31 março 2013, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
Por Fernando Damasceno, no sítio da CTB
Nas
últimas semanas, não foram poucas as análises que tentaram explicar os motivos
que levaram o Vaticano a escolher um papa latino-americano. Um ponto de vista
expressado tanto por autores mais à esquerda quanto à direita viram no gesto
uma tentativa de combater dois “males” que afetam a América Latina neste começo
de século: o crescimento evangélico e a ascensão de líderes políticos
progressistas em diferentes países da região.
De
ingênua a Igreja Católica, obviamente, não tem nada. No final dos anos 70, a
escolha do papa João Paulo 2º já se dera para fortalecer o combate ao comunismo
no leste europeu. Para alguns autores, o papel desempenhado pelo Vaticano,
somado à política implementada por Margaret Thatcher e Ronald Reagan durante a
década de 80, foi fundamental para a derrocada da União Soviética. O cenário
atual, no entanto, é bem diferente.
Em meio à
atual crise capitalista em todo o planeta, a América Latina é a única região
que tem colocado em prática uma fórmula diferente do que pregava a cartilha
neoliberal das últimas décadas, a partir de uma firme aposta na integração
regional, no fortalecimento da economia interna de cada nação, na consolidação
da democracia e na soberania de seus povos.
O avanço
da influência das religiões denominadas evangélicas na América Latina não está
ligado às mudanças políticas ocorridas no último período (mais especificamente
a partir de 1998, data em que Hugo Chávez foi eleito presidente da Venezuela),
mas é inegável que as mazelas sociais causadas pelo neoliberalismo na região
criaram um terreno fértil para o discurso protestante baseado na Teologia da
Prosperidade.
Pesquisas
no Brasil e em outros países da região apontam que a escolha do papa Francisco
foi muito bem recebida pela maioria da população. Partidos de direita e a mídia
conservadora não têm escondido sua satisfação nas últimas semanas, esperançosos
em retomar o controle da agenda política do continente. Apesar dessa euforia, a
América Latina vive novos tempos, nos quais os religiosos de diferentes crenças
ainda mantêm certa influência social e política, mas em dimensão bastante
reduzida – a eleição de 2010, quando Dilma foi atacada por setores católicos e
evangélicos, é um exemplo concreto dessa limitação.
O
Vaticano precisará perceber que, na América Latina, sua influência poderá ter
algum nível de recuperação se a Igreja souber como se somar às mudanças que vêm
sendo colocadas em prática – o papel dos católicos na Nicarágua é emblemático
nesse atual cenário político. Se ela se mantiver caminhando ao lado do que há
de mais conservador na região, perderá mais uma vez o bonde da história e em
nada contribuirá para combater a desigualdade.
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