Macau, China, 15 dezembro 2008 - A China tem a possibilidade de, tal como o Japão na Ásia Oriental, ser o principal motor do desenvolvimento africano no curto prazo, afirma o especialista em política externa chinesa Edward Friedman, na publicação Yale Global, do centro de Estudos para a Globalização da Universidade de Yale, Estados Unidos
Friedman, professor de Ciência Política na Universidade de Wisconsin, também nos Estados Unidos, defende que o envolvimento da China em África poderá fazer a economia do continente crescer seguindo o padrão dos “gansos selvagens”, imagem que diversos académicos usaram no passado para, tal como voo em formação daquelas aves, explicar o desenvolvimento asiático promovido pelo Japão no pós-guerra.
A teoria dos “gansos selvagens” argumenta que o processo de industrialização dos países é feito em pirâmide, havendo um país que lidera o esforço (o topo da pirâmide), sendo seguido por outras economias menos avançadas e estas por economias menos industrializadas ainda, beneficiando cada uma a seu tempo das suas vantagens comparativas - nomeadamente os custos da mão-de-obra - e recebendo investimento das economias do nível superior.
“A China está a criar em estufa este desenvolvimento com o padrão dos gansos selvagens. Pequim está a aplicar dinheiro em África para tudo, desde a construção de infra-estruturas até ao estabelecimento de laços económicos”, afirma Friedman, destacando o papel das Zonas Económicas Especiais (ZEE) que a China já começou a criar no continente africano.
“Destas áreas, o dinamismo económico vai espalhar-se, à medida que os africanos sejam atraídos pelas ZEE. Os governos vão construir então infra-estruturas e competir para atrair as empresas com mais sucesso”, diz.
Apesar de admitir que, tal como o Japão na Ásia do pós-guerra, a China não está interessada em promover a democracia e os direitos humanos em África e segue sobretudo “imperativos económicos”, Friedman realça os benefícios económicos do esforço chinês para liderar o novo bando de gansos.
“Visto de Pequim, a China em África no século 21 será como o Japão na Ásia Oriental e do Sudeste no meio século depois da Segunda Grande Guerra…Ao ligar-se ao dínamo económico, há benefícios. As melhores práticas aprendem-se quase inconscientemente. As vantagens do líder dinâmico espalham-se pelos países que vêem atrás”, afirma o especialista.
Para Edward Friedman, o processo entre a China e África ganhará cada vez mais intensidade à medida que a economia chinesa subir na escala de valor e que os custos da mão-de-obra na China aumentem, perdendo os produtores chineses competitividade nos mercados de preços mais baixos. A solução, afirma, será transferir a produção para os “gansos do nível seguinte” cuja economia, assim, vai também crescer.
“Os africanos que vêm a China como um salvador podem de facto beneficiar por se juntarem à China e seguirem a sua liderança”, afirma.
Friedman destaca por isso o número cada vez maior de chineses que vem emigrando para África levando consigo uma mentalidade empresarial e ligações a fábricas que produzem bens para os mercados mais baratos e que, para se manterem competitivas, encaram uma mudança para África, onde os salários são mais baratos.
“Já há mais chineses que portugueses na antiga colónia portuguesa de Angola”, diz mesmo Edward Friedman.
Friedman não nega a possibilidade de que o papel da China em África possa vir a ter no futuro algumas consequências negativas, como o esgotamento dos recursos naturais ou a manutenção no poder de elites corruptas, mas no geral aposta nas consequências benignas da relação económica entre as economias chinesa e africana.
“Os africanos estão dispostos a dar à China a oportunidade de reproduzir em África os processos criadores de riqueza que fizeram da Ásia a região do mundo que mais cresceu desde 1945” , afirma.
“Talvez os chineses e os africanos estejam certos e, tal como o Japão transformou a Ásia, também a China possam transformar África”, conclui Edward Friedman. (macauhub)
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