Madrid, Espanha, 4 outubro 2010 - A parceria entre a petrolífera chinesa Sinopec e a espanhola Repsol no Brasil dá à empresa chinesa uma posição-chave no sector energético brasileiro, que já tinha em São Tomé e Príncipe e almeja em Angola.
Num dos negócios do ano na indústria petrolífera, a China Petrochemical Corp. (Sinopec) anunciou na sexta-feira que vai pagar 7,1 mil milhões de dólares por uma participação de 40 por cento na unidade brasileira da Repsol YPF, muito activa próximo do campo Tupi, onde em 2008 foi feita uma das maiores descobertas petrolíferas de sempre.
“Esta é uma bacia de águas profundas chave e há muitos desenvolvimentos em curso. A Sinopec estabeleceu uma boa posição, mas o preço pago é muito elevado. Isto mostra a importância que a China coloca em assegurar recursos petrolíferos no estrangeiro”, afirmou o analista Neil Beveridge, da Sanford C. Bernstein & Co., ao Financial Times.
De acordo com Beveridge, os activos da Repsol no Brasil, nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, oferecem reservas de cerca de 1,2 mil milhões de barris, o que significa que a Sinopec pagou 15 dólares por cada barril de petróleo.
Até 2019, a Repsol previa investir 14 mil milhões de dólares no desenvolvimento destes activos.
“A América do Sul parece ser uma área de foco no momento. O foco deixou de ser África e tudo isto faz parte do desejo de segurança energética da China e do excepcional crescimento na procura petrolífera”, adiantou o analista.
A valorização de activos implícita no negócio acabou por impulsionar a cotação em bolsa de outras petrolíferas presentes na zona, caso da portuguesa Galp Energia, que viu os seus títulos subirem 7,8 por cento na sexta-feira.
“Isto confere uma avaliação robusta às reservas no Brasil”, afirmou Peter Hitchens, analista da Panmure Gordon & Co., à agência Bloomberg.
Também para os analistas do banco BPI, o valor pago pela Sinopec é “surpreendentemente elevado”.
Para o diário espanhol El País, a Repsol “encontrou o parceiro que procurava” e que “assegura o dinheiro necessário para explorar os campos petrolíferos em alto mar em que participa”, e é agora parte de um novo “gigante energético na América Latina”.
Outras petrolíferas chinesas como a CNOOC e Sinochem têm vindo a assegurar a participação em blocos petrolíferos no Brasil e também na Argentina.
O valor pago pela parceria com a Repsol está próximo dos 7 mil milhões de dólares que a Sinopec pagou em Junho do ano passado pela Addax Petroleum.
Esta operação deu à Sinopec o controlo de metade dos quatro blocos da zona de desenvolvimento conjunto São Tomé e Príncipe/Nigéria (JDZ) e participação num terceiro, além de activos no Iraque e outros países.
Segundo a analista Ana Cristina Alves, a Sinopec terá em breve uma oportunidade única para expandir activos petrolíferos em Angola, com o novo concurso de blocos petrolíferos, que deverá ter lugar no início do próximo ano.
Para o muito adiado concurso, a petrolífera chinesa está pré-qualificada como operadora e a Sonangol Sinopec International (SSI) como não-operadora, mas também a Addax está qualificada, o que “aumenta as possibilidades de obter activos como operadora em Angola”, escreve a analista em recente artigo no boletim China Monitor, do Centro de Estudos Chineses da Universidade de Stellenbosch, África do Sul.
A China tem vindo a aumentar as suas compras petrolíferas a Angola, país que no primeiro semestre deste ano foi o principal fornecedor de Pequim, mas são modestos os activos detidos pelas petrolíferas chinesas no país.
Em Maio de 2006, a SSI obteve três participações em alguns dos mais disputados novos blocos de águas profundas: 20 por cento do 15/06, 27,5 por cento do 17/06 e 40 por cento do 18/06.
Em 2004, obteve metade do bloco 18, participação igual à da operadora, a BP.
A indústria petrolífera angolana tem atraído ao longo dos anos os grandes actores internacionais do sector, graças aos baixos custos operacionais e taxa de sucesso de exploração muito elevada. (macauhub)
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