12 maio 2014, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)
Maio é um mês fértil de acontecimentos históricos para a
Humanidade.
Um deles salvou a Europa e provavelmente todo o mundo, da
escravidão. No dia 9 de Maio de 1945, as hordas nazis de Hitler foram
derrotadas na Frente Russa. Milhões de civis e militares soviéticos deram a sua
vida pela liberdade dos povos. Depois da rendição, o mundo foi surpreendido
pelos campos de extermínio. Há cemitérios das vítimas do nazismo nos países
Aliados, para que a Terra não esqueça. Nós em Angola também vencemos os nazis.
E temos no Cuito, capital do Bié, o cemitério das nossas vítimas, que
representa todos os angolanos com ou sem sepultura.
A derrota dos nazis na então União Soviética é para recordar, não para esquecer. O mesmo acontece com a Batalha do Cuito Cuanavale. No Triângulo do Tumpo foi destroçado o regime de apartheid, em tudo igual ao nazismo de Hitler. A diferença é que os monstros que dirigiram o III Reich eliminavam as minorias étnicas ou raciais em nome da “raça ariana” e os sanguinários chefes do apartheid eliminavam a maioria negra, do alto da “superioridade da raça branca”. Os Heróis da Batalha do Cuito Cuanavale escreveram as mais belas páginas da História Universal contemporânea,
Os Heróis são sempre um incómodo para a escumalha social que vive na espuma dos dias, turva as águas para sobreviver, usa a deslealdade e a traição como trampolim para subir na vida. Os Heróis mortos não fazem mal a ninguém. Mas se estão vivos, tornam-se verdadeiramente insuportáveis porque basta a sua presença para a mentira e o embuste não fazerem caminho. No recente aniversário da Batalha do Cuito Cuanavale, os Heróis vivos que se bateram no Triângulo do Tumpo regressaram ao campo da batalha, levaram os jornalistas e lá contaram ao mundo como foi esmagado o regime de apartheid.
Não sabemos qual foi o impacto desta incursão ao Triângulo do Tumpo, onde marcaram presença figuras como os generais Black Power ou Kamorteiro, Ndalu, Ngongo, Zé Maria ou Dinho Martins. E centenas de Heróis da batalha que mudou África e libertou a Humanidade do mais hediondo crime que alguma vez se praticou contra a Humanidade: o regime de apartheid da África do Sul.
No Triângulo do Tumpo, em Março passado, os derrotados perderam uma oportunidade soberana de se reconciliarem com a História de Angola e mostrarem aos angolanos que, embora naqueles meses longínquos dos combates estarem com armas e bagagens do lado do apartheid, depois da Paz de 4 de Abril de 2002 passaram a fazer parte da grande família angolana que sacrificou milhares dos seus melhores filhos pela Independência Nacional e pela integridade territorial. Demóstenes Chilingutila devia estar lá. Era uma forma de se limpar da mancha de desertor das FAA.
Como deviam estar no Triângulo do Tumpo, ao lado de Ndalu, Black Power, Ngongo, Kamorteiro, Higino Carneiro, Pedro Sebastião, Zé Maria, Dinho Martins e muitos outros, todos os desertores. Gato e Manuvakola tinham o dever de estar entre os nossos Heróis da Batalha do Cuito Cuanavale, quanto mais não fosse para mostrarem que são a favor da reconciliação nacional e estão animados da mesma tolerância política dos que lhes abriram os braços e os receberam como irmãos. Preferiram a ausência. E pior do que isso: assumiram as dores dos derrotados.
Mais uma vez o fantasma de Savimbi paralisa a inteligência e os
movimentos dos principais dirigentes da UNITA. O padre Camilo Cangumbe foi
assassinado porque, sendo um homem de cultura, ousou dizer que a “poesia” de
Savimbi tinha pouco valor. Ninguém levantou um dedo para defender um dos
maiores intelectuais do Galo Negro. Paralisia absoluta.
Hoje Demóstenes Chilingutila, Gato, Manuvakola ou Numa movem-se no sentido inverso ao caminho trilhado pelos Heróis da Batalha do Cuito Cuanavale. Como se ainda estivessem no dia em que Pik Botha condecorou Savimbi como herói do apartheid.
O mundo decente nesse dia tremeu. África, mesmo nos países onde os regimes eram dóceis e submissos, sentiu uma náusea profunda. Nunca antes se tinha visto um negro ser condecorado pelos defensores da supremacia branca. Os angolanos cerraram os dentes e combateram ainda com mais determinação o regime de Pretória. Para lavarem a honra de um povo que nunca se submeteu e que Savimbi traiu cobardemente ao aceitar aquela condecoração.
Os generais da UNITA têm de se libertar da tutela do apartheid. As suas mentes não podem continuar bloqueadas pelos anos de submissão a Breitenbach, Magnus Malan ou Pik Botha. Agora são livres. Vivam a vida com alegria ao lado do Povo Angolano, sem preconceitos nem ressentimentos. O nazismo foi derrotado na Frente Russa. O apartheid foi esmagado no Triângulo do Tumpo. Os angolanos só têm razões para serem felizes. Dos fracos não reza a História.
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