12 novembro 2016, Brasil 247
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Emir Sader*
Bastaram poucos meses
para que o governo golpista dissesse a que veio: a desmontar o que de melhor
havia sido feito neste século, no Brasil. O Estado brasileiro está sendo
reduzido às suas proporções mínimas, deixando de garantir o patrimônio público,
os direitos sociais, a soberania internacional.
Tudo que o governo
toca, ele reduz, ele transforma em irrisório, em medíocre, em intranscedente.
De país respeitado pelo combate à fome e às desigualdades, rapidamente
retornamos a país da exclusão social, que não deixa passar dia sem que se tirem
dezenas de milhares de bolsas famílias de pessoas pobres, sem que percam o
emprego milhares de trabalhadores, sem que a imagem externa do Brasil se
deteriore cada vez mais, sem que um politico alçado por um golpe à presidência,
degrade ainda mais sua imagem pública.
Em pouco tempo em
termos de calendário, o país voltou a se tornar cada vez mais desigual, mais
injusto, mais excludente. O governo instaurou a norma da imoralidade, no seu
comportamento e na composição da gangue que
o compõe.
Em poucos meses o
striptease do Judiciário e do Legislativo nos fizeram ver que não apenas a
democracia foi gravemente ferida, mas também as instituições republicanas. A
Câmara, o Senado, o STF, tornaram—se farsas de poder legislativo e judiciário.
A equipe econômica se
encarrega de tratar de reduzir o país à dimensões de um mercado controlado pelo
capital financeiro – a que pertencem seus membros. Tudo o que se decide vai na
direção de tirar direitos das pessoas e favorecer o capital especulativo.
Volta-se a um acelerado processo de concentração de renda e de exclusão social.
Instaurou-se um
governo de vingança contra os que haviam tido reconhecidos seus direitos. Dos
que têm pouco, se tira tudo o que se possa. Aos que têm tudo, se lhes concede
as melhores condições para que enriqueçam mais.
São seis meses em o
Brasil não é levado em conta, interessa apenas o mercado. Em que o país, a
nação brasileira, a sociedade brasileira, são reduzidos às dimensões do duro
ajuste fiscal.
Os direitos dos
cidadãos são atingidos diariamente, como trabalhadores, como estudantes, como
professores, como mulheres, como jovens, como negros. O Estado renuncia, todos
os dias, às suas responsabilidade de cuidar do patrimônio nacional. Dia sim,
dia não, aquele que usurpa o cargo de presidente da Petrobras, rifa o
patrimônio brasileiro, entregando-o nas mãos das grandes corporações
internacionais, ao mesmo tempo que anula os 10% para educação e saúde que o Brasil
tinha democraticamente conquistado.
É uma horda de
aventureiros que, galgados ao governo por meio de manobras ilegais, sob os
olhares cúmplices e silenciosos do Judiciário, com a opinião publica forjada
pelos monopólios privados dos meios de comunicação, assaltam o país, para
desnacionalizar a economia, desarticular o Estado, desfazer os direitos sociais
da grande maioria, enlamear a imagem do Brasil no mundo.
Foram alguns dos
piores meses da história do Brasil, pelo tamanho da agressão à democracia, pelos
retrocessos sociais, pelo espetáculo imoral e sem pudor que ministros e
parlamentares governistas dão diariamente. Tudo o que de melhor o Brasil havia
conquistado neste século, está sendo colocado em questão, condenando o país ao
retorno ao Mapa da fome e ao FMI, à triste condição de país mais desigual do
continente mais desigual. O que havia de confiança no Judiciário foi
dilapidado, pelas perseguições políticas e pelo perdão aos golpistas e
corruptos que se assenhorearam do Estado e o assaltam como botim.
Quando o povo
brasileiro conseguir recuperar seu legítimo direito democrático de decidir seus
destinos, não será complacente com os responsáveis pela destruição da
democracia, do patrimônio público, dos direitos sociais e da soberania
nacional. Sejam eles políticos, juízes, donos dos meios de comunicação – serão
todos investigados e condenados pelos danos gravíssimos que impõe hoje, por
meio de um golpe, ao país. Uma nova Comissão da Verdade se encarregará de fazer
justiça à democracia, aos direitos dos trabalhadores, às políticas sociais, à
dignidade externa do Brasil.
O povo, conduzido por
seus lideres democráticos, voltará a demonstrar que o Brasil é muito maior do
que aquilo a querem reduzir. Que o potencial do país não requer essa
dilapidação do patrimônio público mas, ao contrario, seu fortalecimento. Que
distribuir renda permanentemente não é somente justo, como alavanca para a
retomada do desenvolvimento. Que o Brasil não pertence aos que o degradam, mas
ao seu povo, que derrotou a ditadura militar e derrotará esta nova ditadura.
*Emir Sader: Colunista do 247, é um dos principais sociólogos e
cientistas políticos brasileiros
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