Fortaleza, 17 março 2009 (Lusa) - Pesquisadores brasileiros e franceses concluíram que o caju é uma rica fonte de carotenóides, moléculas com propriedades pró-vitamínicas e que fornecem um pigmento amarelo, de grande valor para a indústria mundial de alimentos.
O CAC (Corante Amarelo de Caju), encontrado no resíduo da fruta após a extração do sumo, substituiria o tartrazina que, mesmo autorizado para uso em remédios e alimentos, enfrenta restrições em alguns países.
“O mercado mundial de carotenóides, usados como composto nutricional/funcional e, como corante natural, movimenta cerca de US$ 1 bilhão e cresce 2,9% ao ano”, informou à Lusa Fernando António Pinto de Abreu, engenheiro de alimentos da Embrapa Agroindústria Tropical.
No estudo, a Unidade do Ceará da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, com sede em Fortaleza, trabalhou em parceria com o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), da França.
A pesquisa indica que não há no mercado de corantes naturais um outro que confira a coloração amarelo além do caju.
Para obter a concentração e purificação de carotenóides do resíduo do caju, a técnica utilizada é a de microfiltração em membranas cerâmicas, “que mantém maximizada sua atividade e a integridade das moléculas trabalhadas".
Abreu observou que a tendência mundial por uma alimentação sadia tem levado diversos países a restringir o uso de corantes artificiais nos alimentos, o que fortalece ainda mais o resultado deste estudo.
“Na Europa, a utilização desses corantes já foi banida, e a previsão é que, em 2010, a proibição chegue aos Estados Unidos”, disse.
Pela sua capacidade antioxidante e de fotoprotecção, o pigmento também serve a indústria cosmética.
O aproveitamento da fibra residual ajudaria ainda a eliminar o problema do lixo industrial de difícil solução para as empresas processadoras.
A apresentação do novo pigmento “com certificação orgânica”, vai decorrer na BioFach, feira de alimentos orgânicos, promovida em São Paulo de 28 a 30 de outubro deste ano, adiantou à Lusa o empresário Fernando Furlani, dono da Sabor Tropical.
Fabricante de 500 mil garrafas de suco clarificado de caju por ano, Furlani está investindo numa unidade-piloto, com equipamento alemão, em condições de produzir a partir de 1000 litros/hora do pigmento, volume que será ajustado de acordo com a procura.
“É um produto concentrado e utilizado na proporção de um por cento por tonelada do produto final”, explicou.
“Estamos deixando de agregar valor ao produto. Dez gramas do purificado de carotenóide, chamado de curcumina, pode chegar a R$ 1 mil, acrescentou Abreu. O corante artificial amarelo-alaranjado para uso em alimentos e bebidas, custaria cerca de R$ 50 o quilo.
Dos estimados 700 mil hectares de área cultivada de caju do Brasil, o Nordeste concentra 95%. A produção atinge cerca de 3.240 toneladas, com 20% de aproveitamento da fruta ou pedúnculo.
O negócio deste produto é dominado pela castanha de caju, que na safra 2007/2008 somou cerca de 325 mil toneladas, conforme fontes do setor.
O estudo do caju como fonte de carotenóides iniciou-se em meados de 2001 na Embrapa de Fortaleza e já teve a solicitação de patente requerida junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Desde 2006, integra o projeto "Agregando valor a frutas tropicais subutilizadas com grande potencial de comercialização", aprovado pelo Programa de Cooperação Internacional em Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da União Europeia, que destinou 1,7 milhão de euros para estudos com nove frutas tropicais, entre as quais açaí, amora silvestre, caju, camu-camu, garambullo, naranjilla.
Participam ainda no programa Alemanha, Bélgica, Inglaterra, Costa Rica, Equador e México.
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