18 dezembro 2009/ Agência de Informação Frei Tito para a América Latina
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Egon Dionísio Heck *
A histórica Asunción, semeada às beiras do rio Paraguai, foi palco de um momento ímpar, na luta do povo Guarani por seus direitos. No inicio de mais um dia quente do verão tropical, no palácio presidencial do Paraguai, foi se reunindo uma seleta platéia de lideranças Guarani, estudiosos e aliados da causa, representantes de organismos nacionais e internacionais, além da presença de cinco ministros e do presidente Lugo.
O que motivou tão importante ato político, cultural e histórico, foi o lançamento do mapa e caderno Guarani Retã, em espanhol e guarani. No inicio do ano fora lançado em nível internacional durante o Fórum Social Mundial, em Belém do Pará.
As falas, fortes e contundentes, de apoio aos direitos do Povo Guarani hoje, foram se alternando em espanhol e guarani, que são as línguas oficiais do Paraguai. O guarani foi recentemente reconhecido como a língua oficial do Merecosul. Apesar desse reconhecimento todo, infelizmente a situação de vida dos Guarani hoje, está entre as mais difíceis dos povos originários do mundo.
Conforme a fala inicial do embaixador da Espanha, Miguel Angel Cortiço, talvez hoje não se esteja cumprindo minimamente nenhum dos 46 artigos da Declaração dos Direitos Indígenas, da ONU. Declarou que apesar de não se entusiasmar com esse atos formais, desafia os governantes para que se cumpram os direitos dos povos indígenas contidos na declaração da ONU.
O representante da UNICEF ressaltou a importância do trabalho que estava sendo lançado - Guarani Reta - por significar um espaço e ferramenta de diálogo entre os povos Guarani a sociedade e o governo, para superar a marginalização e opressão a que estão submetidos esses povos hoje.
Na mesa oficial, além do presidente Lugo, dos ministros, representantes de países e organizações da sociedade civil, estava o Guarani Hipólito Acevei, presidente do Conselho pela Autodeterminação dos Povos Indígenas. Em sua manifestação falou da importância dessa ferramenta para o povo Guarani, que embora tardiamente, estão sendo construídas ferramentas para garantir os direitos dos povos originários. Espera que se caminhe efetivamente para criar políticas públicas, que garantam um Paraguai melhor para todos. Concluiu dizendo que "os povos indígenas antes sonhavam enquanto estavam dormindo, mas agora sonham o futuro de olhos abertos".
O compromisso do Presidente Lugo com os Guarani
Em sua fala, no encerramento do ato de lançamento do mapa e caderno Guarani Reta, o presidente Lugo, voltou a reafirmar, como o fizera na por ocasião de sua posse, seu compromisso com os povos indígenas e em especial com o Guarani, com os quais trabalhou durante anos. " O caso que estamos avistando, se trata de uma territorialidade viva, de povos vivos, que puderam sobreviver primeiro ao processo colonial e depois nacional, o que nos demonstra a todos a vigência de sua cultura e espaço territorial, além das fronteiras nacionais". Após reconhecer as falhas do próprio governo com relação aos povos indígenas, convoca os governos do Cone Sul, onde vive o povo Guarani "a reunir-se e articular políticas coerentes orientadas para salvaguardar a cultura, seu modo e espaço de vida, prestando serviços sociais e atendendo suas legítimas reivindicações". Após reconhecimento da difícil situação dos Guarani e das omissões e falhas do governo na garantia dos direitos, especialmente no reconhecimento das terras, agradece "por colocarem em nossas mãos o mapa Guarani Reta, fruto da vossa sabedoria e solidariedade com os povos originários. O conhecimento e a comunicação nos darão forças e abrirá as portas ao futuro. Todos somos Guarani..."
A sessão de lançamento do Mapa Guarani foi organizada pela Coordenação Nacional de Pastoral Indígena - Conapi, com outras entidades. No decorrer do próximo ano estão previstos vários lançamentos regionais e distribuição nas aldeias e escolas das regiões.
A presença dos Guarani do Brasil e aliados
No ato do lançamento do Mapa também estiveram os Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul. Eles foram para se unir aos seus irmãos Guarani no Paraguai e levar para esse momento o clamor, dor e esperança dos povos Guarani no Brasil. Apesar de não haver espaço formal para externar seus pedidos para que o governo do Paraguai se empenhe na busca do corpo do professor Guarani Rolindo Vera, assassinado há 47 dias, em Ypo’i, município de Paranhos, externaram esse desejo a muitos dos presentes, para que os fizessem chegar ao presidente.
Para o Guarani Kaiowá, José Barbosa de Almeida, liderança do acampamento indígena Laranjeira Nhanderu, ‘O lançamento do mapa e caderno Guarani Reta significou um grande apoio à luta de todos os Guarani. Foi mais uma semente lançada que vai se transformar numa grande árvore do nosso povo na América do Sul"
Enquanto os Kaiowá Guarani e seus aliados do Cimi estavam em Assuncion, em Kurusu Ambá, com a comunidade enterrava mais um de seus membros assassinados enquanto estão na luta pela sua terra. Osmair Fernandes foi encontrado morto na manhã do dia 16, elevando o número dos assassinados ultimamente na luta pelas terras.
Nesse mesmo dia se iniciou mais uma Aty Guasu, em Guyraroká, município de Juti, com a inauguração de uma grande Oga Pisy (casa de reza). Ali estarão nos próximos dias sendo discutidas as estratégias para o reconhecimento de seus tekoha (terras tradicionais).
Dourados, 18 de dezembro de 2009
Campanha Povo Guarani Grande Povo
* Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul
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