22 dezembro 2014, Odiario.info
http://www.odiario.info (Portugal)
Passou pouco mais de uma semana sobre a realização
deste Encontro. Mas verificaram-se desde então importantes acontecimentos que
dizem respeito à zona do Caribe em particular. Acontecimentos que exigem não o
afrouxamento mas o reforço da solidariedade com Cuba, com a Venezuela, com
todos os países e povos da América Latina que conduzem uma árdua luta
anti-imperialista.
Hoje mais
que nunca a humanidade vive assédios e agressões de tal magnitude que põem em
grave perigo a existência da nossa espécie. O próprio planeta chegou ao limite
de sua capacidade para a reprodução da vida. Tal como já afirmara há dez anos o
Comandante Chávez, no seu discurso de instalação do primeiro encontro mundial
da nossa rede: Existe um caminho de destruição da vida e outro de salvação da
humanidade.
Esse
caminho de destruição da vida e da espécie humana é o que está seguindo o
sistema capitalista mundial, cuja crise se aprofundou nos dez anos
transcorridos. A mundialização neoliberal conduziu a uma disputa selvagem de
recursos naturais e estratégicos através da guerra, da militarização das
sociedades e das economias, da violação crescente e sistemática do direito
internacional, cujas sequelas de
crimes, violências, sequestros, torturas e
massacres estão à vista. Hoje em dia, o orçamento militar da principal potência
imperialista, Estados Unidos, ultrapassa a soma do resto dos países nesta área.
A repressão e criminalização planetária das resistências vai a par de uma
ditadura mediática que pretende adormecer consciências e justificar saques.
Não
obstante esta voragem destruidora desencadeada pelo capital, os povos têm
sabido resistir e construir alternativas, contra as quais se dirige a sanha do
sistema de dominação. Trata-se, hoje como ontem, de continuar assumindo e
multiplicando a estratégia ofensiva em defesa da humanidade, como propugnou
Chávez.
Na
América Latina, durante esta década, os povos originários e afro descendentes,
através dos seus movimentos e processos autonómicos, fortaleceram o seu
protagonismo político e tornaram-se importantes sujeitos de transformação
social. Apesar das políticas entreguistas dos governos neoliberais, os povos
latino-americanos estão resistindo ao despojo dos seus territórios, saberes,
culturas e biodiversidade por parte das corporações transnacionais da morte e
da devastação ambiental.
Em vários
países desta região os povos avançaram na sua vocação democrática, que se
expressa em sustentadas vitorias eleitorais de governos anti neoliberais, e nas
variadas formas de construção de poder popular, que têm sido e são as marcas
identitárias de um novo tipo de democracia participativa.
Na
Venezuela, Bolívia e Equador, assembleias constituintes expressaram a vontade
de estabelecer Estados antioligárquicos, baseados no poder e na soberania do
Povo, e no reconhecimento da diversidade e de todas as formas da inclusão
social.
Durante
estes dez anos, a nossa Rede tem sido testemunha de grandes vitórias
continentais. Um feito histórico, para a região e o mundo, foi mandar para o
diabo a ALCA, como coloquialmente o celebrou Chávez na ocasião de Mar del
Plata, Argentina, no ano 2005. A partir desta ofensiva emancipadora dos povos
emergem no concerto dos países latino-americanos ALBA, UNASUR, CELAC,
PETROCARIBE e uma diversidade de acordos bilaterais no exercício pleno da sua
soberania e à margem da tutela imperial.
Fomos
neste período testemunhas de como se configurou em factos a visão
geoestratégica de Chávez: a emergência de um mundo pluripolar, que é o início
da quebra da hegemonia estado-unidense. Está todavia em formação o projecto
Sul-Sul, que defenderá e desenvolverá a parte mais fragilizada da humanidade.
Não
obstante, nesta década, o imperialismo colectivo encabeçado pelos Estados
Unidos tem por sua parte intensificado a sua política belicista e contra
insurgente no âmbito planetário. O presidente Obama, paradoxalmente distinguido
com o Premio Nobel da Paz, redobrou a presencia e acção das Forças Especiais do
seu exército em numerosos países, aumentou o sequestro extraterritorial e a
tortura de milhares de cidadãos recluídos em prisões clandestinas, sem o devido
processo judicial. O país que unilateralmente se arroga o direito de atestar
supostas violações de direitos humanos em Cuba e Venezuela é um confesso
praticante de tortura e execuções extrajudiciais com drones e equipas de
assassinos ao seu serviço. O presumido paladino da liberdade de expressão e dos
direitos dos cidadãos à privacidade é a matriz de um demencial programa
planetário de espionagem e o patrocinador de uma guerra mediática-cultural que
inclui uma indústria de entretenimento que inocula anti-valores e
anti-humanismo.
Nessa
guerra planetária, os Estados Unidos não têm escrúpulos em contratar cientistas
sociais de diversas disciplinas para realizar investigações com fins militares
e corporativos nos nossos países, associando-se com universidades, oferecendo
fundos, bolsas e incentivos académicos com os quais converte em mercenários a
não poucos cientistas e investigadores. Na intelectualidade ao serviço do
império destacam-se aqueles que se reúnem em torno de Uribe e Aznar para
alimentar um pensamento neofascista mascarado de liberal, cuja concretização se
expressa em banditismo, guerra psicológica e campanhas mediáticas.
O chamado
crime organizado, como outra corporação capitalista mais, invade territórios,
corpos, governos e estados, tem cobrado protagonismo regional e mundial, à
medida que a economia mafiosa integra uma percentagem importante do produto
interno bruto dos nossos países. A suposta luta contra o narcotráfico e o
terrorismo constitui uma nova estratégia de despojo, despovoamento e
recolonização de países, com alto custo de vidas humanas que são consideradas
como descartáveis pelo capital. Ayotzinapa sintetiza os agravos cometidos pelo
império e a oligarquia local contra o México, e é também o modelo de dominação
que não queremos para a humanidade imposto pelo neoliberalismo. A voz do povo
levantou-se nas ruas e ouviu-se um grito acusador: ¡foi o Estado!
A Rede de
Intelectuais, Artistas e Movimentos Sociais em Defesa da Humanidade nasceu
inspirada pelas ideias de Fidel Castro e Hugo Chávez, com uma projecção
martiana e bolivariana de unidade latino-americana e caribenha e de uma clara
adesão aos princípios del anti-imperialismo, do anti capitalismo, do
anticolonialismo e do socialismo.
Cuba,
cuja resistência e projecto socialista nem nos momentos mais dramáticos e
difíceis cederam perante os Estados Unidos, foi e é fonte de alento e
esperança, sem a qual teria sido muito mais difícil a mudança de época na Nossa
América. Isso explica em grande parte que continue submetida ao cruel bloqueio
e aos planos desestabilizadores que o império agora alargou à Venezuela.
Daí que
os membros da Rede consideramos fundamental denunciar enfaticamente e
manifestar o nosso repúdio pelas declarações ingerencistas do governo dos
Estados Unidos, quando pretende aplicar sanções contra o povo e o governo
revolucionário e socialista da República Bolivariana de Venezuela. Fazemos
nossas as palavras de Chávez, que o presidente operário Nicolás Maduro fez
também suas: ”! Respeito pela Venezuela! ¡Já basta de agressões e mentiras! Já
basta de ameaças e intervencionismos!”
Defender
a Venezuela é prioridade histórica y estratégica, tal como o é apoiar o presidente
Maduro, um estadista surgido desta revolução chavista.
A rede
expressa a sua ternura solidaria e fraterna às vítimas do banditismo, aos seus
familiares, e ao povo que tem suportado sabotagens, insultos, falacias e
humilhações, bem como os custosos danos económicos provocados pelos
neofascistas.
A Rede
solidariza-se com o povo dos Estados Unidos nas suas mobilizações contra o
racismo, a repressão e a brutalidade policial, o encarceramento de
manifestantes, a criminalização dos dirigentes, e na sua luta contra a
crescente pobreza que o mesmo povo sofre, vitimado pelas mafias bancarias e
pelo infame e demencial negócio da guerra impulsionado pelo seu governo.
A rede
apoia as lutas indígenas-camponesas de todos os continentes do Sul contra as
corporações mineiras, petroleiras, eólicas, hídricas, farmacêuticas, turísticas
e do agro-negócio, que pretendem desalojá-los, desapossá-los e condená-los
finalmente à morte, ao mesmo tempo que destroem os ecossistemas.
Reclamamos
medidas concretas para a salvação da Selva Amazónica em perigo de profunda
degradação, medidas que apenas os países da América del Sul podem levar a cabo
num esforço de integração.
Manifestamos
a nossa mais profunda solidariedade com os povos de a França, estabeleceram no
seu território mecanismos de violência estrutural África, continente onde o
colonialismo e o imperialismo foram e são mais agressivos, através da
escravatura. Denunciamos que as grandes potências, e em particular e simbólica.
A Rede
apoia com profunda esperança o processo de paz entre o governo colombiano e a guerrilha
das FARC-EP, em Havana, Cuba, e apela ao rápido início de diálogo com o ELN. A
paz é uma aspiração sentida não apenas do povo de Colômbia, mas de todos os
povos.
Solidarizamo-nos
com a luta pela independência de Porto Rico e reclamamos a libertação do
patriota Oscar López Rivera.
Apoiamos
firmemente a Argentina na sua reivindicação histórica da soberania sobre as
ilhas Malvinas. Repudiamos, igualmente, as operações financeiras especuladoras
dos chamados “fundos abutres” e o aparelho judicial seu cúmplice. Exigimos o
esclarecimento das operações bancarias que através da banca argentina saquearam
as divisas para contas no exterior.
Apoiamos
a justa exigência do povo boliviano ante a Corte Penal Internacional por uma
saída soberana para o mar. Reiteramos o repúdio aos Estados europeus pelos
maus-tratos que o presidente Evo Morales sofreu na sua viagem à Europa, que
puseram em perigo a sua vida e as dos que o acompanhavam.
Exigimos
que cesse o bloqueio contra Cuba, reclamação apoiada pela quase totalidade dos
países do mundo, bem como a liberdade dos três patriotas cubanos
antiterroristas que permanecem há 16 anos nos cárceres estado-unidenses.
Declaramo-nos contra qualquer tentativa desestabilizadora en território cubano
por parte dos Estados Unidos e das suas agências. Reclamamos o encerramento da
Base militar de Guantánamo e dos centros de tortura nesse território e em
outros lugares do mundo.
Fazemos
nossas as palavras de condenação do presidente Mel Zelaya, participante na
nossa reunião, contra o terrorismo de Estado e o uso da violência do crime
organizado contra o povo de Honduras e, em particular, contra a oposição ao
governo pró-estado-unidense que aumentou a presença de bases militares no seu
território.
Apoiamos
a luta popular no Haiti e a reivindicação da sua soberania face à ocupação
militar.
Subscrevemos
as palavras de Chávez relativas ao conflito no País Basco, no sentido de que o
fim da luta armada “abra os caminhos da paz.” Do mesmo modo, subscrevemos o
nosso apoio ao direito de autodeterminação dos povos no Estado Espanhol, no
quadro de um processo de democratização.
Solidarizamo-nos
com a lucha dos jovens chilenos reivindicando uma educação pública, gratuita e
laica, reivindicação que é extensiva a toda a Nossa América.
Reiteramos
a exigência histórica de reconhecimento do Estado Palestino e repudiamos os
ataques militares e o assédio repressivo de Israel contra este povo.
En suma,
o nosso desafio fundamental é a procura de um novo paradigma da vida colectiva
da humanidade no planeta, uma vez que as regulações do sistema capitalista não
foram suficientes para encontrar soluções para garantir o futuro da Mãe Terra e
da espécie humana.
Por isso,
saudamos a criação do Centro de Altos Estudos do Pensamento e acção de Hugo
Chávez, que contribuirá, sem dúvida, para construir esse paradigma. Ou
inventamos ou erramos.
Ao
finalizar o nosso encontro, os membros da Rede de Intelectuais, Artistas e
Movimentos Sociais reunidos na capital da Venezuela, constatámos que se
equivocaram e foram derrotados pelo povo aqueles que pensavam que a revolução
bolivariana cairia após a desaparição física do presidente Chávez, e se
empenharam a fundo para que assim sucedesse. Apesar das dificuldades, podemos
afirmar que l revolução está mais viva do que nunca!
Viva
Chávez, Viva Nicolás Maduro, Viva o povo venezuelano.
Caracas,
República Bolivariana de Venezuela, a 12 de Dezembro de 2014.
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