Dili, 24 janeiro 2008 - Alfredo Reinado não compareceu hoje à segunda sessão do seu julgamento em Díli, mas o Tribunal de Recurso de Timor-Leste visionou uma "entrevista" do major fugitivo num vídeo de 59 minutos.
Devido à ausência de Alfredo Reinado, principal arguido no processo, o julgamento foi adiado para 04 de Março.
Apenas estiveram presentes no Tribunal de Recurso dois arguidos que se encontram em prisão preventiva, Nixon Galucho e José Soares.
Alfredo Reinado, figura relevante da crise de 2006 em Timor-Leste, é acusado dos crimes de homicídio, rebelião contra o Estado e posse ilegal de material de guerra.
No vídeo, que tem sido divulgado em disco e pela Internet e que se pode comprar nas ruas de Díli, Alfredo Reinado faz acusações graves contra o actual primeiro-ministro, Xanana Gusmão.
"Ele é o autor da crise", acusa o militar fugitivo.
"Ele planeou tudo. Se eu for para a cadeia, ele irá também por muito mais tempo", afirma o ex-comandante da Polícia Militar sobre Xanana Gusmão, a quem chama de "mentiroso".
O major fugitivo, falando em tétum e em inglês, faz várias ameaças e pede "aos jovens lorosae e aos jovens loromonu (dos distritos ocidentais e dos distritos orientais do país) que não adorem um governo que (os) traiu".
"Ouçam, esperem. Se houver festa, eu dou-vos convite", pede Alfredo Reinado, insistindo no seu "direito de levantamento pela pátria".
"Não sabemos se pode surgir uma guerra civil", diz.
"Temos que nos levantar juntos e salvar a nação", afirma ainda Alfredo Reinado.
"Esta é uma democracia já velha e azeda, mas há muitos líderes que ainda são bons", acrescenta.
O major fugitivo avisa os investidores estrangeiros "a porem o seu dinheiro noutro local qualquer".
Para resolver "a crise", Alfredo Reinado pede à ONU que "dissolva o Governo, entregue o poder ao Presidente da República (José Ramos-Horta) e dê escolha ao povo" através de um referendo como o de 1999.
O presidente do colectivo de juízes, Ivo Rosa, decidiu pelo visionamento integral em audiência do vídeo de Alfredo Reinado depois do Ministério Público pedir a junção da gravação ao processo.
Só dessa maneira, explicou o magistrado, se podia apurar se o filme era ou não relevante como meio adicional de prova.
O colectivo deferiu o pedido do Ministério Público.
Além de dois longos monólogos de Alfredo Reinado, a gravação inclui imagens do major com o seu grupo de homens armados, numa paisagem montanhosa.
"Trata-se de uma mera entrevista do arguido em data que se desconhece, (com um) entrevistado que se desconhece, certamente para acontecimentos muito posteriores à data da acusação", argumentou o advogado de Alfredo Reinado, Paulo dos Remédios, após o visionamento.
O advogado, que é também assessor da Presidência da República, defendeu que o vídeo "não traz elementos novos probatórios".
O tribunal, no entanto, considerou que a gravação é relevante porque confirma que o grupo de Alfredo Reinado "continua na posse de armas e de uniformes supostamente pertencentes ao Estado timorense" e ao seu Exército.
Antes da audiência, no exterior do Tribunal de Recurso, ocorreu um incidente entre elementos da unidade que foi comandada por Alfredo Reinado, a Polícia Militar (PM), e oficiais das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) e da Polícia das Nações Unidas (UNPol).
A discussão começou após a revista feita por elementos da PM a elementos das F-FDTL, incluindo o tenente-coronel Falur.
Na sequência da discussão, um membro australiano da UNPol foi agredido por um militar timorense.
Elementos da UNPol ordenaram a vários jornalistas presentes que "apagassem as imagens" do incidente.
Posteriormente, um polícia da UNPol tentou obter cópia das mesmas imagens junto da delegação da RTP em Díli.
Ficou sem resposta um pedido da Lusa à UNPol sobre a natureza do incidente junto ao Tribunal de Recurso e a origem da ordem policial junto dos jornalistas. (Notícias Lusófonas)
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