Lisboa, 17 julho 2009 (Lusa) - O primeiro ano da presidência portuguesa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) foi marcado pela maior visibilidade internacional da organização, devido à crise guineense, e o persistente atraso na promoção da língua, segundo analistas ouvidos pela Agência Lusa.
Para Patrícia Magalhães Ferreira, pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais, é na difícil tarefa de "manter a Guiné-Bissau nas agendas internacionais que a presidência portuguesa tem tido um papel mais positivo", e a organização soube assumir uma "postura coerente" na crise, coordenando-se com os atores nacionais e regionais em vez de procurar liderar.
Lisboa conseguiu neste primeiro ano "projetar a CPLP em termos de visibilidade no exterior, nomeadamente junto de organizações como a União Africana, Comissão Europeia, Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao)".
O melhor do último ano, de acordo com Patrícia Magalhães Ferreira, foram os desenvolvimentos setoriais, como o Plano Estratégico para a Saúde e a criação de centros de excelência militar.
Por outro lado, as negociações se arrastam na área da cidadania e circulação no espaço lusófono, e na promoção da língua portuguesa, que, "apesar de ser o cimento da organização, é paradoxalmente o elo mais fraco".
Deficiências
Adelino Maltez, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), afirmou que a capacidade de promover o ensino do português no Timor Leste será uma das "provas de vida" da organização lusófona, que qualifica, por enquanto, como "uma cooperativa de boas vontades".
"A CPLP deveria reparar mais no Timor Leste, ir além dos discursos românticos e manifestações que dizem sempre o mesmo. Se alguém quer apostar na lusofonia, deve ter um programa integrado de ensino de português. Até agora só Portugal e o Brasil fizeram isso, mas muito pouco", afirmou.
No último ano da organização, "faltou um bocado de Lula", defendeu o professor universitário, referindo-se ao presidente do Brasil, acrescentando que "a CPLP é sobretudo um espaço do sul e Portugal um representante no hemisfério norte".
"Enquanto não for devidamente 'sulizada', a CPLP não corresponde à sua missão no mundo e eu acho que o mundo precisa desta irmandade", disse à Lusa.
Corsino Tolentino, funcionário superior do Ministério das Relações Exteriores de Cabo Verde, considera "óbvio" o fracasso da política linguística.
"Isto é uma espécie de perda rumo ou da referência. E pode ser fatal para a CPLP. (...) Se abandonar a sua própria razão de ser, que é a valorização da Língua, pode correr o risco da insignificância", sustentou à Lusa o ex-ministro da Educação de Cabo Verde, embaixador e membro do Conselho Executivo da Unesco, além de diretor da Fundação Calouste Gulbenkian.
Nesse sentido, admitiu que a presidência portuguesa da CPLP é "positiva", embora não veja "qualquer destaque", mesmo apesar da "atitude exemplar" da criação do Fundo Especial de 30 milhões de euros, para apoiar a valorização do português.
Lado positivo
O jornalista e escritor guineense Tony Tcheca faz um balanço mais positivo, sobretudo na abertura da CPLP a organizações da sociedade civil.
"Dá para perceber que há uma tentativa da organização aproximar-se das pessoas, da comunidade. Era uma das grandes críticas que se fazia", considerou.
O escritor moçambicano Calane da Silva salientou, por sua vez, a contribuição da iniciativa privada, principalmente em esporte e cultura, de que são exemplo os Jogos da Lusofonia.
"Estamos condenados pela história a entendermo-nos e estendermos a mão fraternal, devido ao passado comum", afirmou à Lusa o diretor do Centro Cultural Moçambique-Brasil.
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