25 de agosto de 2019, 15:52 h, Brasil 247 (Brasil)
https://www.brasil247.com/blog/por-acaso-foi-o-bolsonaro-que-tocou-fogo-na-floresta-sim-veja-o-passo-a-passo
"Ao
contrário das fake news que Bolsonaro e suas milícias digitais divulgaram
durante a semana, não foram as ONGs internacionais, a imprensa mundial nem os
comunistas da União Européia que tocaram fogo na floresta", escreve o
jornalista Ricardo Kotscho. "Trata-se, como veremos abaixo, de uma
política de governo"
Por Ricardo Kotscho*,
Ao
contrário das fake news que Bolsonaro e suas milícias digitais divulgaram
durante a semana, não foram as ONGs internacionais, a imprensa mundial nem os
comunistas da União Européia que tocaram fogo na floresta.
Trata-se,
como veremos abaixo, de uma política de governo.
Bolsonaro
já disse que “antes de construir um novo Brasil, precisamos destruir
tudo isso
que está aí”. Está apenas cumprindo a promessa.
Durante a
campanha eleitoral e desde seu primeiro dia de governo, o ex-capitão declarou
guerra à Amazônia e liberou os “agrotrogloditas”, na perfeita definição de Elio
Gaspari, a mandar brasa.
Escreveu
Gaspari em sua coluna da Folha deste domingo:
“Feito o
estrago, a mesma turma recorre aos truques de sempre: criaram um gabinete de
crise e querem chamar o Exército (já chamaram). Se medidas desse tipo
funcionassem, o Brasil já teria resolvido boa parte de seus problemas e o Rio
seria uma Estocolmo”.
“A
resposta às queimadas é mais simples. Basta botar na cadeia meia dúzia de
agrotrogloditas que se aproveitaram da mudança de governo para botar fogo na
mata”.
Tinha
acabado de ler a coluna, quando recebi mensagem de Priscilla Cruz, minha colega
e coordenadora do movimento Todos Pela Educação, com um levantamento enviado
pelo site Horta Urbana, mostrando o passo a passo do governo até transformar a
Amazônia numa crise internacional.
***
Abaixo,
os fatos do noticiário:
Vamos
supor que:
--
Ele nunca tenha dito que causa ambiental é “coisa de vegano” e que atrasa o
país;
--
Ele nunca tenha proposto extinguir o Ministério do Meio Ambiente;
--
Ele nunca tenha dito que o Ibama era indústria de multa;
--
Ele não tenha dito que estava ao lado dos ruralistas e contra o Ibama;
--
Que ele não tenha dito que não ia mais criar área protegida;
--
Ele não tenha dito que dá pra explorar minério em terra indígena;
Mesmo
assim, como podemos apontar a culpa do governo?
-- O corte para o ministério do Meio
Ambiente foi de 187 milhões de reais;
--
O corte relacionado ao Ibama foi de 89 milhões, quase metade do valor
contingenciado;
--
Estamos perto de um incidente diplomático e econômico com a Alemanha e Noruega,
que suspenderam o Fundo Amazônia, correspondente a um valor de 3,4 bilhões de
reais.
Esse
fundo mantém, por exemplo, os helicópteros usados para fiscalização e combate a
incêndios;
E tem
mais…
-- O governo ignorou todos os alertas de
incêndio enviados pelo INPE desde janeiro;
--
Desqualificou e negou dados científicos sobre o desmatamento;
--
Transferiu o serviço florestal brasileiro do MMA para o Ministério da
Agricultura;
--
Anunciou um sistema que alerta antecipadamente os locais onde haverá
fiscalização;
--
Cortou 50% do orçamento do Prevfogo;
Calma,
que tem mais…
-- A tal “indústria da multa” do Ibama
alegada por Bolsonaro, até 2018, conseguia contabilizar apenas 5% de multas
quitadas;
--
Como se não bastasse, houve redução de 34% no número de autuações ambientais em
2019;
--
Pra piorar, o governo criou, em abril desse ano, o tal Núcleo de Conciliação,
que tem o poder de anistiar multas ambientais;
Definitivamente,
o governo sinaliza, grita e esperneia que o crime compensa.
Sim, o
discurso anti-ambientalista estimula o crime.
Em 40
anos, desmatamos 17% da Amazônia. Se chegarmos a 20%, já era. Pois com este
índice ela atinge o “ponto de não retorno”, não conseguindo se manter, não
conseguindo captar CO2, formar os rios aéreos que promovem chuvas e estabelecer
os serviços ecossistêmicos para reservas de água, produtos naturais, regulação
do clima e até polinização de insumos agrícolas.
(via
Horta Urbana)
***
O
inacreditável ministro Ricardo Salles, defensor de mineradoras, um
antiambientalista juramentado, continua firme no cargo de ministro do Meio
Ambiente.
Até o
momento em que escrevo esta coluna, nenhum agrotroglodita foi para a cadeia.
E vida
que segue.
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