23 setembro 2009/Vermelho http//www.vermelho.org.br
Não foram poucas as menções de apoio que marcaram o ato de abertura do 2º Encontro Sindical Nossa América, nesta terça-feira (22), em São Paulo. Cerca de 300 sindicalistas saudaram, por exemplo, o cinquentenário da Revolução Cubana, a integração latino-americana e a resistência dos trabalhadores diante da crise do capitalismo. O que prevaleceu, porém, foram discursos de protesto. Nada esteve mais sob ataque do que o golpe em Honduras e a instalação de bases navais americanas na Colômbia.
“Quero fazer uma grande saudação ao povo hondurenho pela resistência na embaixada brasileira”, disse Wagner Gomes, presidente da anfitriã CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). “Que golpes assim não se repitam mais em nosso continente”, agregou Wagner, que ― a exemplo do conjunto dos sindicalistas do encontro ― saiu em defesa de Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras em 28 de junho.
“O golpe contra o governo legitimamente eleito em Honduras afeta a estabilidade de nosso continente”, afirmou o cubano Rámon Cardona, secretário para a América Latina da Federação Sindical Mundial (FSM). Ele também criticou a instalação de bases americanas na Colômbia ― uma “violência bélica” à qual o encontro deve “manifestar seu vigoroso repúdio”.
Na opinião do dirigente da FSM, o Nossa América deve seguir a rigor seu lema ― “Frente à crise: integração!” ―, para se consolidar como “um firme e ativo propulsor da integração entre os povos”. Ramón explica: “Compartilhamos histórias, trincheiras e esperanças. Devemos debater as bases mínimas de ação e construir alternativas. Temos de multiplicar ações.”
Debater, sim ― mas o Nossa América “não é um encontro meramente para discussões”. É o que frisa o uruguaio Juan Castillo, do Plenário Intersindical de Trabalhadores (PIT) e da Convenção Nacional dos Trabalhadores (CNT). “O Nossa América não nasceu para competir com nenhuma outra entidade sindical. Nesta jornada de debates tão representativos, temos de elevar nosso papel de classe, construir a maior unidade possível.”
Novos tempos para lutar
Ao enfatizar que a “grave crise” do capitalismo não é só financeira — mas também “política, econômica e moral” —, José Reinaldo de Carvalho, secretário de Relações Internacionais do PCdoB, evocou o fortalecimento da luta pelo socialismo. “Não haverá saída virtuosa para a crise à margem dos trabalhadores. É preciso, mais do que nunca, levara diante a luta pela soberania das nações e pela integração entre os povos”.
Representando a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), o líder comunitário Wanderlei Gomes qualificou o encontro como “um momento para fortalecer a resistência ao projeto neoliberal que tantos males trouxe para os trabalhadores”. Segundo ele, a reação capitalista à crise veio na forma de uma “onda fascista” ― derrotada, no entanto, por uma outra onda, de feições “progressistas e populares”.
Para Socorrro Gomes, presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), uma das “contraofensivas” da direita é a reinstalação da 4ª Frota na América Latina. Socorro rechaçou a proposta de ativação de bases americanas na Colômbia. “São bases do imperialismo estadunidense para travar as mudanças. A América Latina é um continente de paz, e não aceitaremos as bases”, afirmou.
A Revolução Cubana de 1959 ― que completou 50 anos em 1º de janeiro ― foi reverenciada por vários oradores, como João Paulo, da Coordenação Nacional do MST. “Cuba é o exemplo maior de solidariedade aos povos, um farol de lutas”, declarou. Modesto, Salvador Valdés, da Central dos Trabalhadores de Cuba (CTC), falou da “humilde experiência” de seu país. Disse que Cuba só “resistiu, lutou e seguiu firme por causa da unidade” — e concluiu, sob aplausos: “Que venham mais 50 anos!”.
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário executivo do Ministério de Relações Exteriores, comparou a iniciativa do encontro com a política externa brasileira. Além do combate à crise e da luta “pela reformulação do sistema internacional”, as duas iniciativas pautam a integração latino-americana. “Nossa luta sofre muitas críticas. A crítica da mídia conservadora é uma demonstração das correções de nossos caminhos”, ironizou.
Além de cem delegados brasileiros, o 2º Encontro Nossa América reúne 150 sindicalistas estrangeiros, de 28 países ― sendo 20 deles do continente americano. Pelo menos 83 organizações sindicais estão representadas no encontro, que segue até esta quinta-feira (24), no Hotel Braston.
De São Paulo,
André Cintra
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quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Brasil/Nossa América repudia bases navais americanas e golpe em Honduras
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