The Southeast Asian Times/News Reports
Tradução de Margarida/Timor Online/21 janeiro 2008
Dili, Janeiro 18:
O supostamente imparcial Procurador-Geral de Timor-Leste Longuinhos Monteiro tem-se recusado a investigar a alegação do suspeito de homicídio-desertor-amotinado Alfredo Reinado de que o presidente agora-primeiro-ministro Xanana Gusmão foi o autor dos distúrbios do ano passado que levaram o país recém-independente à beira da guerra civil e a uma ocupação militar liderada pelos Australianos.
Em vez disso, Longuinhos Monteiro – que foi rápido a investigar anteriormente falsas acusações contra o antigo primeiro-ministro Mari Alkatiri – diz que precisa do conselho do propagandista de Gusmão e ministro dos estrangeiros durante os distúrbios - o agora presidente, José Ramos-Horta.
Porque é que um procurador-geral independente precisaria do conselho de um presidente com um papel principalmente cerimonial não é explicado.
Os habitualmente barulhentos apoiantes do eixo Gusmão-Horta -os media corporativos Australianos – têm andado estranhamente calados sobre este imbróglio apesar de terem relatado o último apelo para os seus co-cidadãos rezarem pelo seu antigo torturador, o General Soeharto, que está a morrer em Jacarta.
O pedido para Gusmão ser interrogado foi feito numa carta do presidente da Fretilin ao Procurador-Geral
A carta de Francisco Guterres 'Lu-Olo'segue-se à distribuição de um CD video através de Timor-Leste onde Alfredo Reinado faz acusações contra o presidente-primeiro-ministro.
O The Southeast Asian Times noticiou a entrevista logo que ele caiu no domínio público.
Longuinhos Monteiro tem sido citado pelos media domésticos de Timor-Leste como tendo dito que não intervirá por que o conteúdo do vídeo é demasiadamente político.
E que precisaria ainda de saber o que presidente pensa da acção que deveria ser tomada.
Inicialmente, o duvidosamente-nomeado primeiro-ministro fintou os repórteres Timorenses que queriam a sua resposta às alegações de Reinado.
Agora ele ameaçou prendê-los se e quando re-emergir a instabilidade.
"Têm de exercer mais responsabilidade em relação a um ambiente de estabilidade ou instabilidade. Fechamos os olhos nos casos de coisas pequenas e grandes quando vão entrevistar o Alfredo," disse ele.
O Comandante das Forças Internacionais de Estabilização, o Brigadeiro Australiano, John Hutcheson, disse que as suas tropas não serão usadas para capturar quer Alfredo Reinado ou os seus seguidores armados.
Disse ele que o foragido-amotinado formados pelos Australianos era um problema interno.
O que disse Reinado:
No seu discurso amplamente relatado em Timor-Leste mas até agora ignorado pelos media estrangeiros, Reinado disse que Gusmão esteve por detrás do movimento de protesto nas forças armadas conhecido como os "peticionários” que desertaram em massa no princípio de 2006.
Disse Reinado: "Ele (Gusmão) chama-nos maus, mas foi ele que nos criou, que nos fez como somos. É ele o autor da petição. Ele esteve por detrás disto tudo. Agora como Primeiro-Ministro ele mudou de paleio e está a lavar as mãos.
"Ele virou-se contra nós, contra aqueles a quem ele deu ordens e a quem criou. Foi com o apoio dele que em primeiro lugar emergiu a petição, Foram os seus discursos irresponsáveis aos media que levaram as pessoas a lutar e a matarem-se umas contra outras e a muitas mais coisas, como ele bem sabe.
"Dou o meu testemunho como testemunha, que Xanana é o autor principal desta crise; Ele não pode mentir ou negar isto. Ele tentará tudo e fará todo o tipo de manobras para se salvar ele próprio , mas ele não se safará."
O discurso de Reinado contra Gusmão foi noticiado por jornais que circulam principalmente na capital Dili e pela radio da Igreja Católica que se pode ouvir na maior parte do país.
A única estação de televisão de Timor-Leste, a TVTL de propriedade do Governo e controlada por apoiantes de Gusmão, nada emitiu do discurso do vídeo que em cópias DVD andam em circulação na capital.
Reinado avisou também as companhias estrangeiras para não investirem em Timor-Leste porque a crise continua sem estar resolvida.
Reinado é um antigo chefe da polícia militar que passou vários anos na Austrália e se formou na Academia de Defesa Australiana em Canberra em 2005.
No ano seguinte ele liderou um motim nas forças armadas contra o governo da Fretilin do primeiro-ministro Mari Alkatiri que tinha zangado Canberra ao tomar uma postura mais dura do que a esperada nas negociações sobre o petróleo e o gás.
O motim desencadeou ampla violência, facilitada pelo destacamento das tropas Australianas para Timor-Leste e forçou a resignação de Alkatiri que foi substituído por José Ramos-Horta, um aliado estreito de Gusmão.
Os media Australianos actuaram como uma claque para Gusmão e Horta, ecoando o argumento do Primeiro-Ministro Australiano John Howard de que o culpado dos problemas era Alkatiri.
Recomendadas acusações
Contudo uma Comissão Especial Independente de Inquérito da ONU à crise recomendou que Reinado fosse processado e mais tarde ele foi acusado de rebelião, de oito casos de homicídio e de dez casos de tentativa de homicídio.
Apesar da gravidade dos alegados crimes, Reinado recebeu a simpatia aberta e apoio encoberto de Gusmão, que como presidente tem o cargo de comandante das forças armadas .
Um correspondente do jornal The Australian noticiou ter visto uma ordem presidencial para Reinado e os seus colegas amotinados para se acantonarem na cidade de Aileu, a 50 km sudeste da capital.
Após a violência ter escalado em Dili, Reinado mudou-se para as montanhas, criando uma base na Poussada Hotel perto de Maubisse.
O The Australian noticiou que operacionais do Serviço Aéreo Especial da Austrália foram para o hotel para manterem sob observação o Reinado que passou seis semanas na Poussada mas saíu sem pagar a conta.
A conta foi paga pelo Presidente Gusmão, disserem empregados do hotel ao The Australian.
Reinado acabou por ser preso em 27 de Julho de 2006 depois da polícia Portuguesa ter descoberto que ele e os seus homens se tinham mudado para a capital e estavam a ocupar casas do outro lado da rua frente ao quartel dos militares Australianos.
O gang foi preso e esperava julgamento mas um mês depois fugiu da prisão e voltou às montanhas.
Apesar do seu estatuto de foragido Reinado manteve-se em contacto estreito e amigável com as tropas Australianas. Chegou mesmo a ser fotografado com um lançador de mísseis enquanto atendia um “seminário da paz” organizado pela igreja na presença de soldados Australianos.
A mulher Australiana de Gusmão Kirsty Sword Gusmão veio em defesa do acusado de assassínio-foragido da prisão numa entrevista à ABC radio em 6 de Setembro de 2006.
"Ele (Reinado) tem sido retratado de modo incorrecto pelos media Australianos como sendo um desertor, um amotinado," disse a antiga professora primária convertida em rainha da caridade.
"Penso que é importante lembrar que quando ele desertou da polícia militar, foi numa acção de protesto contra o que achava terem sido violações terríveis cometidas pelas nossas forças armadas," disse ela.
Reinado deu um passo adiantado demais para Gusmão e para a Austrália quando tirou armas automáticas de postos da polícia na fronteira em Fevereiro do ano passado.
Forças Australianas tentaram recapturar Reinado mas ele escapou-se de debaixo dos seus narizes uma segunda vez, em 4 de Março de 2007, deixando para trás os corpos de cinco dos seus apoiantes.
O finca-pé entre Reinado e as autoridades desde então tornou-se uma farsa. O Presidente Horta – supostamente engajado num "diálogo" com o amotinado – tem insultado o sector judicial que quer manter as acusações de homicídio contra Reinado.
O comandante militar Australiano em Timor-Leste, Brigadeiro John Hutcheson, foi criticado por um juíz e pelo principal partido da oposição no país, a Fretilin, por ter parado a operação para a detenção de Reinado por instruções de Horta.
O cada vez mais controverso papel das tropas Australianas originou recentemente um comentário do padre da igreja católica Australiana, padre Frank Brennan, um antigo director do Jesuit Refugee Service em Timor-Leste.
Escreveu Brennan: "Há uma percepção crescente entre os críticos locais do governo de Timor que as tropas Australianas são as tropas pessoais do Presidente dada a sua presença lá sem mandato constitucional e a sua resposta pronta ao comando arbitrário de Horta, que pouco respeito mostrou pela tradicional separação de poderes entre o Executivo e o Judicial."
Brennan sublinhou que os apoiantes da Fretilin se sentem ainda enganados com a decisão de Ramos Horta de convidar Gusmão para formar governo, mesmo apesar da Fretilin ter tido mais votos que o partido de Gusmão.
FOTO:
O suspeito de homicídio-desertor-amotinado Alfredo Reinado tem sido muitas vezes entrevistado pelos media internacionais e domésticos. Mas isso era antes de ter dito que o primeiro-ministro Xanana Gusmão fora o arquitecto dos distúrbios do ano passado no país recentemente-independente. Agora o antigo presidente ameaçou os repórteres com prisão se eles entrevistarem o foragido.
Chris Ray
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