20 julho 2011/ODiário.info http://www.odiario.info
Chega a ser obsceno ver o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal, padre Agostinho Jardim Moreira, afirmar que já ficaria «contente» se os actuais níveis de pobreza se mantivessem, enquanto manifesta o seu apoio ao roubo de metade do subsídio de Natal e diz não ver possibilidades de o Governo «diminuir a pobreza».
Sem as prestações sociais – subsídios de desemprego, pensões, rendimento social de inserção ou complemento solidário para idosos – 43,4 por cento dos portugueses estariam em risco de pobreza, revela o inquérito para os Indicadores da Europa 2020 divulgado esta segunda-feira, 11, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Grosso modo, isto significa metade da população do País.
Sabendo-se que os dados se reportam a 2010 e que de então para cá o desemprego não tem parado de subir; sabendo-se que o Governo se prepara para impor o aumento do IRS, do IVA, dos transportes, dos cuidados de Saúde, dos impostos sobre a habitação e de outros bens essenciais; sabendo-se que na agenda governativa está a revisão das leis laborais para facilitar os despedimentos e embaratecer (ainda mais) o trabalho; sabendo-se que o Governo quer dificultar o acesso e reduzir o montante das prestações sociais – a questão que se coloca é elementar: como podem dignitários políticos como o Presidente da República Cavaco Silva, ou da Igreja como o Cardeal Patriarca José Policarpo falar de «sacrifícios justos» e pedir «compreensão» aos portugueses?
Chega a ser obsceno ver o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal, padre Agostinho Jardim Moreira, afirmar que já ficaria «contente» se os actuais níveis de pobreza se mantivessem, enquanto manifesta o seu apoio ao roubo de metade do subsídio de Natal e diz não ver possibilidades de o Governo «diminuir a pobreza» (agência Ecclesia, 11 Julho 2011).
Não ocorre a nenhuma destas tão católicas personalidades que o Governo podia impor uma taxa efectiva de 25% à banca; tributar de forma agravada os bens de luxo; aplicar uma taxa, mesmo baixa às transacções bolsistas; tributar as transferências para paraísos fiscais que lesam o orçamento do Estado; impor uma taxa mais elevada às empresas com mais de 50 milhões de euros de lucros. Não. Tais ideias só passam pela cabeça dos comunistas, os tais que não se conformam com o facto de o rendimento dos 20% da população com maiores recursos corresponder a 5,6 vezes o rendimento dos 20% da população com mais baixos recursos, e por isso lutam pelo socialismo.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 1963 de 14.07.2011
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