2 outubro 2016, Jornal Domingo
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Um leão dedicado e determinado (palavras de Raimundo Pachinuapa, antigo
combatente) deixou-nos já lá se foram três décadas. Seu ideário mantém-se aceso
na mente da maioria dos moçambicanos, até porque “o que somos hoje, considera o
general, devemos a ele”.
O General Raimundo
Pachinuapa falava sexta-feira passada, em Maputo, numa palestra organizada pelo
Ministério da Administração Estatal e Função Pública sobre a Vida e obra de
Samora Moisés Machel, no quadro das celebrações do trigésimo aniversário da sua
morte.
O antigo combatente
destacou o papel do Marechal Samora Moisés Machel na luta contra a ocupação
colonial em Moçambique, um líder político apontado por seu companheiro de
trincheira como “um
cidadão atento, que acompanhava as acções de Kwame NKrumah, no contexto do
Gana, e
de outros líderes igualmente preocupados com a libertação dos seus
solos pátrios”.
Ora, em Moçambique,
Samora encetou a sua marcha e, “ao se aperceber da presença de Mondlane na
Tanzânia, saltou a fronteira, numa altura em que qualquer movimentação era
suspeita, e foi à Dar-es-Salam (cidade da paz) onde chegou em 1963, movido pelo desejo de
libertar Moçambique e os moçambicanos do regime colonial”, contou o General Pachinuapa.
A humilhação por que
passavam os filhos da sua terra levaram a que Samora deixasse a bata, a seringa
e fosse ao encontro de Eduardo Mondlane. As bases do movimento
anti-colonialista ganhavam cada mais solidez e, a dado passo, o guerrilheiro,
formado em enfermagem “por suas próprias forças e determinação”, liderava o grupo dos militantes
da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique).
Atirador número um
O anelo pela liberdade
era geral. “Todos nós queríamos a independência”. Valentia e bravura eram
necessárias e um dos jovens destacava-se. Mais do que possuir vocação para
liderar, ele era “um atirador de elite número um”,
e era também um excelente programador e humanista.
É que na FRELIMO, mesmo
com a existência de uma linha armada já traçada para lutar contra o sistema
colonial, verificaram-se posicionamentos extremistas contra a presença europeia
por estas terras: uns estavam a favor da eliminação de todos os brancos no
nosso território.“Mas para Samora o problema não estava na cor
da pele, o nosso inimigo era o sistema. Essa foi uma das lições mais valiosas
que aprendemos de Samora”, revelou
Pachinuapa.
À medida que se
avançava nessa luta, as dificuldades agigantavam-se. O percurso levou a que
passassem por terras áridas, sem água, sem fruta, quase inabitadas. Nessas
circunstâncias, por incrível que pareça, “conseguia fazer com que começássemos tudo do
zero”, tornando a vida possível. Várias foram as suas acções:
atribuiu missões de reconhecimento e posicionamentos militares. A título de
exemplo, “para o Sul enviou Matias Mboa… Bonifácio
Gruveta para Zambézia (Centro)e o Eduardo Nihia para Nampula (Norte)…mas
poucos sabiam das decisões, era preciso manter sigilo. Por conseguinte, ele
tinha o cuidado de conhecer a fundo cada um dos que eram enviados para fazer o
reconhecimento”.
Momentos difíceis
O processo de
libertação de Moçambique das mãos do colonialista português conheceu várias fases.
Da interiorização dessa premente necessidade, passando pelas concertações até
ao treinamento e apoios de vária ordem “quem nos deu as primeiras armas foram os
argelinos”, valeu-se
da coragem e valentia dos seus militantes. Raimundo Pachinuapa afirmou que
Samora sabia que as armas dos portugueses eram mais potentes, “tinham
maior alcance”, ainda assim esse facto não os deixou
diminuídos. “Cada um de nós agarrou-se à sua arma e ficou à
espera do ordenamento central para iniciar a luta com um alvo bem delimitado
por Samora: o sistema colonial”. Foi o audaz Machel que, após
receber o Sim para o início dos disparos que
ocorreram a 25 de Setembro de 1964, passou a orientar a administração da
população nas zonas libertadas, numa altura em que “o
inimigo tentava aniquilar a organização. A sua inteligência e capacidade
levaram-no a descobrir de que arma saiu o disparo que matou Filipe Samuel
Magaia, cheirando os canos das armas dos que estavam ao seu redor”, revelou o General Pachinuapa.
Mas a morte de Mondlane
constituiu uma verdadeira prova para os combatentes da luta de libertação de
Moçambique. “No dia em que Mondlane morre, Samora estava a
trabalhar numa província onde eu era comandante. Soubemos pela rádio. Naquele
momento, ele levantou-se e afirmou: “Lembremo-nos do que Mondlane disse: se eu morrer, a luta continua! Amanhã vamos nos reunir com os outros camaradas
para nos organizarmos”. Entretanto,o general Raimundo Pachinuapa confessou:
“este foi
um dos momentos mais difíceis da FRELIMO, mas os quadros organizaram-se e
tomaram a decisão de escolher uma comissão que dirigiria a luta armada. Foi
formada a santíssima
trindade: Simango/Marcelino/Samora”, mas, “uma
vez que gato é
gato… culminou-se
com a expulsão de Simango e, posteriormente, escolheu-se Samora como
presidente”.
Foi Samora Machel que,
lado a lado com Marcelino dos Santos, liderou o movimento até à libertação de
Moçambique. “Samora e Marcelino pegaram o barco e dirigiram
o país até à independência nacional”, disse Pachinuapa. Hoje, como
forma de exaltar os feitos do herói, determina: “Sigamos
os exemplos de Samora, um homem eleito como primeiro presidente de Moçambique
independente com muito mérito e que deixa um grande legado para todos os
moçambicanos: a bravura, dedicação e determinação”.
Texto de Carol Banze
carolbanze@yahoo.com.br
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