Mylena Fiori, enviada especial/Agência Brasil /14 janeiro 2008
Cidade da Guatemala (Guatemala) - Cuba fica apenas a 130 quilômetros da costa dos Estados Unidos, mas os norte-americanos não podem, oficialmente, cruzar o Mar do Caribe para conhecer a ilha de Fidel Castro.
As empresas norte-americanas não podem ter negócios em Cuba. Nem mesmo comprar ou vender produtos para o país. Multinacionais que queiram exportar para os Estados Unidos também não podem ter, em seus produtos, componentes cubanos.
O embargo comercial, econômico e financeiro foi imposto em 1962, dois anos após as forças revolucionárias lideradas por Fidel Castro derrubarem o governo do ditador Fulgencio Batista e instalarem o regime socialista no país.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o ministro-conselheiro da embaixada cubana em Brasília, Alejandro Palacios, avalia os laços entre Brasil e Cuba.
Segundo ele, as relações tiveram progresso nos últimos anos em todas as áreas e ajudam a superar os efeitos do embargo econômico. E devem se aprofundar ainda mais a partir dessa segunda visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz ao país a partir de hoje (14) à noite, após chegar da Guatemala.
Agência Brasil: Quais as principais áreas de cooperação, hoje, entre Brasil e Cuba?
Alejandro Palacios: Hoje, os dois países têm acordo de cooperação científico-técnica para a produção conjunta de medicamentos. Há cooperação também no campo da veterinária – um grupo de técnicos cubanos esta na Amazônia trabalhando no combate à malária. Também há acordos para a formação de recursos humanos. Mais de 700 brasileiros, de classes pobres, estudam medicina na Escola Latino-Americana de Ciências Médicas (Elam) de Cuba. Mais de 100 já se formaram, mas não podem exercer a profissão no Brasil. Há também intercâmbio acadêmico entre profissionais de universidades e centros de investigação dos dois países.
ABr: O presidente Lula é amigo de longa data do presidente cubano, Fidel Castro. Mudou a relação entre os dois países nos últimos cinco anos?
Palacios: As relações se intensificaram e hoje o Brasil é o segundo sócio comercial de Cuba na América Latina e está entre os 10 e 15 sócios comerciais de Cuba em nível mundial.
ABr: O que o Brasil vende para Cuba e o que Cuba vende para o Brasil?
Palacios: Há uma grande variedade de produtos. Cuba compra do Brasil, por exemplo, muitos produtos alimentícios e vende produtos do campo da medicina e da biotecnologia. Cuba também compra do Brasil equipamentos, maquinarias, veículos automotores.
ABr: O que Cuba espera desse aprofundamento das relações bilaterais? Espera, por exemplo, o apoio do Brasil em uma futura transição de poder?
Palacios: Há um princípio da política exterior cubana que diz respeito à soberania dos Estados e à não ingerência em assuntos internos dos países. Não obstante, o Brasil e seu governo são considerados um povo amigo, irmão. Temos recebido do Brasil e pensamos continuar recebendo seu apoio na luta que vive nosso povo pelo levantamento do criminal bloqueio econômico, comercial e financeiro que os Estados Unidos impôs a Cuba há mais de quatro décadas. Há 16 anos, as Nações Unidas adotam uma resolução aprovada por quase todos os Estados-membros, exigindo o fim desse criminal e genocida bloqueio imposto à Cuba, que é uma guerra econômica contra nosso país. Nesse tema, temos recebido e esperamos seguir recebendo o apoio do governo brasileiro.
ABr: Hoje, na prática, o que representa o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba?
Palacios: Essa guerra econômica foi imposta pelos Estados Unidos ao povo cubano nos anos 60. Como em Cuba não existe uma oposição política para derrotar a revolução cubana, decidiram que adotariam uma série de medidas para impedir o desenvolvimento econômico e social e criaram uma situação interna que pudesse justificar uma intervenção norte-americana ou uma ação do povo contra o governo revolucionário. Hoje, impedem que o governo cubano possa adquirir medicamentos produzidos somente por empresas norte-americanas. Esse bloqueio impede o povo americano de fazer viagens a Cuba, impede todas as empresas norte-americanas de ter relações com Cuba.
ABr: O bloqueio também impede as relações de Cuba com o resto do mundo?
Palacios: Esse bloqueio tem um caráter extraterritorial porque as filiais de empresas norte-americanas radicadas em outros países também são impedidas de ter negócios e fazer comércio com Cuba. Esse bloqueio já custou ao povo cubano mais de US$ 180 bilhões, cifra que poderia ter significado um avanço colossal para o desenvolvimento econômico e social do povo cubano.
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