quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Estudo analisa passado colonial em Cabo Verde e São Tomé

Lisboa, 3 dezembro 2008 (Lusa) - A estrutura econômica, social e política gerada durante o período colonial pode ter determinado o êxito no desenvolvimento atual de Cabo Verde em contrapartida a São Tomé e Príncipe, segundo indicações preliminares de um estudo.

"Temos de fazer uma excursão à antiga história, às origens destas duas sociedades para entender o seu desenvolvimento já antes da independência (em 1975). Porque a idéia é que as diferenças que existem entre estas sociedades, entre estes países, não começaram simplesmente com a independência", disse Gerhard Seibert, pesquisador do Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).

Os resultados iniciais da pesquisa, intitulada "Cabo Verde e São Tomé e Príncipe: uma análise comparativa de dois Estados insulares africanos", foram apresentados terça-feira na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

"O projeto visa analisar o desempenho notadamente diferente dos dois países insulares luso-africanos no período pós-colonial, as suas semelhanças e, sobretudo, as suas discrepâncias", disse Seibert.

Segundo o antropólogo alemão, a evolução da estrutura econômica (mais diversificada e sempre menos voltada para a escravidão como mão-de-obra), a consolidação da sociedade crioula, a introdução do ensino, a posição geográfica, a emigração e a diversidade cultural que ocorreram durante o período colonial, possibilitaram uma maior estabilidade e consolidação social e, conseqüentemente, o desenvolvimento de Cabo Verde.

"Em contrapartida, a economia de São Tomé e Príncipe era baseada na mão-de-obra escrava e posteriormente contratada", regime de trabalho depois da abolição da escravatura, mas que em termos gerais não tinha muita diferença. Houve também a marginalização da sociedade crioula e ainda a precária escolaridade da sociedade", acrescentou o pesquisador.

Diferenças

Todos estes fatores não propiciaram a consolidação e a estabilização social em São Tomé e Príncipe, segundo o estudo, que é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FTC).

"Graças a este desenvolvimento, a esta vantagem em termos do capital cultural, através de emigração e através do ensino local, na altura da independência Cabo Verde tinha vantagem em termos dos recursos humanos, embora não em termos das condições naturais, mas o que aconteceu foi que o país conseguiu consolidar esta vantagem. Mas isto é uma conclusão muito provisória", apontou o antropólogo.

"Já em 1975, havia estas diferenças entre os dois arquipélagos, com uma vantagem dos recursos humanos em Cabo Verde que contribuíram para a consolidação da vantagem depois da independência. São Tomé, por razões históricas, durante os séculos do seu desenvolvimento, não tinha estas condições", disse Seibert, coordenador do projeto de pesquisa, ainda em fase de investigação preliminar.

O professor acrescentou que, durante o período pós-colonial, os dois países insulares receberam em termos per capita montantes de ajudas ao desenvolvimento relativamente elevados.

Apesar disso, Cabo Verde se desenvolveu consideravelmente melhor em relação a todos os indicadores, entre os quais crescimento econômico, saúde, educação e a qualidade da governança.

O estudo do ISCTE, que está no primeiro dos seus três anos de duração, é realizado ainda pela pesquisadora portuguesa Elisabete dos Santos Alves Azevedo e pela alemã Heike Drotbohm.

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