28 novembro 2014, Rádio
Moçambique http://www.rm.co.mz
(Moçambique)
Chissano: “Atitudes da
Renamo visam básica e fundamentalmente garantir a sua sobrevivência”
As estratégias para
assegurar a sobrevivência de um partido político não devem consistir num
“teatro de terror”, na forma de intimidação a um Estado, para impor a sua
vontade, porque ao invés de alargar a sua audiência e prestígio vão, pelo contrário,
contribuir para o seu progressivo descrédito.
A acepção foi expressa
pelo ex-presidente moçambicano, Joaquim Chissano, que
considera infundadas as
alegações da Renamo, maior partido da oposição em Moçambique. A semelhança dos
pleitos anteriores, a Renamo alega que as 5ª eleições multipartidárias havidas
em Outubro último no país foram fraudulentas.
Segundo Chissano, a
atitude tomada pela Renamo visa básica e fundamentalmente garantir a sua
sobrevivência, na sequência dos fracassos que tem conhecido e, por conseguinte,
o risco de ser suplantado.
Na óptica do antigo
estadista, vezes houve em que as suas acções teatrais foram encenadas com o
intuito de ganhar alguma audiência e prestígio político reflectidos nos
resultados finais do último escrutínio.
Referira-se que,
depois de perder 41 mandatos na Assembleia da República, o parlamento
moçambicano, nas penúltimas eleições, a Renamo agora está recuperada depois de
conseguir os actuais 89 assentos. Para Chissano, a recuperação dos assentos
perdidos resulta desse “golpe teatral” que aquele partido da oposição usou onde
aparece como vítima, condescendente e flexível.
“É como provocar
barulho e depois vir a acalmar essa agitação e não parecer que foi o próprio
autor dessa agitação”, disse Chissano, acrescentando que na óptica das pessoas
incapazes de compreender e muito menos de ver a verdadeira razão acabam achando
que “eles são homens de paz”.
Apesar de tentar
reabilitar e recuperar a sua imagem, “os moçambicanos viram como o ex-movimento
rebelde durante a fratricida e sangrenta guerra dos 16 anos voltou a preparar
os seus quartéis anunciados, situação que levou o governo tomar algumas
precauções para não agir quando as coisas estivessem muito mal”.
“Apareceram aqueles
primeiros ataques a uma esquadra em Muxúnguè, e na sequência dessa tentativa do
governo de parar essa preparação militar que estava a ser iniciada, devo dizer
que foi com algum sucesso, porque a Renamo teve sempre homens armados,
treinados, bem como desmobilizados que foram reequipados e não dependia de
pessoas a serem treinadas de raiz, era um reagrupamento que estava a fazer”,
explicou Chissano.
A Renamo, segundo
Chissano, declarou que desta vez seria impossível o governo fazer fraude,
porque estava bem organizada, com todas as suas exigências cumpridas, feito que
os tornou em um partido forte que pode impor a sua vontade ao governo. A prova
disso, foram as alterações na composição da Comissão Nacional de Eleições
(CNE), no Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), coisa rara de
encontrar em países, pois esses órgãos não são partidarizados, porque a
administração das eleições pertence a um órgão do Estado, mas aqui tudo foi
dado para garantir maior transparência, e mais do que isto seria quase
impossível encontrar.
“A sua representatividade
foi em número suficiente nestes órgãos e eles próprios ficaram tão satisfeitos
a ponto de terem declarado que iriam ganhar as eleições, porque as condições
que eles exigiam estavam criadas”, disse Chissano.
No entanto, quando
eles vêm alegar hoje que “houve fraude massiva que dá uma diferença tão grande
entre o vencedor e o vencido, eles próprios não acreditam, de facto, no que
estão a dizer porque não é possível que sejam tão cegos para serem enganados
dessa forma”.
“Eles sabem que perderam,
acreditam que perderam, mas devem sair fora para limpar a cara para aparecerem
as vítimas de novo, para que as pessoas os implorem para não fazer mal”, disse
Chissano, para quem a Renamo está habituada a essas coisas, acreditando que
haverá gente que vai tentar segurar o seu braço, ombro, pedindo favores para
que não façam isso e, por conseguinte, se tornam importantes, porquanto esse é
o objectivo dessa farsa toda.
No entanto, Chissano
lamenta o facto de a maioria das pessoas não fazer este tipo de análises o que
aumenta esta propensão da Renamo recorrer a intimidação para tentar conquistar
as suas ambições, mesmo utilizando armas, “mas isso tem de acabar”.
O ex-estadista
moçambicano apontou, por outro lado, o desarmamento que é preciso fazer e, na sua
óptica, não sabe o que mais vai exigir a Renamo antes de aceitar desmilitarizar
porque aquele antigo movimento rebelde sempre exigiu algo mais do que já foi
negociado. Como exemplo citou a presença de observadores militares estrangeiros
que já se encontram no país, mas a Renamo aparece sempre com novas tácticas
para tentar evitar o desarmamento.
Desta feita, o governo
deve manter a sua atitude, mesmo sabendo destas coisas todas, porque o desejo
dos moçambicanos é evitar quaisquer baixas entre a população ou em
propriedades, porque afinal a propriedade do Estado é da população e a Renamo
quando destrói coisas não se lembra disso, que são os impostos das pessoas que
contribuíram e construíram os bens.
“Muita gente da Renamo
orgulha-se de ter feito curso superior, mas estudou em universidades do Estado
e mesmo as universidades privadas existentes no país foram possibilitadas pela
governação existente no país, mas eles se esquecem disso”, sublinhou Chissano.
O ex-presidente disse
ainda que “eles comem porque há camponeses que produzem, mas são esses
camponeses que eles matam”.
Existem no país
camionistas que transportam produtos de um lado para o outro, desde o material
de construção, até de estradas que muitas vezes, segundo Chissano, ficam
paralisadas porque há ataques e no fim os prejuízos recaem sobre a população.
O político não
descarta a possibilidade de a Renamo ter outros objectivos e insistir na tomada
de poder pela força, mas o líder da Renamo já disse que era um absurdo haver um
governo de unidade nacional, mas sim um “governo de gestão” que, na sua óptica,
ele terá de explicar bem a sua essência, mas tudo indica que ele quer um lugar. (RM/AIM)
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