Bank of China (BOC)] e #10 Banco da Agricultura da China [ing. Agricultural Bank of China (ABC)].³ Assim também todas as empresas de seguros e as Bolsas de Ações e de metais preciosos de Xangai e de Shenzhen. Vale o mesmo para todos os grandes veículos de mídia, especialmente televisão, rádio e mídias impressas, por mais que todos tenham ouvido falar sobre Pequim ser a nova “Hollywood do Oriente”, quase toda privada.
 
Os avanços socioeconômicos e geopolíticos da China, desde 1949, podem ser diretamente atribuídos ao sistema comunista anti-imperial de governança.
 
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Capitalismo nu e cru? Venha ver! Quase todos os setores econômicos na China são dominados por empresas de propriedade estatal [ing. state-owned enterprises (SOEs)]. Tudo, de linhas aéreas/aviões à indústria aeroespacial, às indústrias químicas, da construção aos estaleiros e às minas, da energia nuclear ao petróleo, às ferrovias, do aço às telecomunicações e fábricas, mais de 100 setores chaves tem a pegada do povo proprietário. Algumas são as maiores corporações do mundo. Não só isso, mas são, como os bancos estatais acima referidos, muito lucrativos e eficazmente geridos, o contrário do que repete a incansável propaganda ocidental.4
Privatização? Você tem de ler por trás das manchetes enganadoras. Baba Pequim subsidia a venda de ações da empresas estatais ao público, em 30%. Além disso, há controles estritos para assegurar que ninguém tente controlar o que seja oferecido à venda. A propriedade das ações tem de ser amplamente distribuída. Muitas dessas ações são propriedade de cidadãos chineses (ações A), mas algumas são oferecidas a estrangeiros (ações B). Interessante, mais e mais empresas chinesas, inclusive estatais, estão fazendo Ofertas Públicas Iniciais [ing. IPOs] em mercados de ações no ocidente, como parte de seus 30%.
 
Reformas? Ha-ha-ha, faz-me rir! Baba Pequim jamais venderá as empresas estatais propriedade do povo chinês. Pequim sabe que a harmonia social dos cidadãos e a estabilidade econômica têm raízes na capacidade do governo para macrogerenciar e planejar no longo prazo (cinco anos) a direção que o país tomará, mediante a propriedade de 100% da terra (controle dos meios de produção, do marxismo), e de indústrias e setores chaves. O PCC continuará a criar riqueza, sob a rubrica de socialismo com características chinesas, servindo-se de algumas das armadilhas capitalistas. Mas é só uma transição. Deng Xiaoping disse muitas vezes, embora o ocidente ainda insista em não ouvir, que o objetivo é seguir a trilha econômica marxista, para uma sociedade comunista próspera.
 
Mas não é justo, diz você, o campo de jogo não é nivelado. Azar o de vocês, capitalistas ocidentais. Os avanços socioeconômicos e geopolíticos da China, desde 1949, podem ser diretamente atribuídos ao sistema comunista anti-imperial de governança. Você pode ver o que quiser ver no Império do Meio, projetar seus sagrados (alguns diriam mitológicos) ideais ocidentais sobre Baba Pequim e o povo chinês, mas nem assim será “assim chamado comunismo”. E comunismo. Ponto. Parágrafo. Xiiiu… Escute com atenção, e você ouvirá o espírito de Deng Xiaoping sussurrando na sua orelha.*****
Referências
1.                  http://www.npc.gov.cn/englishnpc/Constitution/node_2824.htm
2.                  http://english.cpc.people.com.cn/206972/206981/8188065.html
3.                  http://incomefile.com/richest/top-10-richest-banks-world/
4.                  http://beta.fortune.com/global500/
 
* Tradução de trabalho, retraduzido a partir do inglês, sem revisão técnica, sem valor oficial, apenas para ajudar a ler [NTs]


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