10 setembro 2009/timorlorosaenacao
Declarado em Tribunal -- XANANA GUSMÃO, ISF E MUNJ* APOIAVAM ALFREDO REINADO
Ontem, dia 9, decorreu nova sessão em audiência do processo que envolve os 28 inculpados nos acontecimentos de 11 de Fevereiro de 2008. Das declarações prestadas os nossos observadores salientam as de Martinho de Almeida Carlos, um dos “peticionários rebeldes” que acompanhava Alfredo Reinado e testemunhou.
Martinho fez declarações reportadas a 2006, tendo declarado que foi para Aileu com o major Alfredo Reinado e demais elementos.
No depoimento, escutado e registado atentamente pelo tribunal, referiu que no mês de Junho o Presidente Xanana ordenou a Alfredo Reinado que viesse até Balibar para ir buscar elementos do Railos que estavam escondidos na sua casa de Balibar, com armas.
Então, após as ordens de Xanana Gusmão, o major deu ordens, como Comandante, para se deslocarem a Balibar e cumprir a determinação do Presidente. Meteram-se nas viaturas devidamente armados e “descemos de Maubisse para Balibar até casa do Presidente Xanana. A nossa escolta era os militares da ISF. Nessa noite, ao chegarmos à casa, do Presidente, Xanana, Railós e Alfredo Reinado sentaram sozinhos na sala, pois a residência dele tem várias casas, e conversaram.”
Segundo Martinho Carlos, “Nós, os soldados, ficámos longe porque os elementos das ISF passaram a fazer a segurança da casa. Fomos jantar na cozinha que fica um pouco distante da casa principal, onde era a reunião. Comemos arroz e bife dentro da lata tudo misturado com mostarda”.
O declarante acrescentou também que a casa do PR Xanana tem várias casas contíguas e que os homens de Railos estavam num local mais alto que aquele onde eles estavam. “Eram 17 homens armados com 17 armas H17. Depois do jantar, Alfredo Reinado recebeu ordens de Xanana para levar os homens do Railos e as armas.”
As ordens foram para que voltassem imediatamente para Maubisse. “As ISF também voltaram para Maubisse com os nossos homens e o major. Quando chegámos, os 17 homens do Railos ficaram numa casa separada da nossa. Ficaram lá por uma semana. Logo de seguida veio outra ordem de Xanana Gusmão para sairmos dali e levarmos todas aquelas armas”.
Quando voltaram a casa de Xanana, em Balibar, “o jantar já estava preparado, Xanana, Railos e AR falaram rapidamente e saímos. Nós viemos de Maubisse num carro Eveco, militar, português, grande e com carroçaria aberta; as ISF noutro carro. O Railos participou na reunião, mas não foi connosco para Maubisse; foi apenas o seu segundo responsável ARAKAT. José Gomes, conhecido por NAISIA, é um dos elementos; depois, o major disse que voltaríamos para Dili para resolvermos os problemas. Os homens das ISF acompanharam o nosso grupo: 2 de helicóptero e também de carro (muitas carros). As Forças Australianas davam-nos comida e água; o MUNJ passou a ajudar-nos quando estávamos em Ermera.
Quando Alfredo Reinado desceu da montanha e veio para Díli, com os seus homens, “fomos para uma casa no heliporto, perto das ISF; a GNR chegou e prendeu-nos. Fomos para a prisão de Becora. Lá, ficávamos separados do major. Um dia, no tempo de recreio ele disse-nos que íamos sair dali, que estava tudo arranjado; recebemos ordem do Major que nessa data tínhamos que sair”, declarou Martinho.
Continuou declarando que na tarde de 30 de Agosto de 2006 “os portões foram abertos mas não vimos por quem, exactamente às 14 horas, como tinha dito o major. Todos os guardas ficaram calados e nós saímos; eles viram que nós estávamos a sair mas não fizeram nada. Nem o major, nem nós tínhamos armas; um carro preto estava parado à frente da prisão de Becora à espera do major Reinado; ele entrou no carro e desapareceu; cada um de nós voltou para sua casa”.
Martinho esteve uns dias sem estar com Reinado, depois, como disse, “fui a Ermera para a Parada Militar em Gleno e dormi algumas vezes em casa do major.”
Depois da Parada Militar, “quando os elementos do MUNJ foram buscar o major para uma reunião, em 15 de Dezembro de 2007: lembro-me que foram lá o Dr. Benevides”, que era o advogado de Reinado, “o Lucas Aiata e outros de que não recordo o nome; era meia-noite e já estávamos a dormir quando eles apareceram; não tinham levado as escoltas das ISF ou da UNPOL para trazer o major para uma reunião em Dili; não havia ninguém das ISF ou da UNPOL para escoltar o Major; Mana Angie estava lá; ela dormia no mesmo quarto com o Major; do MUNJ eram três carros, mas não posso reconhecer os carros. Os elementos acordaram porque o major mandou levantar e fazer café para o MUNJ. Nós não gostámos, porque tivemos de levantar-nos a meio da noite; todos nós vimos os elementos do MUNJ.”
Dias depois Martinho Carlos foi para sua casa e afirmou que não teve mais contactos “com o major ou com o grupo até saber da sua morte”. Declarou ainda que conhece alguns dos arguidos, outros não; que seu Comandante em 2003 era Gastão Salsinha, que foi seu instrutor durante 6 meses. Martinho foi militar durante 5 anos e saiu em 2006; saiu com o Comandante major AR, estava na Polícia Militar; não se lembra quando saiu porque já passou algum muito tempo; dos colegas alguns estão mortos; “outros estão aqui sentados, 3 colegas eram da Polícia Militar: o Guterres, o Gilson e o Paulo Neno”.
Disse que Neno esteve com eles em Aileu e que também fugiu de Becora com o Comandante e outros colegas. “Alguns desses colegas estão aqui (no tribunal): Lay, Mota, por exemplo.
Declarou que o major, e “somente ele, era o meu Comandante. Mais ninguém.” Que o major “recebia ordens de Xanana Gusmão”.
Na Parada Militar de Ermera estavam Gilson, Lay, mas havia muitas outras pessoas, militares; muitos apoiantes estavam concentrados em Ermera; quando estavam juntos falavam sobre a resolução dos problemas; o Major morava em Lauala; havia ali muitas casas, de colegas e civis. Em 2008 estava em Maubisse; algumas vezes foi a Lauala mas voltava rapidamente. No mês de Fevereiro, antes do dia 11 de Fevereiro, estava em Maubisse, na sua casa; antes do dia 11, no mês de Fevereiro, não se recordava se esteve em Lauala”.
Temos conhecimento do “desconforto” causado pelas declarações de Martinho, fonte credível declarou não se admirar de que as pressões (por entidade que revelou mas que guardamos em “carteira”) sobre o declarante se estejam a fazer sentir de modo que até "poderá pôr a sua vida em risco"…
* MUNJ (Movimento de Unidade Nacional para a Justiça): organização política controlada por Xanana Gusmão.
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