5 dezembro
2014, Redecastorphoto http://redecastorphoto.blogspot.com.br
(Brasil)
The Saker, The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila
Vudu
A
Alemanha não conseguiu colonizar a Russia na IIa Guerra Patriótica
Amigos,
A íntegra do discurso do presidente
Putin à Assembleia Federal da Rússia já está disponível online [aqui, em espanhol e
outras línguas] e, como é texto muito longo, não o reproduzirei. Proponho-me
aqui a chamar a atenção de todos para quatro trechos, reproduzidos verbatim daquele
discurso, com algumas passagens chaves assinaladas em negrito.
A maior parte do discurso tratou de
questões econômicas e internas, mas me parece que esses quatro pontos,
especialmente as expressões que Putin escolheu, realmente “contam a história”
da posição do Kremlin, hoje, vis-à-vis o ocidente. Vejam com
os próprios olhos:
1) Crimeia é russa para sempre:
Foi evento de especial significação
para o país e o povo, porque a Crimeia é onde vive nosso povo e a península tem
importância estratégica para a Rússia como fonte espiritual do desenvolvimento
de uma nação russa multifacetada mas sólida e de um estado russo centralizado.
Na Crimeia, na cidade ancestral de Chersonesus ou Korsun, como se lê nos
antigos cronistas russos, que o Grande Príncipe Vladimir foi batizado, antes de
trazer o cristianismo para a Rus.
Além da similaridade étnica, língua
comum, elementos comuns da cultura material, território comum, embora antes não
houvesse fronteiras demarcadas, e nascentes economia e governo comuns, o
cristrianismo foi poderosa força espiritual de unificação que ajudou a envolver
várias tribos e uniões tribais do vasto mundo eslavo oriental na criação de uma
nação russa e de um estado russo. Foi graças a essa unidade espiritual que
nossos antepassados, pela primeira vez, e dali para sempre, viram-se, eles
mesmos, como nação unida. Tudo isso nos autoriza a dizer que a Crimeia,
antiga Korsun ou Chersonesus, e Sevastopol têm inestimável valor
civilizacional, mesmo, sagrado, para a Rússia, como o Monte do Templo em
Jerusalém para os seguidores do Islã e do Judaísmo. E assim será a Crimeia,
para sempre, para nós.
Brigadas
antinazistas femininas da Crimeia (Sinferopol) na IIa. Guerra Patriótica
2) Rússia jamais será colônia da
União Europeia:
Quanto a isso, a Rússia já fez
importante contribuição para ajudar a Ucrânia. Permitam-me reiterar que bancos
russos já investiram cerca de US$ 25 bilhões na Ucrânia. Ano passado, o
Ministro de Finanças da Rússia prorrogou empréstimo de mais US$ 3 bilhões. A
Gazprom garantiu mais
US$ 5,5 bilhões à Ucrânia e até ofereceu um desconto não
solicitado, sob a condição de que o país pagasse US$ 4,5 bilhões. Somem tudo e
chega-se ao total de US$ 32,5-33,5 bilhões mobilizados para ajudar a Ucrânia,
só nos últimos tempos.
Claro: temos o direito de levantar
perguntas. Para que serviu a tragédia ucraniana? Não teria sido possível
acertar as diferenças, inclusive as disputas, pelo diálogo, no quadro de
legalidade vigente e com legitimidade? Agora nos veem com conversa de que
aquela seria política competente e equilibrada, com a qual teríamos de pactuar,
sem perguntas, de olhos vendados.
Não acontecerá
nunca. Se, para alguns países europeus o orgulho nacional é conceito há muito
esquecido, e a soberania não passa de uma espécie de luxo, a verdadeira soberania
é, para Rússia, absolutamente necessária para a sobrevivência.
3) O Império já era inimigo mortal
da Rússia muito antes da Crimeia
Lembramos bem como e quem, quase
abertamente, apoiou o separatismo naquele momento, e até o mais visível
terrorismo na Rússia, obra de assassinos cujas mãos estavam manchadas de
sangue, ninguém menos que rebeldes e as recepções de alto nível organizadas
para eles. Aqueles “rebeldes” mostram a cara novamente na Chechênia. Não tenho
dúvidas de que o pessoal local, as autoridades legais locais tomarão conta
adequadamente deles. Agora, trabalham para eliminar mais uma ação terrorista.
Nós os apoiamos.
Quero reiterar que não
esquecemos a recepção de alto nível que receberam terroristas travestidos como
combatentes da liberdade e da democracia. Naquele momento, percebemos que
quanto mais espaço damos a eles e quanto mais desculpas criamos, mais nossos
oponentes tornam-se ousados e mais agressivas e cínicas as infrações e crimes
que cometem.
Apesar de nossa abertura de antes,
sem precedentes, e de nossa disposição para cooperar em tudo, até nas questões
mais sensíveis, apesar do fato de que consideramos – e todos os senhores e
senhoras sabem disso e lembram disso – nossos ex-adversários como amigos
próximos e até como aliados, o apoio externo ao separatismo na Rússia,
inclusive informação, apoio político e financeiro e apoio e atenção fornecidos
pelos serviços especiais – foi absolutamente óbvio e não deixou qualquer dúvida
de que eles permitiriam com prazer que a Rússia seguisse o cenário iugoslavo de
desintegração e desmembramento. Com as consequências mais trágicas para o povo
da Rússia.
Não deu certo.
Não permitimos que acontecesse.
Exatamente como
não funcionou para Hitler, com suas ideias de ódio a povos, que estava decidido
a destruir a Rússia e a nos empurrar para trás, para além dos Urais. Todos com
certeza lembram como isso acabou.
4) Rússia não se deixará abusar
Ninguém jamais
derrotará militarmente a Rússia. Temos exército moderno e pronto para combater.
Como dizem agora, é exército “polido”, nem por isso, menos formidável. Nós
temos a força, o desejo e a coragem para defender nossa liberdade.
Protegeremos a
diversidade do mundo. Diremos a verdade aos povos do mundo, até que todos vejam
a imagem real da Rússia, não a imagem falsa e distorcida. Ativamente promoveremos as relações comerciais e humanitárias, e
as relações científicas, educacionais e culturais. Faremos precisamente isso
sempre que qualquer governo tente impor uma nova cortina de ferro em torno da
Rússia.
Jamais, em tempo algum,
enveredaremos pela trilha do autoisolamento, da xenofobia, da suspeição e da
criação de inimigos. Tudo isso é sinal de fraqueza. Os russos somos fortes e
confiantes.
Minha opinião é que estamos
assistindo a um grande evento de “dizer o que tem de ser dito”. Por inúmeras
razões, Putin e o Ministro de Relações Exteriores Lavrov haviam decidido não
falar nesses termos, antes, por vários meses. Aos poucos, vimos crescer e
começar a manifestar-se uma forte impressão de profundo desgosto, de irritação
profunda, de base, entre os russos. No discurso à Assembleia, afinal tudo isso
foi trazido à tona.
Já é dolorosamente claro que a
Rússia vê os EUA como ator desagradável, arrogante, fátuo, que a Rússia pode
deter; e que a Rússia vê os governos no poder na União Europeia como colônias
sem voz. Igualmente claro é que os russos estão fartos de tentar argumentar com
“os ocidentais”, de tentar trazê-los à razão. Os norte-americanos são tolos e
arrogantes demais; os europeus excessivamente sem vergonha ou espinha dorsal.
Diferente dos
norte-americanos, os russos sempre falam com seus inimigos, e
alguma forma de “conversa” com o ocidente continuará. Mas é completamente óbvio
que o Kremlin abandonou qualquer esperança de alcançar alguma coisa mediante
qualquer tipo de diálogo. Doravante, a Rússia dependerá, quase
exclusivamente, de ações unilaterais. E dado que os russos nunca
ameaçam, essas ações virão sempre com choque e surpresa para as
plutocracias ocidentais.
Já disse e escrevi mil vezes: o
Império Anglo-sionista declarou guerra real contra a Rússia–
guerra na qual as forças militares são menos importantes que a guerra
informacional, mas que nem por isso é guerra menos real. O que o Império talvez
não perceba é que essa não será guerra curta: será guerra longa. E enquanto o
Império já usou praticamente todas as suas armas, os russos apenas iniciaram
suas operações defensivas. Será guerra longa e só terminará quando um dos lados
quebrar, em colapso.
Em março desse ano escrevi um postado
intitulado “Obama piorou muito
as coisas na Ucrânia – agora a Rússia está pronta para a guerra”. A Rússia não queria guerra, a guerra lhe foi imposta, num
momento em que a Rússia não estava pronta. Pois hoje Putin disse ao mundo que a
Rússia não se submeterá, que aceita o desafio e que vencerá.
The Saker
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