terça-feira, 6 de agosto de 2019

Mercosul, Brasil/Comissão Arns entra como ‘amicus curiae’ em ação de presidente da OAB contra Bolsonaro


02/08/2019 11:27, Rede Brasil Atual (Brasil) https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2019/08/comissao-arns-presidente-oab-contra-bolsonaro/

Publicado por Redação RBA

Entidade já havia divulgado nota afirmando que a declaração do presidente atingia "todos os familiares de mortos e desaparecidos" na ditadura civil-militar
Imerso em intrigas e sem mostrar melhorias à população, Bolsonaro perde popularidade rapidamente

São Paulo – A Comissão Arns* vai entrar na ação movida pelo presidente da seção nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, na condição de amicus curiae. A expressão latina, que significa “amigo da corte”, se refere a uma pessoa ou entidade com profundo interesse em determinada questão levada a discussão no Poder Judiciário.

O presidente da OAB protocolou na tarde de quarta-feira (31) ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o presidente Jair Bolsonaro explique as declarações feitas a respeito da morte de seu pai, Fernando Santa Cruz, preso por agentes do DOI-Codi e desaparecido em fevereiro de 1974, durante a ditadura
civil-militar.

Na segunda-feira (29), Bolsonaro desrespeitou a memória de Fernando ao se referir a ele de forma ofensiva e debochada. “Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele”, disse.

A Comissão, presidida pelo ex-ministro dos Direitos Humanos (governo FHC0 Paulo Sérgio Pinheiro, já havia divulgado  nota afirmando que a declaração de Bolsonaro atingia não só o presidente da OAB, mas “a todos os familiares de mortos e desaparecidos durante o regime militar de 1964, palavras que desmerecem o cargo ocupado, ignoram o relevante papel da OAB na volta à democracia e contrariam verdades estabelecidas pelo próprio Estado Brasileiro, em período democrático”.

O ministro do STF Luís Roberto Barroso interpelou ontem (1º) Bolsonaro para que ele explique “eventuais ambiguidades ou dubiedades dos termos utilizados” a respeito da morte de Fernando Santa Cruz.

NOTAS PÚBLICAS RECENTES DA COMISSÃO ARNS

Nota Pública #4 – Em respeito ao direito à memoria e à verdade

01.08.2019, Comissão Arns https://comissaoarns.org/notas/2019-08-01-nota-p%C3%BAblica-4-%E2%80%93-pelo-respeito-%C3%A0-democracia/

A Comissão Arns de Direitos Humanos repele com firmeza as palavras em tom de ofensa e de deboche dirigidas pelo Exmo. Senhor Presidente da República a Felipe Santa Cruz, presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a todos os familiares de mortos e desaparecidos durante o regime militar de 1964, palavras que desmerecem o cargo ocupado, ignoram o relevante papel da OAB na volta à democracia e contrariam verdades estabelecidas pelo próprio Estado Brasileiro, em período democrático.

O momento é de urgente correção do desemprego crescente, de reerguimento da economia, da consagração das liberdades democráticas, não cabendo o discurso de ódio e a palavra que separa e destrói.


Nota Pública #5 - Em Defesa da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos

02.08.2019, Comissão Arns https://comissaoarns.org/notas/2019-08-02-nota-p%C3%BAblica-5-em-defesa-da-comiss%C3%A3o-especial-sobre-mortos-e-desaparecidos/

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns vem a público defender a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada pela Lei 9.140/95, a primeira iniciativa oficial para reconhecer como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação ou acusação de participação em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979. Trata-se de uma Comissão do Estado brasileiro e não de um governo, instituída para atender ao princípio universal da reparação de centenas de familiares de mortos e desaparecidos por razões políticas.

A Comissão Especial já havia proclamado a responsabilidade do Estado brasileiro por esses crimes, com o respaldo de todos os presidentes da República desde então, medida referendada em inúmeras sentenças judiciais. O trabalho atual da Comissão Especial é principalmente o de envidar esforços para a localização dos corpos de pessoas desaparecidas, no caso de indícios quanto ao local em que possam estar depositados, sendo que, em passado recente, houve participação nesses esforços do Ministério da Defesa e do Exército Brasileiro.

O Brasil já foi condenado internacionalmente pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (como se vê dos casos Gomes Lund e Vladimir Herzog) a dar sequência a esses esforços. O trabalho só não corre mais célere porque nem todos – autoridades civis e militares – que ainda podem deter informações sobre o paradeiro dos corpos as repassaram para a Comissão. Essa Comissão tem, ainda hoje, uma importante missão a cumprir. Revelar a centenas de mães, pais, irmãos, filhos, netos onde estão os restos mortais de seus parentes desaparecidos. É um dever legal do Estado e corresponde ao direito desses familiares, reforçado por decisões da Justiça. Comete improbidade aquele que obstar indevidamente esses esforços.

O presidente da República, seja desestruturando a Comissão, ou mesmo antes, sonegando-lhe os recursos para agir, a pretexto de intitular-se agora como “o governo de direita”, ignora o Estado Democrático de Direito e a necessidade de cumprir a lei e as decisões judiciais, governando para todos os brasileiros(as).

O direito à reparação e à verdade prevalecerá. Este governo passará.

*A Comissão Arns foi criada por um grupo de personalidades brasileiras defensoras dos direitos humanos e de principios básicos da Constituição Cidadã de 1988, no dia 20 de fevereiro de 2019. O seu nome constitui uma homenagem ao Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns (1921 – 2016) “que, acima de diferenças religiosas, políticas, sociais e ideológicas, foi capaz de juntar forças variadas em favor dos direitos humanos na hora mais difícil do regime ditatorial instaurado em 1964”. Tem como objetivo atuar junto de instâncias nacionais e internacionais para dar “visibilidade e seguimento jurídico a casos de graves violações” destes direitos. Endereço eletrônico: https://comissaoarns.org/

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