Mylena Fiori, enviada especial/Agência Brasil
Cidade da Guatemala (Guatemala) - Apesar dos mais de 40 anos de restrições econômicas impostas pelos Estados Unidos, Cuba está em 52º lugar no ranking de desenvolvimento humano das Nações Unidas, com indicadores sociais superiores a muitos países latino-americanos. O país conseguiu alcançar, em 2007, um crescimento econômico de 7,5% – bem acima dos 2,3% previstos para os Estados Unidos e dos 5,7% registrados pelo Brasil no último trimestre na comparação com o mesmo período de 2006.
Na segunda parte da entrevista exclusiva à Agência Brasil, o ministro-conselheiro da Embaixada de Cuba em Brasília, Alejandro Palacios, cita esses e outros indicadores sociais e econômicos, explica como funciona o sistema político-eleitoral no país – no próximo domingo (20) os cubanos vão às urnas para eleger os deputados da Assembléia Nacional – e pede apoio internacional contra o bloqueio norte-americano.
Agência Brasil: Como os cubanos resistem ao embargo econômico?
Alejandro Palacios: Mesmo com o embargo norte-americano, Cuba está hoje em 52º lugar no ranking de desenvolvimento humano das Nações Unidas, muito à frente do Brasil e da maioria dos países latino-americanos. Apesar desse criminal bloqueio norte-americano, nosso povo conseguiu mostrar resistência e capacidade de seguir avançando. Alguns indicadores ilustram os avanços de Cuba em diferentes esferas. Na esfera social, por exemplo, a taxa de mortalidade infantil de Cuba é de 5,4 por mil nascidos vivos, menor que a dos Estados Unidos. A mortalidade materna é de 32,5 por cada 100 mil, a esperança de vida é de 77 anos.
Em Cuba, a educação e a saúde pública são totalmente gratuitas. Há um médico para cada 100 pessoas. No ensino primário, do pré-escolar ao sexto grau, há um professor para cada 20 alunos e o estudo é obrigatório até o final do ensino médio. Na área rural, a média é de um professor para cada dez alunos e há locais nas montanhas em que apenas um aluno recebe o mesmo programa de educação que todos os outros. Cuba eliminou o analfabetismo em 1961. De cada 100 cubanos, 7,5 têm formação superior.
ABr: E os indicadores econômicos?
Palacios: Em 2007, a economia cubana cresceu 7,5%, acima dos 5,6% alcançado pela América Latina. O setor agropecuário cresceu 24,7%; a indústria, 7,8%; transportes, 7,9%, e serviços, 11,7%. Entre os setores que se destacaram estão petróleo cru e gás, cuja produção cresceu 2,7%; a geração elétrica ,7%; o transporte de carga, 10,1%; setor de software, 8%; a produção de leite de vaca, 16,8%; a produção de carne,11,7%; a produção pesqueira, 6,9%; a indústria farmacêutica registrou 21% de crescimento, e a pecuária, 40,5%. Apesar da política agressiva do governo norte-americano, os investimentos em Cuba cresceram 16,8%; a produtividade de trabalho, 5%; as exportações, 44%; o salário médio, 5,4%, e o desemprego ficou em 1,8%.
ABr: O bloqueio americano não as relações políticas de Cuba com o resto do mundo?
Palacios: Cuba tem relações com praticamente toda a comunidade internacional. São mais de 170 nações com as quais Cuba tem relações, há embaixadas cubanas nesses países e desses países em Cuba. A política dos Estados Unidos, destinada a impor o isolamento a Cuba, transformou-se em um verdadeiro fracasso. Cuba é membro das Nações Unidas, atualmente preside o movimento de países não-alinhados e tem grande prestígio internacional por toda a colaboração e ajuda que o povo cubano dá fundamentalmente a todos os países do terceiro mundo.
Cuba presta serviços de saúde em 71 países e em dois territórios ultramar, com a presença de 37,5 mil colaboradores cubanos, 48% deles médicos. Desde 2004, desenvolvemos a chamada operação Milagre, pela qual médicos cubanos fizeram operações oftalmológicas, em particular de catarata, em mais de um milhão de pessoas em centros oftalmológicos cubanos e de outros países, totalmente gratuito. No Brasil ainda não temos estes centros, mas eles existem na Bolívia, onde brasileiros atravessaram a fronteira e foram se operar. Além disso, em 2007, havia 49,7 mil bolsistas estrangeiros de 91 países estudando em Cuba. Destes, 1.047 estudam na Escola Latino-Americana de Medicina.
ABr: No próximo domingo Cuba elegerá os deputados da Assembléia Nacional, instância máxima de poder no país. No entanto há somente um partido, o Partido Comunista de Cuba. Como funciona o sistema político-eleitoral cubano?
Palacios: Em Cuba, temos um sistema de democracia-participativa. Nenhum partido político postula, quem postula os representantes é o próprio povo. As comunidades se reúnem por bairro e definem os candidatos entre as pessoas que se apresentam. Estas pessoas eleitas nos bairros participam, então, de uma eleição municipal onde todas têm a mesma possibilidade de propaganda. Não há propaganda privada, o governo divulga as fotos e currículos dos candidatos. O voto é secreto, direto e voluntário.
Os eleitos integram a Assembléia Municipal. Essa Assembléia depois escolherá os candidatos à Assembléia Provincial e à Assembléia Nacional, com base em indicações da comunidade. Novamente há eleição secreta e voluntária para essas assembléias. O parlamento nacional, quando se instala, elege o Conselho de Estado e o Conselho de Ministros [o presidente do Conselho de Estado é, automaticamente, presidente dos conselhos de Ministros e de Defesa Nacional e chefe de Estado e de Governo do país]. Os deputados não recebem salários, continuam ganhando o que recebiam pela profissão que tinham quando foram eleitos, e devem prestar contas à população, que a qualquer momento pode cassar seus mandatos.
ABr: Falando em eleições, os norte-americanos já estão definindo seus candidatos à presidência dos Estados Unidos, para o pleito do próximo ano. Quem é melhor - ou pior - para Cuba, republicanos ou democratas?
Palacios: Não gostaria de me pronunciar sobre isso, pois trata-se de política interna norte-americana. O melhor para Cuba é que se levante o bloqueio contra Cuba. O melhor para Cuba, sejam democratas ou republicanos, é que cessem os plano de agressão contra o povo cubano. O melhor para Cuba é que saiam da base naval de Guantânamo, que ocupam contra a vontade do povo cubano. O melhor para Cuba é uma relação de normalidade sobre a base de respeito à soberania, à independência e à dignidade do povo cubano, seja quem estiver no comando dos Estados Unidos.
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