segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Venezuela/Frota russa no Caribe consolida mundo multipolar

Miguel Lozano

Caracas, 27 novembro 2008 (Prensa Latina) - A presença hoje de uma frota russa em águas venezuelanas ratifica a decisão do país europeu de se reinserir na América Latina, posição saudada pelo presidente Hugo Chávez como esforço saudável para um mundo multipolar.

Um elemento importante, pese à presença imponente do cruzeiro Pedro O Grande, é que a esfera de cooperação militar é expressão de um esforço maior que no caso da Venezuela abarca desde a colaboração energética à cultural.

A cooperação para o uso pacífico da energia nuclear, exploração conjunta de hidrocarbonetos, supressão de vistos, construção e reparo de navios e plataformas marinhas, figuram entre os acordos assinados ontem.

Os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Rússia, Dimitri Medvedev, presenciaram também a assinatura de convênios para a operação de linhas aéreas de ambos os países, proteção recíproca de investimentos, entre a grande variedade de temas.

Os dois presidentes confirmaram a próxima constituição de um banco binacional, solução proposta pela Venezuela para enfrentar a crise financeira mundial e tirar o país da influência das instituições internacionais controladas pelos Estados Unidos.

Na opinião de Chávez, a atual visita de Medvedev à região, coincidentemente com a frota, indica que a Rússia está outra vez em pé, depois da declaração da vitória hegemônica de Washington após a desintegração da União Soviética.

Segundo sua avaliação, o restabelecimento da potência européia aponta para o que Simón Bolívar denominou de “o equilíbrio do universo” dado pela multiplicidade frente às tentativas de predomínio político, econômico e militar de uma nação.

Um fato que com freqüência os críticos da presença militar russa no Caribe venezuelano deixam passar é que a Venezuela realizou anteriormente manobras conjuntas com países europeus como a França e os Países Baixos, sem despertar ressentimentos.

“A frota Pedro O Grande é uma frota de amizade, é uma tripulação de paz, de cooperação; seguiremos trabalhando nesse tema, no tema da defesa, da cooperação estratégica da defesa”, assegurou Chávez.

Barcos venezuelanos preparam-se agora para participar em manobras conjuntas, nas quais voarão também aviões Sukhoi, de fabricação russa, com pilotos venezuelanos.

A presença dos Sukhoi é reveladora, pois a Venezuela se viu obrigada a comprá-los para manter sua capacidade de defesa quando Washington negou peças de reposição e manutenções contratadas para seus F-16 de fabricação norte-americana.

Ante a tentativa de bloqueio nesta esfera, que incluiu pressões a Espanha e ao Brasil quando Venezuela realizou a compra de aviões e barcos, o país sul-americano adquiriu radares (retirados pelos Estados Unidos) na China e outros países.

No caso da manobra com a Rússia, Chávez reitera que a idéia é realizar exercícios para a luta contra o terrorismo e o narcotráfico. “Isto não é contra ninguém. Estamos atuando no marco do direito internacional”, expressou.

O exercício inclui comunicações e logística, como parte do esforço defensivo venezuelano, país que está a caminho de certificar as maiores reservas de petróleo do planeta, processo que deve concluir em 2009.

Numa clara contraposição de idéias, Chávez indica que a mensagem da frota russa não é a mesma dos barcos norte-americanos que há 100 anos depuseram ao presidente nacionalista Cipriano Castro para controlar o petróleo venezuelano.

O fortalecimento venezuelano busca garantir o controle de seus hidrocarbonetos, que para as autoridades venezuelanas é a causa da hostilidade do governo estadunidense, sustentada numa hegemonia que hoje parece ser etapa superada na história.

http://www.prensalatina.com.br/RESUMEN%20nov-08_04.html#29110810

Nenhum comentário: