21 maio 2014, Правда.Ру, Pravda.ru http://www.pravda.ru (Россия, Rússia)
O formato do Brics prevê uma política externa
independente e tem objetivo estratégico para a Rússia - a criação de um mundo
multipolar e multicultural.
Apesar das perspectivas de cooperação em diferentes
áreas, Rússia e China temem que crise econômica no país latino-americano tenha
impacto negativo no desenvolvimento do grupo.
Iúri Paniev, especial para Gazeta Russa
A habitual sigla Brics poderá, dentro de algum tempo,
mudar para Bricsa.A Argentina expressou o desejo formal de se juntar a essa
aliança informal, que desde 2006 inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul. "O Brasil, a Índia e a África do Sul já manifestaram o seu acordo
em relação a tal decisão", declarou recentemente o embaixador indiano na
Argentina, Amarend Khatua.
A Rússia e a China estão, por enquanto, analisando a
iniciativa de Buenos Aires. As principais dúvidas giram em torno da economia
argentina, que anda sobrecarregada com uma dívida externa de mais de US$ 130
bilhões. Do ponto de vista da Argentina, ser membro do bloco informal pode
significar a obtenção de financiamento em condições mais favoráveis do que
as
oferecidas por outras organizações internacionais.
"Temos uma abordagem construtiva em relação a
quaisquer pedidos desse gênero, independentemente de quem eles venham",
diz o vice-chanceler russo, Serguêi Riabkov, sobre a cautela ao considerar a
adesão da Argentina ao Brics.
O tema do alargamento do bloco informal é um assunto
constante nas negociações entre as partes envolvidas há algum tempo. Além
disso, uma série de contatos deve culminar com a cúpula do Brics em Fortaleza,
no dia 15 de julho. "Lá os membros terão a oportunidade de discutir a
questão em detalhe", acrescenta Riabkov.
Sabe-se que, depois do encontro, o novo
primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, irá à Argentina em visita oficial.
Ainda em julho está prevista a visita do presidente chinês Xi Jinping a Buenos
Aires. A China já tem uma cooperação ativa com o país, que se tornou um dos
seus grandes fornecedores de soja. Além disso, Pequim tem apostado na Argentina
em meio aos investimentos para criação de corredores transoceânicos.
Kremlin latino
O potencial de interação entre a Rússia e a Argentina
também parece promissor. No entanto, o volume de negócios no nível dos US$
1,5-2 bilhões por ano não pode ser chamado de satisfatório. "A Rússia tem
uma longa relação comercial com a Argentina", disse em entrevista à Gazeta
Russa o vice-diretor do Instituto da América Latina da Academia Russa de
Ciências, Boris Martinov.
"Nos anos 1970 e 80, fornecíamos à Argentina
equipamento de hidrelétricas e outras produções de engenharia mecânica. Agora,
precisamos levar essa relação a um novo patamar. O problema é que a Rússia tem
estado muito focada nos mercados ocidentais, e a realidade atual mostrou o
quanto essa relação é indesejável para a Rússia", acrescentou Martinov.
Em termos de apoio político, a Argentina já se
manifestou claramente a favor da Rússia. A presidente Cristina Kirchner acusou
duramente os padrões duplos da política ocidental frente às situações
semelhantes da Crimeia e Ilhas Malvinas, onde, no ano passado, também houve um
referendo sobre o estatuto do território. No caso argentino, a votação, ao
contrário da situação na Crimeia, foi reconhecida como legítima pela comunidade
internacional.
Medo da crise
"O formato do Brics prevê uma política externa
independente e tem objetivo estratégico para a Rússia - a criação de um mundo
multipolar e multicultural", enfatiza o vice-diretor do Instituto da
América Latina. O desejo de se juntar aos Brics foi também expresso
recentemente pelo México, Irã, Cazaquistão e Indonésia.
Em 2013, os líderes do grupo concordaram em criar um
fundo de reserva no valor de US$ 100 bilhões para proteção em caso de
instabilidade do mercado. Ficou também decidida a criação de instituições
financeiras próprias.
O incentivo para a criação dessas estruturas foram as
chamadas "guerras cambiais", que relembram a necessidade de
diversificar não só as reservas de divisas, como também a necessidade e
conveniência em realizar transações no comércio internacional com suas próprias
moedas. Dada a importância dos países do Brics no comércio mundial, as suas
instituições financeiras ajudariam a reforçar o estatuto das moedas dos
países-membros.
"É nesses sentido que os gravíssimos problemas econômicos da Argentina levantam preocupações e podem se tornar o grande obstáculo para a adesão do país ao grupo", explicou Martinov.
http://br.rbth.com/internacional/2014/05/19/argentina_pode_se_tornar_novo_membro_do_brics_25657.html
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