quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Mercosul, Brasil/Integrante do grupo Cientistas Engajados diz que setor "nunca viu esse nível de ataque" como no governo Bolsonaro



“O Brasil está à beira do colapso do sistema nacional de produção de conhecimento”, diz a doutora pela USP integrante do grupo Cientistas Engajados Mariana Moura. Alerta foi feito nesta terça-feira (13), diz em que povo tomou às ruas de diversas cidades do país em defesa de educação e contra os cortes promovidos cntra o setor pelo governo Jair Bolsonaro

Rede Brasil Atual - “O Brasil está à beira do colapso do sistema nacional de produção de conhecimento”. O alerta, feito na manhã de hoje (13) pela doutora pela Universidade de São Paulo (USP) e integrante do grupo Cientistas Engajados Mariana Moura, na Rádio Brasil Atual, dá conta de um cenário de cortes dos investimentos públicos no setor que avança desde o governo Temer, mas que atinge seu ápice na gestão Bolsonaro, que, até o momento, já bloqueou um total de R$ 5,8 bilhões do orçamento do Ministério da Educação (MEC). 

De longe, essa é a pasta mais atingida pelo contingenciamento, o que impede
aportes na educação básica e nos ensinos médio e fundamental, a concessão de bolsas na educação superior e básica e o apoio orçamentário para manutenção das universidades e institutos federais. Todo esse impacto negativo não é à toa, como destaca a Mariana à jornalista Marilu Cabañas, ressaltando que, desde o início do mandato, com o então chefe do MEC, Ricardo Vélez, o governo Bolsonaro elege estudantes e professores como “inimigos”, o que tem sido ato contínuo mesmo agora com um novo ministro na pasta, Abraham Weintraub, que incluiu na lista dos adversários as instituições de ensino superior públicas. 

“Essa é a ideia de uma equipe de governo que não entende o que é a universidade, que não entende o que é pesquisa, desenvolvimento e o que a produção e o conhecimento trazem para o desenvolvimento nacional”, lamenta a doutora pela USP. Assim, as instituições federais tentam manter o dia a dia acadêmico, em estado de alerta, enquanto pesquisadores brasileiros deixam o país ou mesmo mudam de profissão diante da falta de perspectiva de continuar os estudos, como descreve Mariana. “A própria SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a Academia Brasileira de Ciências estão fazendo um pedido emergencial tanto ao Congresso Nacional como o governo para a liberação de recursos”, explica. 

Mesmo diante desse panorama e do risco ao desenvolvimento da pesquisa nacional responsável por trazer soluções para os campos como saúde e agricultura, a principal resposta do governo para o orçamento está apoiada em um projeto que visa atrair investimentos para a universidades e institutos por meio da iniciativa privada, o Future-se que, na prática, pode significar a privatização do ensino público superior.  “De futuro não tem nada”, avalia a integrante do Cientistas Engajados criticando dois pontos, entre eles, o que repassa a gestão para uma organização social, as OSs, sem qualquer exigência de formação científica. “Coloca a gestão da universidade do dinheiro público na mão de organizações de direito privado”, explica acrescentando críticas ainda à “ilusão de que o setor privado vai financiar a pesquisa no Brasil”. “A pesquisa fundamental brasileira tem que ser feita para resolver os problemas e a gente só vai fazer isso com financiamento público”. 

#13A: Tsunami 


Por conta de todo esse cenário na educação que estudantes, professores e trabalhadores na educação promovem nesta terça-feira (13), em todo país, a terceira onda de manifestações em defesa da educação pública, que teve início em cidades nas regiões Norte e Nordeste. Os atos também fazem oposição à “reforma” da Previdência, que tramita no Senado. 

De acordo com Mariana, o projeto do governo Bolsonaro é prejudicar ao máximo a população, atingindo os direitos na ponta da vida, com a falta de investimento público na educação básica e superior, e no final da vida, tornando distante a possibilidade da aposentadoria. “Isso atinge todo mundo, todas as classes sociais e, especialmente, as pessoas que dependem mais do estado”, adverte a doutora. 

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Mercosul, Brasil/Demissão de diretor do Inpe indica que Bolsonaro repetirá perseguição de cientistas pela ditadura

02 de agosto de 2019, 18h05, Socialista Morena (Brasil) http://www.socialistamorena.com.br/demissao-de-diretor-do-inpe-indica-que-bolsonaro-repetira-perseguicao-de-cientistas-pela-ditadura/

Críticas a instituições recolocam sobre o país a sombra do Massacre de Manguinhos, quando 10 cientistas foram cassados

(Foto/Os dez cientistas cassados à época de sua reintegração à Fiocruz, em 1986. Foto: divulgação)

Cynara Menezes

Em apenas sete meses de governo, o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro já coleciona diversos ataques à ciência brasileira. Em abril, duvidou dos números do IBGE em relação ao desemprego; em maio, censurou a divulgação de uma pesquisa nacional sobre drogas elaborada pela Fiocruz; e agora demitiu o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, simplesmente porque não aceita que o desmatamento, em sua gestão, disparou.

O instituto apontou que o desmatamento na Amazônia, em quilômetros quadrados, aumentou 34% em maio, 91% em junho e 125% em julho em relação aos mesmos meses em 2018. Quer dizer, em vez de trabalhar para impedir que o desmatamento avance, como fizeram os governos petistas, o presidente optou por esconder os dados, demitindo o responsável por eles. Detalhe: o monitoramento é feito por satélite. Bolsonaro duvida de imagens feitas por satélite.

“Por que esse ódio do pensamento autoritário ao pensamento livre?”, indagava o sanitarista Sergio Arouca, então presidente da Fiocruz, ao reintegrar os dez cientistas cassados pela ditadura, em 1986.

Ao atacar cientistas, o governo dá sinais de que irá repetir a perseguição a cientistas empreendida pela ditadura militar. Após o golpe, em 1º de abril de 1964, os militares se insurgiram contra o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), antigo nome da Fiocruz, interrompendo pesquisas, impondo um diretor fiel ao regime, controlando as atividades dos pesquisadores com a presença ostensiva de militares no campus e cortando verbas. Muitos cientistas foram arrolados em inquéritos, sob o pretexto de se apurar atos de “subversão” e “corrupção”. A instituição foi sucateada: na década de 1960, contava com aproximadamente 140 pesquisadores; em 1974, esse número caiu para a metade.

No dia 1º de abril de 1970, sem que nenhuma acusação tivesse sido provado contra eles, dez cientistas do Instituto Oswaldo Cruz foram cassados pela ditadura com base no AI-5. Tiveram seus direitos políticos suspensos e foram impedidos de trabalhar no instituto e em outras instituições federais. O episódio é conhecido como O Massacre de Manguinhos, referência ao bairro onde está localizado o instituto e título do livro de Herman Lent publicado pela primeira vez em 1978, às vésperas da anistia, relançado em maio pela Fiocruz também em versão digital, que pode ser baixada gratuitamente.

“A ciência é o último artesanato do mundo, última profissão que não se aprende nos livros, é um cientista que cria outro à sua sombra. E vocês, os mais preparados para frutificar novas gerações, foram proibidos de se multiplicar aqui”, disse Darcy Ribeiro
A Fundação também restaurou o vídeo O Massacre de Manguinhos, de Lauro Escorel Filho, que reproduz trechos da cerimônia de reintegração dos cientistas cassados, em agosto de 1986. “Por que esse ódio do pensamento autoritário ao pensamento livre?”, indagava o sanitarista Sergio Arouca, então presidente da Fiocruz, à plateia. “Uma das vítimas prediletas, um dos alvos escolhidos, teria que ser a inteligência”, disse Ulysses Guimarães.

“O que me dói, a lágrima que eu choro é pelas pesquisas que foram interrompidas e que nunca mais se farão. É pelos jovens cientistas que teríamos formado e que não se formarão nunca. A ciência é o último artesanato do mundo, é a última profissão que não se aprende nos livros, é um cientista que cria outro à sua sombra, aprendendo ali como fazer as coisas, como indagar, como obrigar a natureza a se desvendar. E vocês, os mais preparados para fazer frutificar novas gerações foram proibidos de se multiplicar aqui”, lamentou Darcy Ribeiro.

A capa da primeira edição do livro, criada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, exibe a ilustração do Castelo Mourisco, prédio-símbolo da Fiocruz, com uma de suas torres desmoronando. O parasitologista Lent, autor da obra, é referência mundial no estudo dos triatomíneos (barbeiros), insetos transmissores da doença de Chagas, e foi um dos cientistas cassados pela ditadura que Bolsonaro tanto admira.

Impedido de trabalhar no Brasil, Lent viveu na Venezuela, onde deu aulas na Universidad de los Andes, no Paraguai, onde lecionou na Universidade de Assunção, e nos EUA, onde foi pesquisador associado do Museu de História Natural de Nova York, antes de retornar a seu país, em 1976, ainda durante o regime militar. Foi o único dos cassados no Massacre de Manguinhos a recusar a reintegração ao Oswaldo Cruz, mas continuou colaborando com o instituto.

Os outros cientistas perseguidos e cassados pelos militares, todos com reconhecimento internacional em suas áreas, foram: Augusto Perissé, Tito Cavalcanti, Haity Moussaché, Fernando Ubatuba, Moacyr Andrade, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Sebastião de Oliveira e Domingos Machado. Para saber mais sobre eles, clique aqui.

Bolsonaro demitiu o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, simplesmente porque não aceita que o desmatamento, em sua gestão, disparou. O presidente duvida de imagens feitas por satélite.

O diretor do Inpe foi mandado embora por ousar discordar dos ataques de Bolsonaro à instituição que dirige. Em entrevista ao Jornal Nacional, no dia 20 de julho, Ricardo Galvão disse que os comentários do presidente são dignos de “botequim”. “Ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas. É uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da República fazer”, criticou. No dia anterior, Bolsonaro chamara de “mentirosos” os dados do Inpe e sugeriu que o diretor, doutor pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), estava a “serviço de alguma ONG.”

Na sexta-feira, 30 de julho, o Inpe reproduziu em seu site uma reportagem da agência Fapesp em que Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, durante palestra na 71ª reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Campo Grande (MS), defendia os dados sobre desmatamento, segundo ele incontestáveis.

O Inpe reproduziu uma reportagem em que Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, defende que os dados do desmatamento são incontestáveis.

O texto já sumiu do site
“Esses percentuais de aumento estão muito além da margem de incerteza. A probabilidade de que o desmatamento da Amazônia está aumentando está acima de 99%”, disse Nobre. “Não divulgar os dados do desmatamento do Inpe não faria o problema desaparecer, porque hoje há muitos grupos em todo o mundo que fazem esse tipo de mapeamento. Mas o Inpe, que desenvolveu o melhor sistema de monitoramento de florestas tropicais do mundo ao longo dos últimos 30 anos, perderia sua liderança.”

UPDATE: no mesmo dia em que este texto foi publicado, veio à tona a perseguição do governo a outro cientista. O chefe do ICMBio em Fernando de Noronha, José Martins da Silva Júnior, um dos maiores especialistas em golfinhos do país, foi transferido da ilha para o sertão pernambucano para agradar empresários do ramo de hotelaria.
Assista à entrevista feita pelo pessoal da UFScar com Ricardo Galvão, do Inpe. Faz justiça ao pesquisador, atacado pelo próprio presidente da República.

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Com informações da Agência Fapesp e da Fiocruz


‘Tropical Trump’ sparks unprecedented crisis for Brazilian science
01 August 2019, Update 02 August 2019, Nature (UK) https://www.nature.com/articles/d41586-019-02353-6#correction-0

Tensions are rising as Jair Bolsonaro’s administration questions the work of government scientists and institutes debilitating cuts to research funding.

(A dispute over the rate of deforestation in Brazil's Amazon (pictured) is the latest sign of tension between the country's researchers and its president.Credit: Nacho Doce/Reuters)

When neuroscientist Sidarta Ribeiro presented a preview of a report on the dire state of research in Brazil at a meeting of a major scientific society on 23 July, several government soldiers entered the room and began filming. Some in the audience took the soldiers’ actions as a show of intimidation.

“Maybe these guys were just soldiers who want to learn about science,” says Ribeiro, a researcher at the Federal University of Rio Grande do Norte in Natal. He coordinated the analysis on behalf of the Brazilian Society for the Advancement of Science (SBPC), which hosted the meeting and commissioned the report. But it didn’t look like they were there out of curiosity, Ribeiro says.

The incident is the latest example of the rising tensions between the country's scientists and President Jair Bolsonaro's administration. Since Bolsonaro took office in January, Brazil’s researchers have faced funding cuts and repeated attempts by the administration to roll back protections for the environment and Indigenous populations. Government officials blocked the release of a ministry report on drug use in Brazil. And they have questioned other work by government scientists, including most recently, deforestation reports by a national agency. The head of that agency has since been dismissed.

“We are concerned about democracy itself,” says Sérgio Rezende, a physicist at the Federal University of Pernambuco in Recife, and a member of the commission that wrote the SBPC analysis.

A draft of the SBPC report details a decline in science funding that began with a major recession in 2014. It draws a direct line between the unprecedented crisis in science and the future of Brazil, arguing that the country’s social, economic and environmental prospects are under threat. Without policies that are “grounded in rationality, science and the public interest”, places such as the Amazon rainforest could soon pass the point of no return, according to the draft report.

Crisis of confidence
The commission found that total spending by Brazil’s three main science-funding agencies fell by nearly 47%, to 7 billion reais (US$1.8 billion), last year, compared with 2014. The situation has deteriorated further since Bolsonaro took office: in March, his administration announced a freeze on 42% of the budget for the ministry of science and communications, leaving it with just 2.9 billion reais for the rest of the year. The latest estimates suggest that the ministry could run out of scholarship money for undergraduate- and graduate-students and post-doctoral researchers as early as September if the government doesn't provide more cash.

The funding crisis is just one of the sore points between researchers and Bolsonaro. Concerns over his administration’s policies regarding the environment and Indigenous tribes in the Amazon spiked last month, when Bolsonaro questioned his own government’s data on deforestation in the rainforest.

In early July, Brazil’s National Institute for Space Research (INPE) ― which uses satellite observations of the Amazon to track the destruction of the rainforest ― released data showing that deforestation rates from April through June had increased by 25% compared with the same period last year. The analysis also looked at an 11-month period from August 2018 through June, and found that nearly 4,600 square kilometres of rainforest had disappeared, a 15% increase compared with the same time period a year ago.

On 19 July, Bolsonaro accused INPE of lying about the numbers, then later suggested that his administration should have the right to approve the agency’s data before they are released to the public. INPE director Ricardo Galvão accused the president of cowardice for publicly attacking his institute.

No regrets
The data in question come from a monitoring system designed to provide rapid alerts to law-enforcement officers if it detects a new clearing in the Amazon as small as one hectare. The data aren't Brazil’s official deforestation statistics ― which come from a more detailed analysis of satellite observations ― but often follow larger deforestation trends.

Scientists have defended INPE, saying that it has the most comprehensive deforestation monitoring system in the tropics. The agency’s estimates provide a reliable gauge of deforestation trends and are based on publicly available data, says Ane Alencar, the science director at the Amazon Environmental Research Institute, an advocacy group based in Brasilia.

Galvão met with the minister of science, former astronaut Marcos Pontes, on 2 August to discuss the issue. But Galvão was told during the meeting that he was dismissed. He says that he had a constructive discussion with Pontes, and stressed that there was no indication that INPE’s work on deforestation would be censored moving forward. But Galvão says that it was clear that he would have to leave because of the way he challenged the president.

“I don’t have any regrets,” says Galvão, a physicist formerly at the University of São Paulo who will now return to his academic post. “That was not a proper thing for a president to say.”

Opening up the Amazon
The reported rise in deforestation comes as no surprise to many scientists and environmentalists. Bolsonaro's presidential campaign relied in part on promises to open up the Amazon to agriculture and mining interests.

Since taking office, he has scaled back enforcement of environmental laws and promoted development in Indigenous reserves. Now, his administration is pushing forward with proposals to shrink the size of protected areas in regions including the Amazon.

Bolsonaro has repeatedly derided environmental laws as being a barrier to progress and has criticized enforcement officials, says Maurício Voivodic, who heads the Brazilian branch of the environmental advocacy group WWF, which is in Brasilia. “That’s why we are seeing illegal miners invading Indigenous lands,” he says. “That’s why we are seeing more deforestation.”

Researchers in Brazil expected to see policy changes when Bolsonaro took office, but not so quickly or to such extremes, says Mercedes Bustamante, an ecologist at the University of Brasilia.

doi: 10.1038/d41586-019-02353-6

Updates & Corrections
Update 02 August 2019: This story has been updated to reflect the fact that Ricardo Galvão, the director of Brazil's National Institute for Space Research, has been dismissed.

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