sexta-feira, 8 de julho de 2011

Wikileaks: EUA pediram detalhes sobre bolivarianismo no Brasil

8 julho 2011/Opera Mundi http://operamundi.uol.com.br

Marcus V F Lacerda, Agência Pública*

O Departamento de Estado dos Estados Unidos solicitou à representação diplomática no Brasil para que investigasse a suposta presença no país de grupos inspirados na Revolução Bolivariana, movimento de esquerda idealizado pelo venezuelano Hugo Chávez e que propõe mudanças políticas, econômicas e sociais. Um despacho de 31 de maio de 2005, assinado pelo ex-embaixador norte-americano no Brasil, John Danilovich, responde às perguntas feitas por Washington.

Dentre elas, "quais são os laços do governo [brasileiro] com grupos radicais, partidos anti-sistêmicos, organizações esquerdistas extremistas e/ou terroristas ect?", "qual é a reação do governo à presença de grupos bolivarianos?, "há procedimentos de segurança da fronteira com a Venezuela?" e "qual é o status da colaboração militar com o governo venezuelano?".

Segundo a mensagem, um relatório de 2001 já apontava a organização formal de um grupo composto por oficiais de estado ligados ao PT (Partido dos Trabalhadores) chamado "Grupo de Ação Símon Bolívar". "De acordo com o documento [o relatório de 2001], um dos objetivos do grupo era unir esforços das massas dentro do Brasil e das iniciativas do PT com outras lutas de classe do continente", explica o despacho de 2005, segundo o qual não haviam mais informações sobre o grupo até então.

Outro grupo de tendência bolivariana apontado é o "Círculo Bolivariano de São Paulo". Segundo a mensagem, o movimento marcou presença em um evento na USP (Universidade de São Paulo) patrocinado e coordenado pelo Programa Venezuelano de Divulgação Cultural e Social. "Os objetivos do grupo são desconhecidos. Também é desconhecido o nível, se há algum, de apoio do governo venezuelano ao grupo", diz a mensagem.

Um outro relatório de mesma natureza, desta vez de 2003, apontava relações entre o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e o governo chavista. "De acordo com relatório de outubro de 2003, membros da principal organização do MST viajou para a Venezuela, aparentemente sem conhecimento do governo brasileiro, onde declara-se que eles encontraram-se com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e também com grupos indígenas e fazendeiros”, relata o documento.

Os diplomatas fazem um adendo ao relatório, comentando que antes de deixar o Brasil, o ex-embaixador da Venezuela Vladimir Villegas teria viajado pelo país e coordenado o contato do governo de Chávez com o MST. Villegas não é mais embaixador e atualmente faz parte do partido PPT (Pátria para Todos), de oposição a Chávez

A mensagem também relata que Villegas teria mantido encontros fora de Brasília com membros do PT e do MST entre maio e junho de 2003. "Durantes estes encontros, as discussões de Villegas centraram-se na explicação e tentativa de construir apoio para o movimento Bolivariano da Venezuela", descreve a mensagem.

De acordo com os diplomatas norte-americanos, Villegas tomou o lugar do general Alberto Esqueda Torres como embaixador no Brasil exatamente porque seu antecessor era "passivo" na defesa da revolução bolivariana de Chávez e não se esforçou o suficiente em estabelecer melhores laços com o PT.

O despacho sublinha a posição oficial do governo brasileiro diante do pensamento pan-sulamericano que já havia declarado que o Brasil não é um país bolivariano. "De fato, a falta de maior conexão histórica do Brasil com o movimento bolivariano e um significante desconhecimento completo e falta de interesse em Bolívar [Símon Bolívar] no público geral do Brasil sugere pouco impulso dentro do Brasil para os esforços de Chávez em apropriar a figura histórica ou contorcer seus princípios para encaixarem-se aos fins de Chávez", analisa o funcionário.

*Com informações de Marina Terra

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