segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

MERCOSUL BUSCA NOVOS HORIZONTES COMERCIAIS

7 dezembro 2014, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)

Buenos Aires (Prensa Latina) -- Motivado por uma nova dinâmica de ampliar seus horizontes, o Mercosul busca novos parceiros comerciais e de negócio dentro de seu meio e além de suas fronteiras, na Europa e na Euroasia. O bloco que cresceu com a incorporação da Venezuela e da Bolívia realizará sua XLVII Cúpula Presidencial nos dias 16 e 17 de dezembro no Paraná, província de Entre Ríos, Argentina, seu atual país presidente pro tempore.

À Cúpula estarão presentes oito chefes de Estado, segundo disse o governador de Entre Ríos e pré-candidato à presidência, Sergio Urribarri, além de representantes de seus Estados integrantes, Chile, Colômbia, Peru, Equador, Guiana e Suriname. Os dois últimos estão em trâmites, aguardando a ratificação.

Nas últimas semanas e em caminho à sua Cúpula, o Mercosul avançou nos projetos para estabelecer inéditos acordos comerciais e econômicos com a União Alfandegária Euroasiática
(UAE), a União Europeia (UE) e com a Aliança do Pacífico, integrada por México, Colômbia, Chile e Peru.

Estes passos indicam que o bloco, que tem sido por anos reticente a empreender acordos com outros mecanismos, começou a se desprender dessas restrições, motivo pelo qual alguns o criticam de protecionista, e se abre a outros esquemas regionais de integração. Com a UAE, que a partir de janeiro será a União Econômica Euroasiática, composta por Rússia, Bielorússia e Cazaquistão, assinou em 25 de novembro passado, em Buenos Aires, um Memorando de Entendimento para estabelecer uma ativa cooperação com base na complementação comercial.

Para Carlos Bianco, secretário de Economia Internacional da Argentina, quem presidiu o encontro com os homólogos da UEA, existe um grande potencial para se desenvolver o intercâmbio econômico e comercial sobre a base da complementariedade.

Os analistas esperam ter o Memorando pronto para sua assinatura antes de que a Argentina termine seu mandato na presidência do Mercosul, quando o Brasil assumirá.
O documento abrirá o caminho para um livre movimento de produtos entre estes dois blocos.
Será o passo prévio a um acordo marco que aprofundará e diversificará as relações econômicas e o intercâmbio comercial sobre a base da complementação, disse Bianco.

Um dos setores que animará este intercâmbio será o alimentar, pois ambos os mecanismos se complementam muito bem neste campo.

No entanto, o projeto se estende também à área manufatureira e às áreas de tecnologia de ponta como a satelital e a nuclear para uso pacífico.

"Também vemos promissoras relações no setor energético, em particular nos produtos petroquímicos a partir do desenvolvimento que os países da UAE têm e o incentivo que estamos dando a esta indústria no Mercosul", apontou Bianco.

A UAE é uma união política e econômica, estabelecida em 2007, que conforma um mercado de ao redor de 170 milhões de habitantes e um PIB combinado que chega a dois trilhões 400 bilhões de dólares, o que a converte em um mercado substancialmente atrativo, além de um vasto potencial em matéria energética e mineira.

Na reunião realizada no Palácio de San Martín, as partes analisaram as questões alfandegárias, da macroeconomia, estatísticas, regulamentos técnicos e sanitários, entre outros pontos, necessários para o estabelecimento de acordos deste tipo de livre fluxo mercantil.

Dois dias depois, os representantes de Comércio do Mercosul fizeram uma vídeo-conferência com os chefes negociadores da União Europeia, a quem apresentaram uma variada cesta de ofertas para fazer negócios.

Nesse passo se anteciparam aos europeus, já que a UE se desculpou por não haver conformado suas ofertas para estruturar um acordo comercial. Até agora os membros do Mercosul, por diversas razões e interesses viam com cautela um pacto deste tipo com a Europa desenvolvida. No entanto, essa preocupação ficou para trás devido ao pensamento que começa a prevalecer no grupo latino-americano de dar mais dinamismo aos seus acordos com outros blocos.

Entre os produtos que o Mercosul apresentou à UE estão bens, serviços, investimentos e compra ambiciosas e equilibradas dos governos, apontou um comunicado da Chancelaria argentina.

Os representantes sul-americanos também manifestaram seu interesse em conhecer os avanços da UE na consolidação de sua própria oferta para fixar uma data para o conhecimento das mesmas, mas ficaram à espera de que os europeus entrassem em um acordo.

A partir do chamado da presidenta chilena, Michelle Bachelet, de "deixar de uma vez por todas de lado o preconceito de que há dois blocos contrapostos na América Latina que não dialogam entre si", o Mercosul e a Aliança do Pacífico fizeram uma primeira reunião ministerial com a finalidade de avaliar possibilidades de poder especificar acordos.

No inicio do mês de novembro, os chanceleres dos países do Mercosul, Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, realizaram uma reunião inédita na cidade colombiana de Cartagena com seus homólogos da Aliança do Pacífico, integrada por Colômbia, Chile, México e Peru.

Nesse primeiro encontro o objetivo que buscavam era o de conhecer os mecanismos e instrumentos sobre os quais ambas as estruturas operam e discutir potenciais áreas de cooperação.

Conforme as declarações de seus protagonistas, serviu para limar as diferenças para dinamizar o intercâmbio dentro da América Latina e fortalecer sua presença a nível global. Todas as partes o qualificaram como positivo.

Anteriormente, na segunda-feira, 24 de novembro, os chanceleres destes dois blocos, animados pelo primeiro encontro, voltaram a se encontrar pessoalmente, mas desta vez em Santiago do Chile, que acolheu também aos líderes empresariais e sindicais latino-americanos.

Já em Santiago falaram de um potencial de integração, justo quando o intercâmbio na região sul-americana enfrenta, na opinião de alguns economistas, um estancamento virtual pelo terceiro ano consecutivo.

O chanceler argentino Héctor Timerman disse que "a estratégia de inserção externa de cada um de nós responde, como não pode ser de outra maneira, aos modelos nacionais" e admitiu que "nesse sentido podem ter diferenças".

Esse segundo encontro foi organizado pelo governo chileno para continuar propiciando o diálogo entre os dois mecanismos regionais. Participaram também ministros e vice-ministros de Economia e Comércio dos países membros de ambos os blocos, além de empresários e sindicalistas latino-americanos.

A presidenta Bachelet reconheceu que "não é realista propor hoje uma integração em matéria alfandegária, mas sim podemos avançar em outras áreas", considerou.

Por sua vez, o chanceler chileno Heraldo Muñoz estimou que enquanto "o Mercosul e a Aliança do Pacífico respondem aos modelos econômicos e formas diferentes de inserção na economia, constituem dois componentes essenciais, cuja convergência gradual e pragmática outorgaria importantes benefícios aos países que os integram".

E admitiu que consegui-lo "não será uma tarefa simples".

O chanceler brasileiro, Luis Alberto Figueiredo, disse que o encontro foi "uma tentativa de ver de maneira objetiva e específica a possibilidade de convergência entre os países da região".

Por sua vez, esclareceu que não conversaram "para fazer pressão, senão que para compreender muito melhor os caminhos e maneiras de fazer essa ideia de todos nós, de uma integração regional, caminhar".

Ao menos nessa direção o diálogo está aberto, embora uma integração se vista como irrealizável, pelo menos nesse momento, se ao menos puderem chegar a uma articulação pragmática para impulsionar o necessário comércio regional.

* Correspondente da Prensa Latina na Argentina


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