20
dezembro 2014, http://redecastorphoto.blogspot.com.br (Brasil)
·
Análise: certa.
·
Resposta ao ocidente: certa
·
Putin cool impecável
19/12/2014, Pepe Escobar*, RT – Russia Today
Traduzido
pelo pessoal da Vila Vudu
Embora
enfrente o que, analisada sob sejam quais forem as circunstâncias, é uma
tempestade perfeita, o presidente Putin teve desempenho extremamente
equilibrado na sua maratona anual de conferência e sessão de perguntas e
respostas com a imprensa.
A
tempestade perfeita desdobra-se em dois fronts:
uma guerra econômica aberta – com o país sendo sitiado por sanções; e um ataque
de sombras, preparado, urdido, clandestino, contra o coração da economia russa.
O objetivo de Washington é claro: quer minar o adversário, serrar-lhe os
caninos, para forçá-lo a curvar-se humilhado ante os desejos do Empire
of Chaos.
E sem parar de vangloriar-se de que esse seria o caminho para a “vitória” de Washington.
A
dificuldade é que Moscou decifrou com acerto impecável o jogo – já bem antes,
quando Putin,
no Clube Valdai,
pôs o dedo na doutrina Obama:
(...)
é como se nossos parceiros ocidentais, os próprios pais de teorias do caos
controlado não soubessem o
que fazer da própria criatura.
Assim
sendo, é claro que Putin já tinha ferramentas para
compreender o ataque monstro
de caos controlado, dessa semana. O Império tem massivo poder de dinheiro;
muita influência sobre o PIB de US$ 85 trilhões do mundo, e o poder dobanking [da bankerada] por trás disso tudo.
Assim sendo, nada mais fácil que usar esse poder mediante os sistemas de banking privado que realmente controlam os
bancos centrais, para criar uma corrida contra o rublo. O sonho do“Empire of
Chaos” é, pode-se dizer,
derrubar o rublo até que tenha caído 99%. A economia russa terá sido convertida
em destroços. Que melhor meio para impor à Rússia a tal “disciplina imperial”?
A
opção “nuclear”
A
Rússia vende petróleo denominado em dólares norte-americanos ao ocidente. A
empresa Lukoil, por exemplo, tem de receber um crédito em dólares
norte-americanos, num banco norte-americano, para pagar pelo petróleo que os
russos vendem. Se a Lukoil tem de receber rublos, então o comprador tem de
vender os dólares que tenha depositados e comprar correspondentes créditos em
rublos para abastecer a própria conta bancária. Isso, de fato, apoia o rublo. A
questão é se Lukoil, Rosneft e Gazprom estão acumulando dólares
norte-americanos no exterior e segurando os dólares. A resposta é não. E o
mesmo se aplica a outros negócios russos.
A
Rússia não está “perdendo suas poupanças” como gargareja a
imprensa-empresa ocidental. A Rússia sempre pode exigir que empresas
estrangeiras mudem-se para a Rússia. A Apple, por exemplo, pode abrir uma
unidade fabril na Rússia. Os recentes negócios firmados entre Rússia e China
incluem construção de fábricas chinesas na Rússia. Com um rublo depreciado, a
Rússia pode forçar fábricas que foram deslocadas para a União Europeia, a se
instalarem na Rússia; é isso, ou essas empresas perdem o mercado. É verdade que
Putin, de certa maneira admitiu que a Rússia deveria já ter feito há muito
tempo o que só agora fez. Agora, o processo – positivo – é inevitável.
E
há uma opção “nuclear” – que Putin nem precisou mencionar. Se a Rússia decide
impor controles sobre o capital e/ou impor um “feriado” no pagamento de enormes
parcelas da dívida que vencerão no início de 2015, o sistema financeiro europeu
conhecerá dias de bombardeio à moda “Choque e Pavor”. Afinal, grande parte dos
financiamentos bancários e privados russos são levantados na Europa.
O
“calote” da Rússia, por ele só, não é a questão. A questão é a conexão com os
bancos europeus. Como me disse um banqueiro de investimentos americano, Lehman
Brothers, por exemplo, derrubou a Europa, praticamente tanto quanto derrubou New York City – por causa dos inter-links. E
Lehman, claro, tinha sede em New York. O que conta é o efeito dominó.
Se
a Rússia servir-se dessa opção “nuclear” financeira, o sistema financeiro
ocidental não conseguirá absorver o choque do calote. O que provaria cabal e
completamente – de uma vez por todas – que os especuladores de Wall Street
construíram um “Castelo de Cartas” tão frágil e corrupto, que a primeira
tempestade que se abater sobre ele o reduz a pó.
À
curta distância
E
se a Rússia faz o calote – e cria a mais alucinada confusão da dívida de US$
600 bilhões, do país? É o cenário que levou os “Masters of the Universe” a
mandar Janet Yellen e Mario Draghi criar créditos nos sistemas de banking para prevenção de “dano indevido”
[orig. “undue damage”] –
como em 2008.
Mas
então a Rússia decide cortar o gás natural e o petróleo para o ocidente
(mantendo normal o fluxo para o oriente). A inteligência russa pode criar
infernonon-stop nas
estações de bombeamento, do Maghreb até o Oriente Médio. A Rússia tem como bloquear
todo o petróleo e todo o gás natural bombeado em todos os “-stões” da Ásia
Central. Resultado: o maior colapso financeiro da história. E fim da panaceia
excepcionalista do “Empire of
Chaos”.
Claro
que esse é cenário de apocalipse. Mas não provoquem o urso; ursos são muito
rápidos.
Putin falou com tanta
segurança, tão calmo, tão concentrado – sempre interessado em expor
detalhadamente cada ponto – naquela conferência de imprensa, porque ele sabe
que Moscou pode mover-se com total autonomia. Claro que, sim, é guerra
assimétrica contra um império que está desabando, perigoso. O que pensam da
vida aquelas ratazanas intelectualmente subdotadas que enxameiam em torno de
Obama Pato Manco? Que convencerão a opinião pública nos EUA – no mundo – de que
Washington (de fato, só os cachorrinhos europeus) declarará guerra nuclear, a
ser combatida no teatro europeu, em nome do estado falido da Ucrânia?
É
jogo de xadrez. O ataque contra o rublo foi concebido para ser o xeque-mate.
Não é. Nunca seria, jogado por jogador medíocre. E não esqueçam a parceira
estratégica Rússia-China. A tempestade talvez esteja amainando, mas o jogo
continua.
*Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São
Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também
analista de política de blogs e sites como: Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é
correspondente/ articulista das redes Russia Today, The
Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem
ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu
e João Aroldo, no blog
redecastorphoto.
Livros:
Nenhum comentário:
Postar um comentário