2
janeiro 2015, Правда.Ру, Pravda.ru http://www.pravda.ru
(Россия, Russia)
Pátria
Latina
Moscou
(Prensa Latina) -- Na conformação de uma ordem mundial policêntrica e
multipolar, Rússia, América Latina e Caribe avançaram em 2014 para maiores
convergências no plano político e uma crescente complementariedade na esfera
econômica.
Uma
mensagem do presidente Vladimir Putin à XIII Cúpula da Aliança Bolivariana aos
Povos de Nossa América-Tratado dos Povos (ALBA-TCP) refletiu em meados de
dezembro essa comunidade de interesses.
Putin
realçou no texto o merecido prestígio internacional ganhado por essa
organização integracionista ao demonstrar, em 10 anos de existência, eficácia e
boas perspectivas para a cooperação regional.
Realçou
que seus participantes põem em prática o ideário de Simón Bolívar a respeito da
integração dos países latinoamericanos e caribenhos sobre a base de
coincidências históricas, étnicas, culturais e da proximidade de seus
interesses políticos e econômicos.
Em
referência aos assuntos internacionais, o líder russo expressou
grande apreço
pela linha construtiva dos estados da ALBA, e sublinhou que Moscou compartilha
com eles a fidelidade aos princípios de uma ordem mundial justa e democrática
sustentada nas normas do direito Internacional com a ONU em um papel central.
Com
satisfação, destacou o caráter amistoso e de sócios nos laços bilaterais
estabelecidos com os membros da aliança e reafirmou o interesse de continuar
ampliando o diálogo e a interação prática, tanto sobre bases bilaterais como
multilaterais.
"Estou
seguro que isto corresponde com os interesses fundamentais de nossos povos e
avança pelo caminho de assegurar a paz, a estabilidade na América Latina e no
mundo inteiro", concluiu Putin.
Ao
referir-se à ALBA como um ator de importância no mundo atual, o vice-diretor do
Departamento da América Latina da chancelaria da Rússia, Alexander Khokholikov,
qualificou de impressionante que em uma década o produto interno bruto destes
países cresceu 25% no meio da crise econômica global.
"O
agrupamento integracionista também tem demonstrado sua independência política,
incluindo o apoio decisivo frente a tentativas de desestabilizar a ordem na
região e frente aos acontecimentos internacionais", expressou o servidor
público diplomático a Imprensa Latina.
Khokholikov
qualificou como importante a declaração emitida por membros da ALBA em agosto
de 2008 em relação a agressão da Georgia contra Tsinvalí, na Ossétia do Sul, e
a operação militar humanitária de resposta levada a cabo pela Rússia.
"Igualmente,
Cuba e Venezuela têm desempenhado um papel decisivo de apoio em nossas ações para
conseguir uma solução política na Síria", acrescentou.
Queremos
agradecer que em meio a uma pressão muito forte por parte de Estados Unidos e
os países de Ocidente, os integrantes da ALBA têm recusado sempre as sanções
que se tentam impor a Rússia, sublinhou o vice-diretor.
Khokholikov
expressou um agradecimento especial a Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela, que
em março de 2014 votaram na contramão de um projeto de resolução na Assembléia
Geral de Nações Unidas (ONU) contra a Rússia por sua posição frente a crise
criada na Ucrânia com a ruptura da ordem constitucional no último 22 de
fevereiro.
No
plano político, também autoridades governamentais e legislativas russas
expressaram sua rejeição à guerra continuada contra Venezuela e seu presidente,
Nicolás Maduro, mediante violência extremista interna e a difamação midiática
internacional.
Quanto
a Cuba, a Duma estatal (câmara baixa parlamentar russa) e a Chancelaria
expressaram de maneira oficial e na ONU sua rejeição ao bloqueio econômico,
comercial e financeiro dos Estados Unidos contra a ilha.
Demandaram,
assim mesmo, a exclusão da maior das Antillas da lista de países que patrocinam
o terrorismo, criada de maneira arbitrária por Washington para justificar sua
represália a mais de meio século contra mais de 11 milhões de pessoas.
Ao
mesmo tempo, as autoridades russas insistiram na demanda da libertação de
Gerardo Hernández, Ramón Labañino e Antonio Guerreiro, os três antiterroristas
que recentemente regressaram a Cuba.
Eles,
junto a René González e Fernando González, conformavam o grupo conhecido
mundialmente como os Cinco, que monitorava grupos extremistas nos estados
unidos que preparavam ações violentas contra seu país.
René
e Fernando retornaram anteriormente a Cuba, depois de completamente retiradas
suas condenações.
O
presidente Vladimir Putin acentuou entre 11 e 16 de julho de 2014 o interesse
da Rússia pela America Latina e o Caribe ao completar nesta região a volta mais
longa até o momento em seu terceiro mandato.
Fontes
do Kremlin precisaram que só a viagens em avião o estadista dedicou 46 horas, e
durante o périplo planificado inicialmente para Cuba, Argentina e Brasil,
acrescentou a Nicarágua, no que constituiu a primeira visita de um chefe de
Estado russo a Managua em 70 anos de relações diplomáticas.
Putin
reuniu-se em Havana com o líder histórico da Revolução cubana, Fidel Castro, e
com o presidente, Raúl Castro. Os dois mandatários assistiram à assinatura de
uma dezena de acordos de relevância para a colaboração econômica entre as
partes.
Ante
a imprensa, o estadista cubano destacou a decisão de Moscou de anular 90% da
dívida cubana com a antiga União Soviética, e o acordo de que se invista os
outros 10% restante -uns três mil 500 milhões de dólares- em projetos sociais
em Cuba.
Em
Managua, com seu par Daniel Ortega, Putin constatou o excelente estado das
relações políticas e analisou diversos projetos econômicos, entre eles a
possível participação de empresas russas nas obras do canal interoceânico da
Nicarágua.
Precedida
por uma atmosfera contaminada pelas sanções econômicas dos Estados Unidos e
seus aliados contra Rússia, devido a sua crítica posição frente ao golpe de
estado de 22 de fevereiro na Ucrânia, ocorreu a escala em Buenos Aires.
Ao
se encontrar com a presidenta Cristina Fernández, Putin enfatizou na
importância estratégica deste país para Moscou, como um dos grandes produtores
de alimentos do planeta e na possibilidade de avançar em projetos inovadores
conjuntos para fomentar tecnologias e mercadorias de alto valor agregado.
Uma
reunião com o mandatário uruguaio, José Mujica, sustentou Putin na Argentina
antes de continuar viagem para Brasil, onde conversou com a chefa de Estado,
Dilma Roussef, e posteriormente participou na cúpula do grupo Brics (Brasil,
Rússia, Índia, Chinesa e África do Sul).
À
margem dessa reunião multilateral, no Brasil o chefe do Kremlin e seus pares do
Brics expuseram ante os 12 presidentes da União de Nações do Sul (Unasul) as
possibilidades que oferece aos países em via de desenvolvimento o banco criado
por este grupo emergente.
Em
formato bilateral, assim mesmo, Putin dialogou no Brasil com os titulares da
Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela.
Desde
o ponto de vista econômico-comercial, fontes do Kremlin informaram que as
negociações e acordos especificados ao longo da viagem do líder russo se
relacionam com energética, transporte, defesa, indústria espacial e maquinaria
pesada.
Estamos
interessados em uma América Latina unida, forte, economicamente sustentável e
politicamente independente, que se esteja convertendo em uma parte importante
do mundo policêntrico e emergente, expressou Putin ao resumir o objetivo da sua
viagem.
Ao
abordar o tema em entrevista concedida em julho a Imprensa Latina, Putin
enfatizou na importância que Moscou confere a ALBA-TCP, Unasul, o Mercado Comum
do Sul (Mercosul), o Sistema de Integração Centroamericana (SICA), a Comunidade
do Caribe (Caricom) e a Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos
(Celac).
Especificou
o estadista que Moscou está interessado em criar alianças plenas, tecnológicas,
de projetos e produção com os países da região e aproveitar ao máximo as
possibilidades das economias complementares.
A
respeito, sublinhou Putin as possibilidades que oferece a cooperação em matérias
tão importantes como as petroleira e gasífera, a hidroenergia e a energia
atômica, a construção de aviões e de helicópteros, as infraestruturas e, nos
últimos tempos, também a biofarmácia e a tecnologia da informação.
De
maneira reiterada, o chanceler, Serguei Lavrov, fez questão da importância de
que se estabeleçam intercâmbios concretos entre as estruturas de integração da
America Latina e o Caribe e a União Econômica Euro-asiática que em 1 de janeiro
de 2015 fundarão oficialmente Bielorrússia, Cazaquistão e Rússia.
Espera-se
que Armênia e Kirguistão se somem como membros de pleno direito, em decorrência
do novo ano, a este mercado de mais de 180 milhões de habitantes.
Apesar
da crise da economia global desde 2008, uma tendência crescente caracteriza o
intercâmbio comercial entre Rússia e América Latina nos últimos anos. O
movimento de mercadorias em uma e outra direções registrou um custo em 2012
superior aos 15 bilhões de dólares e em 2013 superou os 18 bilhões dessa moeda,
segundo o vice chefe de departamento na chancelaria russa Alexandr Khokholikov.
Mas
para além das cifras, uma análise qualitativa confirma que naves de fabricação
russa propiciaram a reanimação da frota da linha comercial Cubana de Aviação a
partir de 2006, quando a indústria aeronáutica de Moscou cumpria uma década sem
exportar um desses aparelhos.
Nicarágua
negocia na atualidade um projeto similar ao de Cuba para fomentar voos
comerciais com aviões próprios, segundo fontes da chancelaria do país
centro-americano.
A
experiência exitosa da maior das Antilhas, também estimulou à mexicana Interjet
a comprar 20 naves russas para voos regionais SuperJet-100 e, segundo seu
serviço de imprensa, analisa a possibilidade de realizar novo pedido.
Outro
exemplo de complementaridade, constitui a marcada presença de tecnologia russa
em projetos de geração energética em diversos países latino-americanos e
caribenhos e, inclusive, a valoração de criar empresas mistas no campo do uso
pacífico do átomo com Brasil e Argentina, também fabricantes de centrais
nucleares.
Uma
opção confiável e eficaz em frente às tentativas de Estados Unidos de
midiatizar a independência e a soberania dos povos latino-americanos mediante o
boicote e até de possíveis agressões são os armamentos e outros meios militares
de fabricação russa, cuja presença é notória em diversos países da região.
Diferentes
ofertas da indústria espacial e o sistema russo de navegação e posicionamento
do satélite Glonass abrem diversas possibilidades à zona que se estende do Rio
Bravo à Patagônia, enquanto a Moscou lhe permite localizar nesse território
pontos de recepção necessários para operar globalmente esse complexo.
No
entanto, a complementaridade, não só econômica, mas também política entre
Rússia e América Latina ficou evidenciada como resultado da onda de sanções
impostas pelos Estados Unidos e seus aliados como represália ante a rejeição de
Moscou ao golpe de estado promovido pelo Ocidente em Kiev em fevereiro de 2014.
Um
decreto promulgado por Putin em 6 de agosto em resposta a sanções do Ocidente
contra o setor agroindustrial nacional, vetou o rendimento de carnes, pescado,
queijos, leite e produtos lácteos, bem como frutas e vegetais provenientes de
Austrália, Canadá, Estados Unidos, União Europeia (UE) e Noruega.
A
veda às importações de alimentos regerá por um ano e estará em dependência dos
enfoques construtivos de parte dos estados ocidentais, segundo explicou o
primeiro ministro, Dmitri Medvedev.
O
Serviço russo de Controle Veterinário e Fitossanitário confirmou que de
imediato começaram a chegar a Moscou as ofertas de centenas de empresas
latino-americanas desejosas de incrementar suas vendas e ocupar este nicho de
mercado.
Serguei
Dankvert, máxima autoridade regulamentar em matéria de alimentos neste país,
estimou em agosto as necessidades da Rússia neste setor em mais de 18 bilhões
de dólares.
A
União Europeia (UE), por sua vez, ignorou as regras da Organização Mundial do
Comércio e tratou de pressionar às nações latino-americanas para que
renunciassem a incrementar suas ofertas a Rússia.
Uma
síntese da independência e soberania política que caracteriza aos povos da
região na atualidade ficou refletida na declaração do presidente equatoriano,
Rafael Correia, ao conhecer as tentativas intimidatórias da UE.
Equador
não pedirá permissão a ninguém para vender alimentos a países amigos, advertiu
o dignitário sul-americano.
Tal
postura se evidência hoje na presença dos armazéns russos de maiores volumes de
carnes, pescado, frutas, vinhos, grãos e outros alimentos procedentes de nações
que vão desde México até Chile.
Segundo
as estatísticas, Cazaquistão é o país de maior incremento no fornecimento de
carne a Moscou (475%), seguido de Nicarágua com 173 unidades sobre 100, e
Argentina com 146 pontos percentuais.
A nova imagem de Cuba
Dentro
deste contexto, no começo de dezembro provocou uma grata acolhida entre os
moscovitas a oferta mais atual de Cuba, como outra mostra das possibilidades de
complementaridade entre as economias do estado euro-asiático e as dos países
latino-americanos e caribenhos.
O
seminário "Pesquisando o novo: os sucessos da medicina cubana para o
mercado russo" centrou o interesse de dezenas de profissionais do setor na
Feira Internacional Saúde-2014 no Centro de Exposições de Moscou.
Organizado
pela Câmera de Comércio de Cuba e com a participação de especialistas de alta
qualificação, o foro mostrou aos anfitriões projetos inovadores na indústria
biotecnológica, a produção de vacinas, preparados naturais, medicina nuclear e
serviços médicos.
De
grande impacto resultou a exposição da doutora Carmen Deita, gerente regional
de vendas na Comunidade de Estados Independentes de HeberBiotech SA,
representante comercial exclusivo do Centro de Engenharia Genética e
Biotecnologia (CIGB) de Havana.
Em
sua conferência "Indústria farmacêutica cubana é virada para a
saúde", Deita realçou a alta eficácia do produto Hebertprot-P na luta por
evitar amputações no pé dos doentes de diabetes mellitus.
Segundo
as estatísticas russas, por causa desta doença a cada ano sofrem amputação
cerca de 30 mil pessoas, e a notícia de que 17 de fevereiro último foi
registrado este medicamento em Moscou constitui uma verdadeira esperança para
os aproximadamente 3 milhões de pacientes deste mau no estado euro-asiático.
Muito
interesse provocaram também as propostas anticancerígenas do Centro de
Imunologia Molecular (CIM) e da empresa Labiofam; bem como contribuição de
especialistas da Agência de Energia Nuclear de Cuba em processos de diagnóstico
e terapêuticos com membranas anti ulcerosas, equipes médicas laser e detectores
de grande utilidade na cardiologia.
Laboratórios
Dalmer SA apresentou sua faixa de produtos inovadores de impacto na melhoria da
qualidade de vida, e perguntas e negociações originou uma conferência sobre o
Centro de Histoterapia Placentaria, especializado em patologias da pele e o
cabelo.
O
seminário e a mostra de todos estes produtos durante uma semana em um estande
de 30 metros quadrados na feira, permitiu entender a muitos por que uma pequena
ilha do Caribe é capaz de enviar centenas de profissionais a lutar na África
contra o Ébola.
* Correspondente de Imprensa Latina
na Rússia.
Timothy
Bancroft-Hinchey
Nenhum comentário:
Postar um comentário