2 dezembro 2014, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
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Milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo eu própria, receberam nos
últimos dias uma mensagem simpática do Facebook, informando sobre mudanças na
sua política de dados e de privacidade a partir de 1 de janeiro do próximo
ano. s agradáveis explicações dadas pelos gestores da rede social incluem
novidades como “novos controles para ajudar você a tirar mais partido do
Facebook”; “para melhorar a experiência”; “para tornar mais fácil de
compreender”; “para controlar os anúncios que vê”; exortando também a
“descobrir o que se passa à sua volta”; “e a tornar as compras mais cómodas”.
A mídia generalista escreveu profusamente sobre as novas alterações,
descrevendo as novas funcionalidades, “para ajudar os usuários a controlarem
melhor sua privacidade”.
Mesmo nas questões complexas da publicidade e da geolocalização, a mídia
limita-se a informar que
os usurários poderão controlar os anúncios que querem
ver e que a geolocalização é utilizada para direcionar os anúncios.
“Proteger as informações das pessoas e prover controles significativos
de privacidade são o motor de tudo o que nós fazemos”, diz a empresa.
Na questão difícil de perceber como a rede social utiliza a enorme
quantidade de dados de cada usuário (e a forma como esses dados são
alegadamente vendidos), o Facebook tem uma resposta também agradável:
“"Nós ajudamos os anunciantes a alcançarem as pessoas com anúncios
relevantes sem dizer para eles quem é você”. Podemos, portanto, ficar
descansados.
Tudo parece claro, simples e cor-de-rosa. Mas a verdade não é essa ou,
pelo menos, não é só essa.
Comecemos por alguns detalhes que nem todos conhecem.
Os amigos-fantasma
Você já deve ter reparado que, das centenas de amigos que tem e das
dezenas de páginas de que é fã, só recebe notícias de uma parte deles.
Ultimamente, até parece serem sempre os mesmos. Por isso, o seu círculo de
amigos na verdade está se reduzindo e os temas postados não variam muito. Onde
estão os outros então? Você não recebe posts ou mensagens deles e começa a
duvidar se não terão desaparecido ou simplesmente bloqueado você. Mas não, eles
continuam lá, só que tendem a não aparecer no seu Feed de Notícias. São os
chamados amigos-fantasma.
Por é que isso acontece? Simplesmente, o Facebook decide ele próprio que
as publicações destes amigos não interessam a você. Por outras palavras, faz
uma triagem dos posts exibidos.
Grande parte das publicações dos amigos ou de páginas é excluída do seu
Feed de Notícias. E as poucas que restam também nem todas são mostradas. Há um
segundo nível de triagem, que classifica as publicações que cada usuário pode
ver segundo um complexo algoritmo (o EdgeRank algoritm). De forma resumida,
este mede a relevância dos posts segundo três critérios: a afinidade (quanto
mais um usuário interage com outro, maior é a probabilidade de os posts dele aparecerem
no Feed de Notícias desse usuário); a novidade do post; o tipo de conteúdo
(textos, fotos ou vídeos são tratados de forma diferente, em várias
proporções). Há ainda mais dois critérios, o chamado story bumping (um post
pode voltar a aparecer no seu Feed de Notícias, caso tenha muitos comentários e
você tenha interagido muito com o seu autor) e o last actor (que atribui mais
importância às 50 últimas interações que você fez).
Usuários e acionistas
O Facebook tem vários tipos de público, cujos interesses não parece ser
fácil de conciliar: os usuários, os anunciantes e os acionistas.
Se os simples usuários se mostram frustrados por muitos de seus amigos
“desaparecerem”, as empresas anunciantes ficam simplesmente furiosas com isso,
já que querem chegar a um maior número possível de pessoas.
Quando uma atualização (texto, imagem ou vídeo) é publicada, apenas 16%
dos seguidores a conseguem visualizar.
Para que essa percentagem aumente e alcance os restantes 84%, as
empresas e anunciantes estão dispostas a pagar. Eles fazem-no através de duas
formas de publicidade disponíveis na rede: os Posts Promovidos e as Histórias
Patrocinadas. O objetivo dos Posts Promovidos é alcançar mais pessoas que
gostam de uma determinada página, assim como os seus amigos.
Pode ser promovido qualquer tipo de publicação, incluindo atualizações
de estado, fotos, ofertas, vídeos e perguntas, mediante um preço.
As Histórias Patrocinadas atingem os amigos daqueles que já são
seguidores de uma página e que indicam ter o mesmo tipo de interesses.
Os especialistas em marketing em redes sociais operam com conceitos como
Taxa de Cliques (CTR), Alcance Viral, Alcance Orgânico, etc.
Um estudo publicado em março passado mostra que o alcance, ou seja, o
número de pessoas que o Facebook pode alcançar com suas mensagens, caiu para
metade nos últimos seis meses. "Seria apenas uma questão de tempo antes
que as páginas perdessem toda a visibilidade natural" (leia-se, livre de
pagamento), diz a este respeito o moderador de um site especializado.
Com a última mudança de algoritmo, o Facebook pretende que os seus
principais usuários, sejam empresas ou pessoas individuais, comecem a utilizar
mais regularmente o novo serviço de Posts Promovidos e de Histórias
Patrocinadas. Como compensação para quem o fizer e, logo, se tornar um usuário
pagante, terá maior visibilidade, aumentando a probabilidade de seus conteúdos
serem mais vistos, daí gerando maior retorno. Pelo contrário, quem quiser se
manter como até agora, com utilização gratuita, deverá ter algum tipo de
penalização, que é precisamente ter os seus conteúdos menos visíveis.
Resumindo: se quiser que mais pessoas vejam o que você publica, vai ter
que pagar. Não se esqueça que a rede é uma empresa e, logo, o que mais lhe
interessa é gerar lucro para seus acionistas.
Voz da Rússia
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