segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Moçambique/RENAMO MONTA “TEATRO DE TERROR” SEMPRE QUE PERDE ELEIÇÕES -- CHISSANO

28 novembro 2014, Rádio Moçambique http://www.rm.co.mz (Moçambique)
Chissano: “Atitudes da Renamo visam básica e fundamentalmente garantir a sua sobrevivência”

As estratégias para assegurar a sobrevivência de um partido político não devem consistir num “teatro de terror”, na forma de intimidação a um Estado, para impor a sua vontade, porque ao invés de alargar a sua audiência e prestígio vão, pelo contrário, contribuir para o seu progressivo descrédito.

A acepção foi expressa pelo ex-presidente moçambicano, Joaquim Chissano, que
considera infundadas as alegações da Renamo, maior partido da oposição em Moçambique. A semelhança dos pleitos anteriores, a Renamo alega que as 5ª eleições multipartidárias havidas em Outubro último no país foram fraudulentas.

Segundo Chissano, a atitude tomada pela Renamo visa básica e fundamentalmente garantir a sua sobrevivência, na sequência dos fracassos que tem conhecido e, por conseguinte, o risco de ser suplantado.

Na óptica do antigo estadista, vezes houve em que as suas acções teatrais foram encenadas com o intuito de ganhar alguma audiência e prestígio político reflectidos nos resultados finais do último escrutínio.

Referira-se que, depois de perder 41 mandatos na Assembleia da República, o parlamento moçambicano, nas penúltimas eleições, a Renamo agora está recuperada depois de conseguir os actuais 89 assentos. Para Chissano, a recuperação dos assentos perdidos resulta desse “golpe teatral” que aquele partido da oposição usou onde aparece como vítima, condescendente e flexível.

“É como provocar barulho e depois vir a acalmar essa agitação e não parecer que foi o próprio autor dessa agitação”, disse Chissano, acrescentando que na óptica das pessoas incapazes de compreender e muito menos de ver a verdadeira razão acabam achando que “eles são homens de paz”.

Apesar de tentar reabilitar e recuperar a sua imagem, “os moçambicanos viram como o ex-movimento rebelde durante a fratricida e sangrenta guerra dos 16 anos voltou a preparar os seus quartéis anunciados, situação que levou o governo tomar algumas precauções para não agir quando as coisas estivessem muito mal”.

“Apareceram aqueles primeiros ataques a uma esquadra em Muxúnguè, e na sequência dessa tentativa do governo de parar essa preparação militar que estava a ser iniciada, devo dizer que foi com algum sucesso, porque a Renamo teve sempre homens armados, treinados, bem como desmobilizados que foram reequipados e não dependia de pessoas a serem treinadas de raiz, era um reagrupamento que estava a fazer”, explicou Chissano.

A Renamo, segundo Chissano, declarou que desta vez seria impossível o governo fazer fraude, porque estava bem organizada, com todas as suas exigências cumpridas, feito que os tornou em um partido forte que pode impor a sua vontade ao governo. A prova disso, foram as alterações na composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE), no Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), coisa rara de encontrar em países, pois esses órgãos não são partidarizados, porque a administração das eleições pertence a um órgão do Estado, mas aqui tudo foi dado para garantir maior transparência, e mais do que isto seria quase impossível encontrar.

“A sua representatividade foi em número suficiente nestes órgãos e eles próprios ficaram tão satisfeitos a ponto de terem declarado que iriam ganhar as eleições, porque as condições que eles exigiam estavam criadas”, disse Chissano.

No entanto, quando eles vêm alegar hoje que “houve fraude massiva que dá uma diferença tão grande entre o vencedor e o vencido, eles próprios não acreditam, de facto, no que estão a dizer porque não é possível que sejam tão cegos para serem enganados dessa forma”.

“Eles sabem que perderam, acreditam que perderam, mas devem sair fora para limpar a cara para aparecerem as vítimas de novo, para que as pessoas os implorem para não fazer mal”, disse Chissano, para quem a Renamo está habituada a essas coisas, acreditando que haverá gente que vai tentar segurar o seu braço, ombro, pedindo favores para que não façam isso e, por conseguinte, se tornam importantes, porquanto esse é o objectivo dessa farsa toda.

No entanto, Chissano lamenta o facto de a maioria das pessoas não fazer este tipo de análises o que aumenta esta propensão da Renamo recorrer a intimidação para tentar conquistar as suas ambições, mesmo utilizando armas, “mas isso tem de acabar”.

O ex-estadista moçambicano apontou, por outro lado, o desarmamento que é preciso fazer e, na sua óptica, não sabe o que mais vai exigir a Renamo antes de aceitar desmilitarizar porque aquele antigo movimento rebelde sempre exigiu algo mais do que já foi negociado. Como exemplo citou a presença de observadores militares estrangeiros que já se encontram no país, mas a Renamo aparece sempre com novas tácticas para tentar evitar o desarmamento.

Desta feita, o governo deve manter a sua atitude, mesmo sabendo destas coisas todas, porque o desejo dos moçambicanos é evitar quaisquer baixas entre a população ou em propriedades, porque afinal a propriedade do Estado é da população e a Renamo quando destrói coisas não se lembra disso, que são os impostos das pessoas que contribuíram e construíram os bens.

“Muita gente da Renamo orgulha-se de ter feito curso superior, mas estudou em universidades do Estado e mesmo as universidades privadas existentes no país foram possibilitadas pela governação existente no país, mas eles se esquecem disso”, sublinhou Chissano.

O ex-presidente disse ainda que “eles comem porque há camponeses que produzem, mas são esses camponeses que eles matam”.

Existem no país camionistas que transportam produtos de um lado para o outro, desde o material de construção, até de estradas que muitas vezes, segundo Chissano, ficam paralisadas porque há ataques e no fim os prejuízos recaem sobre a população.

O político não descarta a possibilidade de a Renamo ter outros objectivos e insistir na tomada de poder pela força, mas o líder da Renamo já disse que era um absurdo haver um governo de unidade nacional, mas sim um “governo de gestão” que, na sua óptica, ele terá de explicar bem a sua essência, mas tudo indica que ele quer um lugar. (RM/AIM)


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