Mylena Fiori, enviada especial/Agencia Brasil/15 janeiro 2008
Havana (Cuba) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu hoje (15) investimentos brasileiros em Cuba. Ele chegou ao país na noite de ontem (14), para uma visita de menos de 24 horas. "É sempre hora de investir em Cuba, tanto que os espanhóis, canadenses e franceses estão fazendo isso há muito mais anos, investindo no turismo", disse Lula a jornalistas depois de cerimônia de assinatura de atos entre os dois países.
Logo no ínicio da entrevista, começou a chover e um assessor trouxe um guarda-chuva para o presidente Lula que o recusou e propôs, de forma bem humorada, "socializar a chuva". "Não é o justo eu ficar de guarda-chuva e eles [jornalistas], sem. Vamos socializar a chuva." Os assessores, então, providenciaram guarda-chuvas para os jornalistas.
O presidente informou, na entrevista, que foram assinados oito acordos de cooperação entre os dois países. "Esses acordos são extremamente importantes para fortalecer a nossa parceria com Cuba", afirmou Lula. O conteúdo dos acordos ainda não foi divulgado pelo governo brasileiro.
Lula disse que Brasil e Cuba poderão atuar de forma conjunta por intermédio da Petrobras - que firmou três acordos com a petrolífera estatal cubana (Cupet) - e em áreas como agricultura, especialmente na produção de soja, biotecnologia, setor farmacêutico e turismo. Para ele, é sempre oportuno o Brasil investir nos países que fazem parte de seu continente. "O Brasil, como maior economia, precisa cumprir seu papel, acreditar que este é o caminho correto para uma boa política de integração."
De acordo com o presidente, as visitas à Guatemala (ontem) e a Cuba fazem parte de uma definição estratégica da política internacional brasileira de fortalecer a integração com os países latino-americanos.
Sempre defendendo o apoio do Brasil aos mais pobres, Lula ressaltou que, do ponto de vista geopolítico, o mundo pode ser dividido em três grupos de países. O primeiro é o dos países "prontos", como os da União Européia, os Estados Unidos e o Japão. Outro grupo, do qual o Brasil faz parte, reúne as nações "em construção". No terceiro grupo, estão os países da América Latina e da África.
"São continentes num processo de formação de política comercial e política econômica, que o Brasil pode ajudar de forma extraordinária com sua experiência, com a construção de parcerias. Nós vamos fazer isso porque acho que este é um papel que está reservado ao Brasil", reiterou.
Lula não quis comentar diretamente a política interna cubana. "Da mesma forma que não queremos que as pessoas dêem palpite nas coisas do Brasil, não queremos dar palpite nas coisas dos outros." Segundo ele, quem dá muito palpite" quebra a cara". Como exemplo, citou o Citibank, que anunciou um prejuízo de US$ 10 bilhões. "Eles, que davam tanto palpite sobre como administrar os países, as coisas, quando chega na hora de provar a sua competência, demonstram que não têm tanta
competência como falavam."
Apesar disso, o presidente disse que é favorável à evolução política do país caribenho e felicitou Cuba por ter assinado protocolo de direitos civis e políticos da Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo protocolo de direito econômico que também vai firmar. "Para nós, é importante essa evolução política, e queremos contribuir, queremos participar, queremos ajudar naquilo que for possível, sem nenhuma ingerência do Brasil."
Sobre os recentes casos de músicos e atletas cubanos que estiveram no Brasil e não quiseram voltar a seu país, Lula disse que o assunto será tratado pelo Ministério da Justiça, como está ocorrendo com os boxeadores que abandonaram a delegação de Cuba durante os Jogos Pan-Americanos, em julho, no Rio, e acabaram mandados de volta. "Eles não manifestaram interesse de ficar porque quem manifesta interesse de ficar pede asilo. Eles não pediram asilo", justificou.
"Nós não queremos contribuir para cercear a liberdade das pessoas quererem escolher o país em que vão morar, mas também não queremos criar nenhuma pirotecnia anticubana como, às vezes, se tenta criar no mundo. O que nós queremos é ser parceiros para as boas causas nesse momento da história cubana", completou.
Indagado se estava emocionado por voltar a Cuba depois de cinco anos, respondeu: "Eu sou de uma geração apaixonada pela revolução cubana, tenho carinho especial por Fidel. Venho a Cuba desde 1985, houve tempo em que eu vinha a Cuba todo ano". Ainda não está confirmado encontro de Lula com Fidel Castro, seu amigo de longa data.
Na manhã de hoje, o presidente tomou café da manhã com o presidente da Assembléia Nacional de Cuba, Ricardo Alarcón, teve reunião com o presidente interino Raúl Castro e fez oferenda floral no Memorial José Martí. Ainda hoje, Lula deve visitar o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia e a Escola Latino-Americana de Ciências Médicas.
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/01/15/materia.2008-01-15.5904601617/view
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