Lisboa, Portugal, 20 julho 2009 – O crescimento económico em Moçambique vai manter-se a níveis “confortáveis”, apesar da desaceleração causada pela crise, que se reflecte na redução das exportações e nas receitas do Estado, afirma o banco português BPI.
“Não parece haver grandes riscos para o crescimento, pois existe algum isolamento face à crise financeira internacional. Esta apenas se tornaria mais evidente por eventuais dificuldades de financiamento, via donativos internacionais ou IDE, ou por eventual maior travagem da produção no complexo industrial da Mozal, factores que parecem relativamente controlados”, refere o banco no relatório de Junho sobre o país.
As actuais previsões de crescimento para este ano – entre 4 por cento e 4,5 por cento – são “confortáveis” e mesmo “bastante positivas”, atendendo ao “panorama global recessivo”, adianta o documento do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros, assinado por Paula Carvalho e João Vítor de Sousa.
O crescimento económico moçambicano tem vindo a abrandar: de 8,7 por cento em 2006 para 7,6 por cento em 2007 e 6,8 por cento em 2008, de acordo com dados estatísticos oficiais.
No ano passado, a agricultura foi o sector que mais contribuiu para o crescimento do PIB (30 por cento), apresentando “forte dinamismo devido à prioridade que tem sido dada pelas autoridades ao seu desenvolvimento”.
Seguem-se transportes e comunicações (25 por cento), comércio (10,8 por cento) e serviços financeiros (9,4 por cento).
Já este ano, é visível uma quebra de actividade no transporte de mercadorias para exportação, nomeadamente minério (menos 30 por cento nos primeiros meses do ano) devido à forte queda da procura pelos países asiáticos, nomeadamente China e Índia.
A crise “deverá fazer-se sentir sobretudo através de alguma retracção do investimento programado e também da queda das exportações, nomeadamente de alumínio, dado o seu peso ainda considerável na actividade produtiva e na balança externa”, refere.
Os doadores internacionais já assumiram um compromisso até 2010, com donativos que representam perto de 14,5 por cento do PIB e 50 por cento da receita pública, permitindo “financiar os gastos do Estado” e “impulsionar o investimento”.
“O governo tem procurado desenvolver estratégias que minorem os efeitos perniciosos da crise, como a procura de destinos alternativos para as exportações mais afectadas, além do esforço contínuo de formalização da actividade económica, de modo a gerar uma base de expansão mais sustentável das contas do Estado”, adianta.
A taxa de inflação evolui “positivamente”, graças à queda do preço do petróleo e bens alimentares no mercado internacional e às perspectivas de boa colheita agrícola doméstica, “embora a evolução cambial ameaçe dificultar a trajectória”.
Outro factor de conforto é a perspectiva de acesso a uma linha de crédito do FMI contra choques externos, para lidar com a quebra de exportações e depreciação do metical.
Quanto aos grandes projectos, se alguns foram adiados, como as areias pesadas de Moatize e outros reduzidos em escala (Mozal, Moma), há também aumentos de produção (Sasol) e mesmo actividade “fervilhante”, caso do carvão de Tete, linha ferroviária do Sena (Caia-porto da Beira), exploração petrolífera no Rovuma e segunda barragem no Zambeze.
A médio e longo prazos subsistem “algumas reticências”, dada “a aparente ausência de fortes convicções quanto ao caminho a seguir” para redução da dependência face ao exterior, em particular aos donativos internacionais.
A avaliação “globalmente positiva” do BPI é feita na sequência de uma visita ao país, a primeira desde 2007, realçando a dinamização do comércio e circulação de bens e mercadorias, a par da “facilidade de movimentação pedestre e quase total ausência de sentimento de insegurança”, que favorece o clima de negócios.
Menos favoráveis, sublinha, são as deficiências de saneamento básico, degradação do parque imobiliário, carência de infra-estruturas e transportes públicos.
“Estamos francamente optimistas para a economia moçambicana, ainda que as francas melhorias observadas nos principais índices de desenvolvimento aparentem agora estar a perder fulgor. Mas a classe política e os dirigentes moçambicanos têm já um percurso feito importante, pelo que naturalmente existirá a consciência de que é preciso actuar de forma muito pró-activa”, sublinham os economistas. (macauhub)
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