7 dezembro 2014, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
Buenos Aires (Prensa Latina) -- Motivado por uma nova dinâmica
de ampliar seus horizontes, o Mercosul busca novos parceiros comerciais e de
negócio dentro de seu meio e além de suas fronteiras, na Europa e na
Euroasia. O bloco que cresceu com a incorporação da Venezuela e da Bolívia
realizará sua XLVII Cúpula Presidencial nos dias 16 e 17 de dezembro no Paraná,
província de Entre Ríos, Argentina, seu atual país presidente pro tempore.
À Cúpula estarão presentes oito chefes de Estado, segundo disse o
governador de Entre Ríos e pré-candidato à presidência, Sergio Urribarri, além
de representantes de seus Estados integrantes, Chile, Colômbia, Peru, Equador,
Guiana e Suriname. Os dois últimos estão em trâmites, aguardando a ratificação.
Nas últimas semanas e em caminho à sua Cúpula, o Mercosul avançou
nos projetos para estabelecer inéditos acordos comerciais e econômicos com a
União Alfandegária Euroasiática
(UAE), a União Europeia (UE) e com a Aliança do
Pacífico, integrada por México, Colômbia, Chile e Peru.
Estes passos indicam que o bloco, que tem sido por anos reticente a
empreender acordos com outros mecanismos, começou a se desprender dessas
restrições, motivo pelo qual alguns o criticam de protecionista, e se abre a
outros esquemas regionais de integração. Com a UAE, que a partir de janeiro
será a União Econômica Euroasiática, composta por Rússia, Bielorússia e Cazaquistão,
assinou em 25 de novembro passado, em Buenos Aires, um Memorando de
Entendimento para estabelecer uma ativa cooperação com base na complementação
comercial.
Para Carlos Bianco, secretário de Economia Internacional da
Argentina, quem presidiu o encontro com os homólogos da UEA, existe um grande
potencial para se desenvolver o intercâmbio econômico e comercial sobre a base
da complementariedade.
Os analistas esperam ter o Memorando pronto para sua assinatura
antes de que a Argentina termine seu mandato na presidência do Mercosul, quando
o Brasil assumirá.
O documento abrirá o caminho para um livre movimento de produtos
entre estes dois blocos.
Será o passo prévio a um acordo marco que aprofundará e
diversificará as relações econômicas e o intercâmbio comercial sobre a base da
complementação, disse Bianco.
Um dos setores que animará este intercâmbio será o alimentar, pois
ambos os mecanismos se complementam muito bem neste campo.
No entanto, o projeto se estende também à área manufatureira e às
áreas de tecnologia de ponta como a satelital e a nuclear para uso pacífico.
"Também vemos promissoras relações no setor energético, em
particular nos produtos petroquímicos a partir do desenvolvimento que os países
da UAE têm e o incentivo que estamos dando a esta indústria no Mercosul",
apontou Bianco.
A UAE é uma união política e econômica, estabelecida em 2007, que
conforma um mercado de ao redor de 170 milhões de habitantes e um PIB combinado
que chega a dois trilhões 400 bilhões de dólares, o que a converte em um
mercado substancialmente atrativo, além de um vasto potencial em matéria
energética e mineira.
Na reunião realizada no Palácio de San Martín, as partes analisaram
as questões alfandegárias, da macroeconomia, estatísticas, regulamentos
técnicos e sanitários, entre outros pontos, necessários para o estabelecimento
de acordos deste tipo de livre fluxo mercantil.
Dois dias depois, os representantes de Comércio do Mercosul fizeram
uma vídeo-conferência com os chefes negociadores da União Europeia, a quem
apresentaram uma variada cesta de ofertas para fazer negócios.
Nesse passo se anteciparam aos europeus, já que a UE se desculpou
por não haver conformado suas ofertas para estruturar um acordo comercial. Até
agora os membros do Mercosul, por diversas razões e interesses viam com cautela
um pacto deste tipo com a Europa desenvolvida. No entanto, essa preocupação ficou
para trás devido ao pensamento que começa a prevalecer no grupo
latino-americano de dar mais dinamismo aos seus acordos com outros blocos.
Entre os produtos que o Mercosul apresentou à UE estão bens,
serviços, investimentos e compra ambiciosas e equilibradas dos governos,
apontou um comunicado da Chancelaria argentina.
Os representantes sul-americanos também manifestaram seu interesse
em conhecer os avanços da UE na consolidação de sua própria oferta para fixar
uma data para o conhecimento das mesmas, mas ficaram à espera de que os
europeus entrassem em um acordo.
A partir do chamado da presidenta chilena, Michelle Bachelet, de
"deixar de uma vez por todas de lado o preconceito de que há dois blocos
contrapostos na América Latina que não dialogam entre si", o Mercosul e a
Aliança do Pacífico fizeram uma primeira reunião ministerial com a finalidade
de avaliar possibilidades de poder especificar acordos.
No inicio do mês de novembro, os chanceleres dos países do
Mercosul, Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, realizaram
uma reunião inédita na cidade colombiana de Cartagena com seus homólogos da
Aliança do Pacífico, integrada por Colômbia, Chile, México e Peru.
Nesse primeiro encontro o objetivo que buscavam era o de conhecer
os mecanismos e instrumentos sobre os quais ambas as estruturas operam e
discutir potenciais áreas de cooperação.
Conforme as declarações de seus protagonistas, serviu para limar as
diferenças para dinamizar o intercâmbio dentro da América Latina e fortalecer
sua presença a nível global. Todas as partes o qualificaram como positivo.
Anteriormente, na segunda-feira, 24 de novembro, os chanceleres
destes dois blocos, animados pelo primeiro encontro, voltaram a se encontrar
pessoalmente, mas desta vez em Santiago do Chile, que acolheu também aos
líderes empresariais e sindicais latino-americanos.
Já em Santiago falaram de um potencial de integração, justo quando
o intercâmbio na região sul-americana enfrenta, na opinião de alguns
economistas, um estancamento virtual pelo terceiro ano consecutivo.
O chanceler argentino Héctor Timerman disse que "a estratégia
de inserção externa de cada um de nós responde, como não pode ser de outra
maneira, aos modelos nacionais" e admitiu que "nesse sentido podem
ter diferenças".
Esse segundo encontro foi organizado pelo governo chileno para
continuar propiciando o diálogo entre os dois mecanismos regionais.
Participaram também ministros e vice-ministros de Economia e Comércio dos
países membros de ambos os blocos, além de empresários e sindicalistas
latino-americanos.
A presidenta Bachelet reconheceu que "não é realista propor
hoje uma integração em matéria alfandegária, mas sim podemos avançar em outras
áreas", considerou.
Por sua vez, o chanceler chileno Heraldo Muñoz estimou que enquanto
"o Mercosul e a Aliança do Pacífico respondem aos modelos econômicos e
formas diferentes de inserção na economia, constituem dois componentes
essenciais, cuja convergência gradual e pragmática outorgaria importantes
benefícios aos países que os integram".
E admitiu que consegui-lo "não será uma tarefa simples".
O chanceler brasileiro, Luis Alberto Figueiredo, disse que o
encontro foi "uma tentativa de ver de maneira objetiva e específica a
possibilidade de convergência entre os países da região".
Por sua vez, esclareceu que não conversaram "para fazer
pressão, senão que para compreender muito melhor os caminhos e maneiras de
fazer essa ideia de todos nós, de uma integração regional, caminhar".
Ao menos nessa direção o diálogo está aberto, embora uma integração
se vista como irrealizável, pelo menos nesse momento, se ao menos puderem
chegar a uma articulação pragmática para impulsionar o necessário comércio
regional.
* Correspondente da Prensa Latina na Argentina
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