7 novembro
2016, Brasil 247 http://www.brasil247.com
(Brasil)
Doutor em Ciências Sociais e professor da
Pontificia Universidade Católica de
Minas Gerais -- PUC Minas
Um jogo perverso,
urgido no submundo das disputas reais e simbólicas pela coalizão golpista, está
em pleno andamento desde que os estudantes brasileiros resolveram assumir o
protagonismo da disputa política em curso.
Todos sabemos que o
principal objetivo da camarilha que tomou o poder e quer consolidar um governo
de e para poucos é liquidar o "inimigo", ainda que sejam apenas
estudantes e jovens. Nisto constitui, fundamentalmente, a empreitada golpista.
Desde as eleições de
2014, há imenso esforço para construir um discurso da eliminação do outro, do
diferente, começando pelos partidos políticos, depois os líderes populares, os
movimentos sociais e, agora, os estudantes que espraiam uma onda de resistência
democrática e esperança equilibrista pelo país.
A articulação perversa
de viés fascista tem na mídia o principal front na batalha do discurso da
eliminação do outro. Como todos sabemos, uma das principais características do
fascismo é o uso da comunicação de massa como instrumento de propagação do medo
para justificar a dominação e controle. Neste momento, todas as armas estão
apontadas para as ocupações estudantis.
Querem transformar o
movimento estudantil, o movimento dos sem-terra, os movimentos sociais, ou
seja, todos os seguimentos que rejeitam o golpe em crime organizado. A partir
de tal discurso, é fácil
propagar o ódio, a violência e a eliminação a qualquer
custo daqueles que encarnam os "males" que devem ser combatidos e
extirpados pelos "bons". E a mídia tenta legitimar esse discurso
fascista para, posteriormente, justificar a barbárie do governo contra os
cidadãos.
Há algum tempo, o
ministro da justiça teria dito que "combaterá atitudes criminosas dos
movimentos socais". Ora, excelência, depende do que se entende por crime
organizado. Um passarinho me informou que há uma organização perigosíssima, que
destrói nossa democracia, alocada na praça dos três poderes, com ramificações
na avenida paulista, no jardim botânico e noutras células dentro do país.
Como disse o Papa
Francisco no último sábado (05/11/2016), no encontro com movimentos sociais,
devemos nos atentar para um terrorismo de estado que quer governar com o
chicote do medo: Quem governa então? O dinheiro. Como governa? Com o chicote do
medo, da desigualdade, da violência econômica, social, cultural e militar que
gera sempre mais violência em uma espiral descendente que parece não acabar
nunca. Quanta dor, quanto medo! Existe um terrorismo de base que deriva do
controle global do dinheiro sobre a terra e ameaça toda a humanidade.
Para se sustentar, o
governo impostor tenta, a todo o custo, desqualificar a ação de estudantes e
professores que praticam e apoiam as ocupações, dizendo tratar-se de uma ação
política. Primeiro disseram que os estudantes "invadiram as escolas".
Quanta burrice! De quem são as escolas, senão dos estudantes, dos professores,
dos pais, dos funcionários que lá atuam? Depois, como o discurso não
"colou" nem na mídia golpista, resolveram retomar a estratégia da
criminalização da política. Ora, o discurso da criminalização da política --
enquanto campo legítimo das disputas -- produziu, no último pleito, a maior
ausência dos cidadãos do processo eleitoral. O afastamento do cidadão do espaço
público, por meio dos folhetins semanais e dos fantásticos televisivos, é o
outro objetivo desse desgoverno. Neste momento, esse discurso é utilizado para
colocar a população contra os estudantes.
Mas não adianta
criminalizar cidadãos bem formados, informados e educados. Afinal, todos
sabemos que o processo educacional é eminentemente um processo político. A
educação sempre foi e sempre será política: pela suas ações, omissões e
conivências. Portanto, argumentos rasos e fascistas não obliteram a coragem e o
compromisso cidadão dos estudantes. Eles não são zumbis midiotas: sabem do
desmonte das políticas sociais, ambientais e de educação que estão em curso,
articuladas pelo tridente elitista (afinal, não se trata somente do executivo,
mas dos três poderes).
Como escreveu um colega
professor, "quiçá estejamos diante de outro maio de 68, que não deixou só
bons frutos, mas mudou a cara da educação no mundo, rompendo muitos
lugares-comuns de elitização e blasé acadêmico".
O movimento estudantil
está conseguindo algo que as velhas estruturas políticas e sociais já não são
capazes: nos mostra que uma outra educação é possível. Mais que isso: que um
outro mundo é possível. Por isso ele é tão "perigoso".
Pais, cidadãos e
professores precisamos ter a humildade para aprender essa lição e apoiar esse
movimento.
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