28 de Agosto de 2019 às 12:04, Brasil
de Fato (Brasil) https://www.brasildefato.com.br/2019/08/28/ideias-opostas-de-soberania-nacional-estao-em-jogo-na-amazonia-analisa-celso-amorim/
Rafael
Tatemoto
Brasil de Fato, Brasília (DF)
Ex-chanceler participará do Seminário em Defesa da Soberania Nacional e Popular, em Brasília (DF), na próxima semana
Para o
ex-chanceler brasileiro Celso Amorim (2003-2011), a tensão diplomática entre o
governo de Jair Bolsonaro (PSL) e o do francês Emmanuel Macron em torno
das queimadas na Amazônia é mais um indicativo da guinada imposta ao Itamaraty.
Ao Brasil de Fato, Amorim afirma que o caso revela
duas concepções de soberania, uma que representa interesses nacionais e outra a
serviço de nações imperialistas.
“A nossa
concepção de soberania é defesa dos recursos naturais, da nossa capacidade de
desenvolvimento autônomo, uma política externa que sempre busque o interesse
nacional, explorando inclusive a multipolaridade; ao invés de
ser um país
totalmente alinhado a uma potência, qualquer que ela seja”, analisa.
Como
parte da discussão e ação sobre o tema, Amorim participará do Seminário em
Defesa da Soberania Nacional e Popular, atividade organizada pelas frentes
Brasil Popular e Povo Sem Medo. O evento será no próximo dia 4 de setembro, em
Brasília (DF), e já conta com as confirmações da ex-presidenta Dilma
Rousseff, o ex-senador Roberto Requião, os ex-candidatos à Presidência Fernando
Haddad e Guilherme Boulos; além de Makota Celinha, do Centro
Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira, e de Anita Wright,
do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, entre outros.
Segundo o
diplomata aposentado, Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores do Brasil,
Ernesto Araújo, replicam no nível internacional sua concepção doméstica, a de
que “dentro da minha casa eu posso tudo, e na rua eu posso andar armado”.
“A
concepção deles de soberania é uma imitação da de [Donald] Trump, que é a ideia
de que não é preciso seguir as normas internacionais. No caso do clima,
especificamente, nós temos que reconhecer que é um problema global,
[mas] a responsabilidade é nacional”, diz.
Celso
Amorim reconhece que o mandatário da França, Emmanuel Macron, não é movido
apenas por interesses ambientais: há preocupações com a integridade territorial
da Guiana Francesa – um protetorado francês em território sul-americano.
E o caos ambiental no Brasil também serve como instrumento para colocar o
acordo da União Europeia com o Mercosul sob contestação, para agrado dos agricultores
franceses, que temem os possíveis efeitos da aliança comercial.
Por outro
lado, o ex-chanceler ressalta que a França não tem condições de empreender uma
intervenção direta na Amazônia e completa dizendo que a retórica nacionalista
de Bolsonaro tem limites na prática, como pode ser visto em sua intenção de
liberar a mineração na Amazônia para empresas estrangeiras, especialmente
estadunidenses.
Rita
Serrano, coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas,
também irá participar do seminário sobre soberania popular, e segue pela
mesma linha de Amorim, afirmando que o discurso de Bolsonaro representa muito
mais um alinhamento aos EUA – e consequente contraposição à União Europeia
– do que um posicionamento efetivamente pró-soberania.
“Tudo
aquilo que é público – universidades, sistema de saúde, as empresas estatais, a
própria Amazônia – está sob risco. Diante de todo o processo de desmantelamento
do patrimônio público, temo que perguntar quem está ganhando. São as
multinacionais”, sentencia. Ela cita o caso exemplar da BR Distribuidora,
subsidiária da Petrobras que foi vendida para empresas estrangeiras, entre elas
companhias estadunidenses.
Na prática
Na
balança entre autonomia nacional e compromissos internacionais, Celso Amorim
defende que cabe a “nós” a resolução da questão da Amazônia, “dentro das
regras” e com possível ajuda internacional: “Quem define o que fazer deve
ser o Brasil”. Ele cita ainda o exemplo do Fundo Amazônia, que por meio de
financiamento internacional implementava projetos selecionados pelo governo
brasileiro.
O
deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), que também deve comparecer ao
seminário, tem entendimento crítico em relação ao posicionamento francês, por
entender que Macron ultrapassou a linha entre ajuda e tentativa de imposição, o
que favoreceu o discurso de Bolsonaro, baseado em um “cinismo antinacional e
antissoberano”.
“Macron,
que deu uma contribuição ao povo brasileiro ao dizer que Bolsonaro é um
criminoso ambiental e mentiroso, foi infeliz ao levantar a tese, que já havia
sido levantada por [François] Mitterrand [que foi o presidente francês
de 1981 até 1995], de que é possível pensar o território amazônico sob
controle internacional. Aceitamos solidariedade nacional, não ingerência”, diz.
Serviço:
Seminário
em Defesa da Soberania Nacional e Popular
Local:
Auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, Brasília (DF).
Data e
hora: 4 de setembro, entre 9h e 19h.
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