Brasília, Brasil, 21 dezembro 2009 - A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está a reforçar a sua implantação em África, com projectos de cooperação e investigação a irem já no próximo ano para o terreno em Moçambique, Angola e Cabo Verde.
Alberto Santana, coordenador-geral dos projectos da Embrapa, afirmou ao jornal brasileiro Valor Económico que os projectos permitem usar África como "campo experimental" e “fonte de biodiversidade” para melhorar a agricultura brasileira, mas este envolvimento vem também reforçar a sua imagem de referência internacional na pesquisa agronómica tropical e mesmo aprofundar as relações de cooperação "Sul-Sul" defendidas pelo governo brasileiro.
Moçambique, onde a China também tem em curso importantes investimentos em tecnologia agrícola, irá ter nos próximos meses um escritório da Embrapa, responsável por coordenar um projecto de 10,7 milhões de dólares para revigorar as instituições locais de pesquisa, adaptar sementes ao solo e clima da região, conservar recursos naturais e treinar cientistas locais.
Com o apoio a agência norte-americana de desenvolvimento Usaid, prevê-se em três anos apoiar 3,5 milhões de produtores familiares, consolidando o programa de garantia da segurança alimentar moçambicana em milho, feijão, arroz e mandioca.
Os planos foram elaborados por 20 investigadores brasileiros, e a implementação está marcada para a partir de Junho de 2010.
Moçambique é hoje altamente dependente da importação de produtos agrícolas, tendo um potencial de produção de nada menos que 39 milhões de hectares, segundo a Embrapa.
Também a produção pecuária será alvo de apoio brasileiro, prevendo-se que em 2011 seja introduzida a genética bovina brasileira no gado moçambicano.
Paralelamente, e em parceria com a agência de cooperação japonesa JICA, a Embrapa vai adaptar plantas de soja e milho às savanas de Moçambique, no chamado "Corredor de Nacala", tal como fez na década de 1970 na região do Cerrado brasileiro.
Com uma duração de dez anos e um investimento de 500 milhões de dólares, o projecto prevê a implantação de três bases científicas (Nampula, Chimoio e Mutuali) e a plantação de cerca de três milhões de hectares de soja.
A Embrapa irá lucrar com os “royalties” das plantas desenvolvidas, enquanto soja de baixo custo está na mira da parte japonesa, que, tendo em vista a exportação da matéria-prima alimentar, está a investir na recuperação de estradas, caminhos-de-ferro e de infra-estruturas do porto de Nacala.
De visita a Brasília em Agosto, o ministro moçambicano Soares Nhaca afirmou que estes projectos vão permitir ao país reforçar a capacidade na área de investigação agrária, a transferência de tecnologia para produção de sementes de alto rendimento e o melhoramento genético.
Perante uma “avalanche de pedidos de transferência de tecnologias de produção de alimentos e commodities”, nos últimos anos, os investigadores da Embrapa já visitaram 19 países africanos e identificaram 35 projectos em 16 deles, estando em fase final de negociação mais 16, orçados em 3,4 milhões de dólares.
Além de Moçambique, nove estão em execução em Angola, Cabo Verde, Senegal.
Além de melhorar a imagem da Embrapa como referência na pesquisa agronómica internacional, sobretudo na vertente tropical, estes projectos abrem caminho para exportações de um "pacote tecnológico", em que se incluem sementes, fertilizantes, insecticidas ou máquinas e equipamento fornecidos por empresas brasileiras.
A estratégia permitiu que, desde 1998, a Embrapa aumentasse em 20 por cento a sua base de dados de material genético, e também que aumentasse as suas receitas com “royalties”.
Além de África, também Timor-Leste está nos horizontes da Embrapa, que teve há cerca de um ano uma missão em Dili, em discussões com o governo timorense sobre acções consideradas prioritárias.(macauhub)
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