8 dezembro 2014, Jornal Noticias http://www.jornalnoticias.co.mz
(Moçambique)
Redigir-se uma proposta de texto sobre o futuro regime climático no
mundo, a ser aprovado em 2015, é uma das expectativas de Moçambique na XX
Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas (COP20), que decorre na capital
peruana Lima.
A criação e adopção deste documento é tida como de extrema
importância nos esforços globais de combater as alterações do clima e um passo
gigantesco para a COP 21, reunião que terá a missão de aprovar o texto e criar
mecanismos para o seu cumprimento.
Neste documento,
segundo dados a que tivemos acesso, deve ainda
estar contida informação sobre a contribuição que cada um dos países dará para
reduzir a emissão de poluentes, sanando-se, ao mesmo tempo, uma lacuna
relacionada com a quantidade de gases de efeito de estufa que deverão ser
diminuídas.
A questão, agora, é saber se passará de oito para 12 Giga-gramas.
Contudo, já se sabe que a informação sobre a contribuição destes países na
redução de emissões deve ser submetida à Convenção Quadro das Nações sobre
Mudanças Climáticas até ao primeiro trimestre de 2015.
Este maior compromisso surge no âmbito da Emenda de Doha ao
Protocolo de Quioto e dos mecanismos estabelecidos pela “Convenção”0, que
pretende focar os países desenvolvidos que não são “Partes do Quioto”.
Dados em poder do nosso Jornal dão conta que, em face da sua
vulnerabilidade às mudanças climáticas, por se tratar de um país menos desenvolvido,
Moçambique quer ver também avanços nas negociações que permitam a adopção e
implementação de mecanismos que possam estabilizar e reverter as actuais e
projectadas tendências crescentes de emissões de gases de efeito de estufa.
Por outro lado, é desejo do nosso país que, em Lima sejam
fortalecidas e operacionalizadas as decisões que permitam que as nações em vias
de desenvolvimento, particularmente, as africanas, as menos desenvolvidas e as
pequenas ilhas fortaleçam as suas capacidades de lidarem com os actuais e
projectados impactos das mudanças climáticas.
A visão de Moçambique é a de que, paralelamente a isso devem
continuar a receber apoios necessitários para que possam contribuir na
mitigação das emissões globais, particularmente as provenientes do desmatamento
e degradação florestal. Os países devem também identificar e implementar acções
de mitigação de emissões noutros sectores, desde que as mesmas contribuam para
a redução da pobreza, maior acesso a energias limpas e seguras, exploração eficiente
e sustentável dos recursos naturais, redução da dependência a combustíveis
fósseis importados, redução da degradação ambiental, entre outros.
Entretanto, o “Notícias” soube ainda que a chefe da delegação
moçambicana neste evento, a Ministra para a Coordenação da Acção Ambiental
(MICOA), Alcinda de Abreu, chega hoje à Lima, onde vai participar na reunião de
alto nível, envolvendo Chefes de Estado e de Governo, personalidades e
cientistas que trabalham nesta matéria.
Para além de Alcinda de Abreu e quadros do pelouro do Ambiente,
compõem a delegação moçambicana técnicos das áreas de Gestão de Calamidades,
Planificação e Desenvolvimento, Finanças, Recursos Minerais, Ciência e
Tecnologia, Meteorologia, e Negócios Estrangeiros e Cooperação.
Fundamentalmente, a COP20 tem como objectivo avaliar a
implementação das decisões adoptadas nas Conferências anteriores relativas a
adaptação, mitigação das mudanças climáticas, incluindo os meios de
implementação (finanças, tecnologia e capacitação).
Pretende ainda prosseguir com as negociações, no âmbito da
Plataforma de Durban, na qual são considerados o futuro regime internacional
das mudanças climáticas, a ser adoptado em Dezembro de 2015, em Paris, na
França, e a necessidade de tornar ambiciosas as metas de redução de emissões
até o ano 2020 visando manter o aumento de temperatura abaixo dos dois graus Célsius.
“O evento reveste-se de uma especial importância por fazer parte do
processo de negociação de um novo acordo mundial sobre o clima, cujas
discussões iniciaram oficialmente na COP17 realizada em Durban, em Novembro de
2011. Conforme a decisão tomada nesse evento, as negociações deverão ser
concluídas até Dezembro de 2015, para permitir que o acordo entre em vigor em
2020”, soube o nosso Jornal de fonte da delegação.
Por que 2014 pode ser ano mais quente da história?
Segundo a WMO (World Meteorological Organization), o cenário se
deve sobretudo às temperaturas recordes registradas na superfície dos mares
globais
A Organização Mundial de Meteorologia, sob a égide da ONU, advertiu
que o ano de 2014 caminha para ser o mais quente da história desde o início das
medições. Nos dez primeiros meses do ano, a temperatura global média do ar foi
0,57ºC acima da média de longo prazo.
Se esta tendência for registada também nos dois últimos meses do
ano, 2014 superará 1998, 2005 e 2010 (por uma pequena margem) como o ano mais
quente.
O ano foi também de extremos: seca extrema e falta de água em
algumas partes do mundo e fortes chuvas e inundações inesperadas em outras.
Mas o que pode estar por detrás de um ano tão quente e quais as
implicações disso? Segundo a OMM, o cenário deve-se sobretudo às temperaturas
recordes registadas na superfície dos mares globais.
Em geral, anos excepcionalmente quentes costumam ser associados à
influência temporária do fenómeno climático conhecido como El Niño -- que
ocorre quando temperaturas da superfície marítima acima da média no leste
tropical do Pacífico somam-se num ciclo que se retroalimenta perpetuamente -- a
sistemas de pressão atmosférica. E isso pode afectar padrões climáticos.
O curioso, porém, é que as altas temperaturas de 2014 ocorreram
mesmo na ausência de um El Niño no Oceano Pacífico. Durante o ano, as
temperaturas da superfície dos mares globais subiram a níveis semelhantes ao
que teriam com o fenómeno, sem que ele chegasse a desenvolver-se plenamente.
Além disso, existem as tendências relacionadas à temperatura
global: ainda que elas se tenham estabilizado parcialmente nos 15 anos
anteriores a 2013 (depois de terem aumentado fortemente a partir dos anos
1970), muitos estudos vêem uma relação entre essa "pausa" e a
absorção de calor pelos oceanos.
As altas temperaturas das superfícies oceânicas no Pacífico e em
outras partes das águas do mundo podem indicar que essa "pausa" está
chegando ao fim, mas não há provas concretas para garantir isso. Os
especialistas climáticos dizem ser necessário mais de um ano quente para
perceber essa eventual tendência.
Anos quentes
Mas outra tendência já observada é a de que estamos a entrar numa
era em que recordes de temperatura devem se tornar cada vez mais comuns.
No entanto, isso não necessariamente significa que cada ano será
mais quente que o anterior - ainda que essas altas temperaturas estejam
inseridas em um contexto de aquecimento global, mudanças climáticas e
influência humana.
É possível que se passem alguns anos até que tenhamos um novo
recorde de temperatura; e o aquecimento global pode apressar ou retardar esse
efeito no curto prazo.
Sendo assim, o que faz um ano ser mais quente que seu antecessor? A
resposta depende de vários fatores.
Grandes erupções vulcânicas, por exemplo, podem causar um declínio
temporário nas temperaturas graças ao reflexo da luz do Sol resultante de
partículas atmosféricas. Isso aconteceu, por exemplo, após a erupção do Monte
Pinatubo, nas Filipinas, em 1991.
Flutuações no oceano também podem causar esses altos e baixos
temporários.
Só que, ao mesmo tempo, é em regiões terrestres e no Ártico que as
temperaturas médias mais aumentaram.
Francisco Manjate, em
Lima
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