8 dezembro 2009/Vermelho http://www.vermelho.org.br
A seis dias da eleição presidencial no Chile, a Justiça mandou prender nesta segunda-feira (07) seis acusados de envolvimento na morte - por envenamento - do presidente Eduardo Frei Montalva (1964-1970), pai de Eduardo Frei, atual candidato governista e também ex-presidente (1994-1999).
Morto por infecção generalizada em 1982 após uma cirurgia de rotina, Montalva era à época um dos principais críticos da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990). Embora na ocasião a morte tenha sido classificada como natural, Frei sempre sustentou a hipótese de crime político.
A decisão judicial ocorre no momento em que o governo Michelle Bachelet e a candidatura de Frei enfatizam o tema de direitos humanos na campanha, em tentativa de barrar o avanço do opositor de centro-direita Sebastián Piñera, primeiro colocado nas pesquisas, e de assegurar o voto da esquerda, dividida em três candidatos.
No último sábado, dia do funeral simbólico do cantor Víctor Jara, morto pela repressão de Pinochet, Frei anunciou 17 propostas para a área de direitos humanos. Entre elas, a revogação da Lei de Anistia de 1978.
Reação dos candidatos
Ontem, o candidato do governo se disse emocionado pela decisão. Afirmou se tratar do primeiro caso de homicídio de um ex-presidente no país, que marca "um antes e um depois" na história. "Não acreditávamos que havia tanta crueldade e maldade no Chile, mas os fatos demonstraram que assim era. Evidentemente, há pessoas próximas do presidente Frei [envolvidas em seu assassinato]", lamentou o filho do ex-presidente.
Os envolvidos são quatro médicos, um agente da polícia secreta do ditador Augusto Pinochet -- que assumiu a presidência após um golpe de Estado dado em 1973 -- e um motorista do ex-governante.Todos tiveram as prisões pedidas pelo juiz, responsável pelas investigações desde o ano 2000.
O opositor de Frei, Sebastián Piñera, empresário que lidera as pesquisas para a sucessão da presidente Michelle Bachelet, pronunciou-se sobre o episódio e manifestou solidariedade aos familiares da vítima. Além disso, prometeu trabalhar em favor das investigações caso for eleito."A morte ainda não esclarecida do ex-presidente Frei Montalva é uma ferida aberta na alma nacional. Quero me solidarizar humanamente com os filhos e a família do presidente", declarou.
Por sua vez, o deputado Marco Enríquez-Ominami, dissidente governista que lançou uma candidatura independente e ocupa o terceiro lugar na disputa, lembrou a morte de seu próprio pai, Miguel Enríquez, fundador do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) assassinado em 1974 pela ditadura de Pinochet."Sei o que é perder um pai, conheço essa dor, com a qual convivo há 35 anos. Espero que a justiça esclareça" o caso, disse.
Antecedentes
A investigação sobre a morte de Eduardo Frei Montalva foi reaberta há cerca de dez anos, por suspeitas da família após o desaparecimento, no Uruguai, do químico da ditadura Pinochet Eugenio Berríos, cujos restos foram localizados em 1995. A apuração indicou que substâncias tóxicas como gás mostarda provocaram a morte do presidente.
"Demonstra que no Chile a Justiça tarda mas chega. O ex-presidente denunciou violações aos direitos humanos, e isso provavelmente lhe custou a vida", disse Bachelet ontem.
Dona da maior aprovação popular (78%) a um presidente desde a volta da democracia, Bachelet vive o dilema de ainda não conseguir impulsionar a candidatura da Concertação, a exitosa coalizão de centro-esquerda que governa o Chile há 20 anos.
As pesquisas indicam que haverá segundo. Nas últimas sondagens, Piñera aparece com 36% dos votos; Frei fica com 26% e Ominami com 19%. O mandato presidencial no país é de quatro anos, sem possibilidade de reeleição.
O pleito
Os eleitores chilenos irão às urnas no dia 13 (domingo). O voto no Chile é obrigatório para todos com mais de 18 anos e estrangeiros, que moram no país há mais de cinco anos. As zonas eleitorais serão abertas às 7h e fechadas às 16h. Caso as pesquisas se confirmem, ó segundo turno acontecerá em 17 de janeiro. O presidente eleito assume o cargo no dia 11 de março.
Pela primeira vez nas últimas duas décadas, as eleições no país ocorrerão sem a presença do ex-presidente e ditador Augusto Pinochet – morto em 2006. Pinochet atuou nos bastidores políticos do país mesmo quando afastado do poder. Foi um dos mais temidos ditadores da América Latina, governando o Chile por 17 anos (1973 a 1990).
O general comandou o golpe militar que derrubou o governo do presidente socialista, Salvador Allende. Foi acusado de uma série de crimes, como o desaparecimento de mais de 3 mil pessoas durante a ditadura. (Com agências)
Nenhum comentário:
Postar um comentário