“O Brasil está à beira do colapso do
sistema nacional de produção de conhecimento”, diz a doutora pela USP
integrante do grupo Cientistas Engajados Mariana Moura. Alerta foi feito nesta
terça-feira (13), diz em que povo tomou às ruas de diversas cidades do país em
defesa de educação e contra os cortes promovidos cntra o setor pelo governo
Jair Bolsonaro
Rede Brasil Atual - “O Brasil está à beira do colapso do sistema nacional de
produção de conhecimento”. O alerta, feito na manhã de hoje (13) pela doutora
pela Universidade de São Paulo (USP) e integrante do grupo Cientistas Engajados
Mariana Moura, na Rádio Brasil Atual, dá conta de um cenário de cortes dos
investimentos públicos no setor que avança desde o governo Temer, mas que
atinge seu ápice na gestão Bolsonaro, que, até o momento, já bloqueou um total
de R$ 5,8 bilhões do orçamento do Ministério da Educação (MEC).
De longe, essa é a pasta mais atingida pelo contingenciamento,
o que impede
aportes na educação básica e nos ensinos médio e fundamental, a concessão
de bolsas na educação superior e básica e o apoio orçamentário para manutenção
das universidades e institutos federais. Todo esse impacto negativo não é à
toa, como destaca a Mariana à jornalista Marilu Cabañas, ressaltando que, desde
o início do mandato, com o então chefe do MEC, Ricardo Vélez, o governo
Bolsonaro elege estudantes e professores como “inimigos”, o que tem sido ato
contínuo mesmo agora com um novo ministro na pasta, Abraham Weintraub, que incluiu na lista dos adversários
as instituições de ensino superior públicas.
“Essa é a ideia de uma equipe de
governo que não entende o que é a universidade, que não entende o que é
pesquisa, desenvolvimento e o que a produção e o conhecimento trazem para o
desenvolvimento nacional”, lamenta a doutora pela USP. Assim, as instituições
federais tentam manter o dia a dia acadêmico, em estado de alerta, enquanto
pesquisadores brasileiros deixam o país ou mesmo mudam de profissão diante da
falta de perspectiva de continuar os estudos, como descreve Mariana. “A própria
SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a Academia
Brasileira de Ciências estão fazendo um pedido emergencial tanto ao Congresso
Nacional como o governo para a liberação de recursos”, explica.
Mesmo diante desse panorama e do risco
ao desenvolvimento da pesquisa nacional responsável por trazer soluções para os
campos como saúde e agricultura, a principal resposta do governo para o
orçamento está apoiada em um projeto que visa atrair investimentos para a
universidades e institutos por meio da iniciativa privada, o Future-se que, na prática, pode
significar a privatização do ensino público superior.
“De futuro não tem nada”, avalia a integrante do Cientistas Engajados
criticando dois pontos, entre eles, o que repassa a gestão para uma organização social,
as OSs, sem qualquer exigência de formação científica. “Coloca a gestão da
universidade do dinheiro público na mão de organizações de direito privado”,
explica acrescentando críticas ainda à “ilusão de que o setor privado vai
financiar a pesquisa no Brasil”. “A pesquisa fundamental brasileira tem que ser
feita para resolver os problemas e a gente só vai fazer isso com financiamento
público”.
#13A: Tsunami
Por conta de todo esse cenário na
educação que estudantes, professores e trabalhadores na educação promovem nesta
terça-feira (13), em todo país, a terceira onda de manifestações em
defesa da educação pública, que teve início em cidades nas regiões Norte e Nordeste. Os atos
também fazem oposição à “reforma” da Previdência, que
tramita no Senado.
De acordo com Mariana, o projeto do
governo Bolsonaro é prejudicar ao máximo a população, atingindo os direitos na
ponta da vida, com a falta de investimento público na educação básica e
superior, e no final da vida, tornando distante a possibilidade da
aposentadoria. “Isso atinge todo mundo, todas as classes sociais e,
especialmente, as pessoas que dependem mais do estado”, adverte a
doutora.
VIDEO
Mercosul, Brasil/Demissão de diretor do Inpe indica que Bolsonaro repetirá perseguição de cientistas pela ditadura
02 de agosto de 2019, 18h05, Socialista
Morena (Brasil)
http://www.socialistamorena.com.br/demissao-de-diretor-do-inpe-indica-que-bolsonaro-repetira-perseguicao-de-cientistas-pela-ditadura/
Críticas a instituições recolocam sobre o país a sombra
do Massacre de Manguinhos, quando 10 cientistas foram cassados
(Foto/Os
dez cientistas cassados à época de sua reintegração à Fiocruz, em 1986. Foto:
divulgação)
Cynara
Menezes
Em apenas sete meses de governo, o
presidente de extrema direita Jair Bolsonaro já coleciona diversos ataques à
ciência brasileira. Em abril, duvidou
dos números do IBGE em relação ao desemprego; em maio, censurou
a divulgação de uma pesquisa nacional sobre drogas elaborada pela Fiocruz;
e agora demitiu o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
Ricardo Galvão, simplesmente porque não aceita que o desmatamento, em sua
gestão, disparou.
O instituto apontou que o desmatamento
na Amazônia, em quilômetros quadrados, aumentou 34% em maio, 91% em junho e
125% em julho em relação aos mesmos meses em 2018. Quer dizer, em vez de
trabalhar para impedir que o desmatamento avance, como fizeram os governos
petistas, o presidente optou por esconder os dados, demitindo o responsável por
eles. Detalhe: o monitoramento é feito por satélite. Bolsonaro duvida de
imagens feitas por satélite.
“Por que esse ódio do pensamento autoritário
ao pensamento livre?”, indagava o sanitarista Sergio Arouca, então presidente
da Fiocruz, ao reintegrar os dez cientistas cassados pela ditadura, em 1986.
Ao atacar cientistas, o governo dá
sinais de que irá repetir a perseguição a cientistas empreendida pela ditadura
militar. Após o golpe, em 1º de abril de 1964, os militares se insurgiram
contra o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), antigo nome da Fiocruz,
interrompendo pesquisas, impondo um diretor fiel ao regime, controlando as
atividades dos pesquisadores com a presença ostensiva de militares no campus e
cortando verbas. Muitos cientistas foram arrolados em inquéritos, sob o
pretexto de se apurar atos de “subversão” e “corrupção”. A instituição foi
sucateada: na década de 1960, contava com aproximadamente 140 pesquisadores; em
1974, esse número caiu
para a metade.
No dia 1º de abril de 1970, sem que
nenhuma acusação tivesse sido provado contra eles, dez cientistas do Instituto
Oswaldo Cruz foram cassados pela ditadura com base no AI-5. Tiveram seus direitos
políticos suspensos e foram impedidos de trabalhar no instituto e em outras
instituições federais. O episódio é conhecido como O Massacre de Manguinhos,
referência ao bairro onde está localizado o instituto e título do livro de Herman
Lent publicado pela primeira vez em 1978, às vésperas da
anistia, relançado em maio pela Fiocruz também em versão digital, que pode ser baixada gratuitamente.
“A ciência é o último artesanato do mundo,
última profissão que não se aprende nos livros, é um cientista que cria outro à
sua sombra. E vocês, os mais preparados para frutificar novas gerações, foram
proibidos de se multiplicar aqui”, disse Darcy Ribeiro
A Fundação também restaurou o
vídeo O Massacre de Manguinhos, de Lauro Escorel Filho, que
reproduz trechos da cerimônia de reintegração dos cientistas cassados, em
agosto de 1986. “Por que esse ódio do pensamento autoritário ao pensamento
livre?”, indagava o sanitarista Sergio Arouca, então presidente da Fiocruz, à
plateia. “Uma das vítimas prediletas, um dos alvos escolhidos, teria que ser a
inteligência”, disse Ulysses Guimarães.
“O que me dói, a lágrima que eu choro
é pelas pesquisas que foram interrompidas e que nunca mais se farão. É pelos
jovens cientistas que teríamos formado e que não se formarão nunca. A ciência é
o último artesanato do mundo, é a última profissão que não se aprende nos
livros, é um cientista que cria outro à sua sombra, aprendendo ali como fazer
as coisas, como indagar, como obrigar a natureza a se desvendar. E vocês, os
mais preparados para fazer frutificar novas gerações foram proibidos de se
multiplicar aqui”, lamentou Darcy Ribeiro.
A capa da primeira edição do livro,
criada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, exibe a ilustração do Castelo Mourisco,
prédio-símbolo da Fiocruz, com uma de suas torres desmoronando. O
parasitologista Lent, autor da obra, é referência mundial no estudo dos triatomíneos
(barbeiros), insetos transmissores da doença de Chagas, e foi um dos cientistas
cassados pela ditadura que Bolsonaro tanto admira.
Impedido de trabalhar no Brasil, Lent
viveu na Venezuela, onde deu aulas na Universidad de los Andes, no Paraguai,
onde lecionou na Universidade de Assunção, e nos EUA, onde foi pesquisador
associado do Museu de História Natural de Nova York, antes de retornar a seu
país, em 1976, ainda durante o regime militar. Foi o único dos cassados no
Massacre de Manguinhos a recusar a reintegração ao Oswaldo Cruz, mas continuou
colaborando com o instituto.
Os outros cientistas perseguidos e
cassados pelos militares, todos com reconhecimento internacional em suas áreas,
foram: Augusto Perissé, Tito Cavalcanti, Haity Moussaché, Fernando Ubatuba,
Moacyr Andrade, Hugo de Souza Lopes, Masao Goto, Sebastião de Oliveira e
Domingos Machado. Para saber mais sobre eles, clique aqui.
Bolsonaro demitiu o diretor do Inpe, Ricardo
Galvão, simplesmente porque não aceita que o desmatamento, em sua gestão,
disparou. O presidente duvida de imagens feitas por satélite.
O diretor do Inpe foi mandado embora
por ousar discordar dos ataques de Bolsonaro à instituição que dirige. Em
entrevista ao Jornal Nacional, no dia 20 de julho, Ricardo Galvão disse que os
comentários do presidente são dignos de “botequim”. “Ele fez acusações
indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo
só eu, mas muitas outras pessoas. É uma piada de um garoto de 14 anos que não
cabe a um presidente da República fazer”, criticou. No dia anterior, Bolsonaro
chamara de “mentirosos” os dados do Inpe e sugeriu que o
diretor, doutor pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), estava a
“serviço de alguma ONG.”
Na sexta-feira, 30 de julho, o Inpe
reproduziu em seu site uma
reportagem da agência Fapesp em que Carlos Nobre, pesquisador
do Instituto de Estudos Avançados da USP, durante palestra na 71ª reunião anual da SBPC
(Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Campo Grande (MS),
defendia os dados sobre desmatamento, segundo ele incontestáveis.
O Inpe reproduziu uma reportagem em
que Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP,
defende que os dados do desmatamento são incontestáveis.
O
texto já sumiu do site
“Esses percentuais de aumento estão
muito além da margem de incerteza. A probabilidade de que o desmatamento da
Amazônia está aumentando está acima de 99%”, disse Nobre. “Não divulgar os
dados do desmatamento do Inpe não faria o problema desaparecer, porque hoje há
muitos grupos em todo o mundo que fazem esse tipo de mapeamento. Mas o Inpe,
que desenvolveu o melhor sistema de monitoramento de florestas tropicais do
mundo ao longo dos últimos 30 anos, perderia sua liderança.”
A reportagem já sumiu
do site do Inpe.
UPDATE: no mesmo dia em que este texto foi
publicado, veio à tona a perseguição do governo a outro cientista. O chefe do
ICMBio em Fernando de Noronha, José Martins da Silva Júnior, um dos
maiores especialistas em golfinhos do país, foi
transferido da ilha para o sertão pernambucano para agradar
empresários do ramo de hotelaria.
Assista à entrevista feita pelo
pessoal da UFScar com Ricardo Galvão, do Inpe. Faz justiça ao pesquisador,
atacado pelo próprio presidente da República.
VIDEO
‘Tropical
Trump’ sparks unprecedented crisis for Brazilian science
01 August 2019, Update 02 August 2019, Nature (UK)
https://www.nature.com/articles/d41586-019-02353-6#correction-0
Tensions are rising as Jair Bolsonaro’s administration questions the
work of government scientists and institutes debilitating cuts to research
funding.
(A dispute over the rate of
deforestation in Brazil's Amazon (pictured) is the latest sign of tension
between the country's researchers and its president.Credit: Nacho Doce/Reuters)
When neuroscientist Sidarta Ribeiro presented a preview of a report on
the dire state of research in Brazil at a meeting of a major scientific society
on 23 July, several government soldiers entered the room and began filming.
Some in the audience took the soldiers’ actions as a show of intimidation.
“Maybe these guys were just soldiers who want to learn about science,”
says Ribeiro, a researcher at the Federal University of Rio Grande do Norte in
Natal. He coordinated the analysis on behalf of the Brazilian Society for the
Advancement of Science (SBPC), which hosted the meeting and commissioned the
report. But it didn’t look like they were there out of curiosity, Ribeiro says.
The incident is the latest example of the rising tensions between the
country's scientists and President Jair Bolsonaro's administration. Since Bolsonaro took office in January, Brazil’s researchers have faced funding cuts and repeated attempts by
the administration to roll back protections for the environment and Indigenous
populations. Government officials blocked the release of a ministry report on
drug use in Brazil. And they have questioned other work by government
scientists, including most recently, deforestation reports by a national
agency. The head of that agency has since been dismissed.
“We are concerned about democracy itself,” says Sérgio Rezende, a
physicist at the Federal University of Pernambuco in Recife, and a member of
the commission that wrote the SBPC analysis.
A draft of the SBPC report details a decline in science funding that
began with a major recession in 2014. It draws a direct line between the
unprecedented crisis in science and the future of Brazil, arguing that the
country’s social, economic and environmental prospects are under threat.
Without policies that are “grounded in rationality, science and the public
interest”, places such as the Amazon rainforest could soon pass the point of no
return, according to the draft report.
Crisis of confidence
The commission found that total spending by Brazil’s three main
science-funding agencies fell by nearly 47%, to 7 billion reais (US$1.8
billion), last year, compared with 2014. The situation has deteriorated further
since Bolsonaro took office: in March, his administration announced a freeze on 42% of the budget for the ministry
of science and communications, leaving
it with just 2.9 billion reais for the rest of the year. The latest estimates
suggest that the ministry could run out of scholarship money for undergraduate-
and graduate-students and post-doctoral researchers as early as September if
the government doesn't provide more cash.
The funding crisis is just one of the sore points between researchers
and Bolsonaro. Concerns over his administration’s policies regarding the
environment and Indigenous tribes in the Amazon spiked last month, when
Bolsonaro questioned his own government’s data on deforestation in the
rainforest.
In early July, Brazil’s National Institute for Space Research (INPE) ―
which uses satellite observations of the Amazon to track the destruction of the
rainforest ― released data showing
that deforestation rates from April through June had increased by 25% compared
with the same period last year. The analysis also looked at an 11-month period
from August 2018 through June, and found that nearly 4,600 square kilometres of
rainforest had disappeared, a 15% increase compared with the same time period a
year ago.
On 19 July, Bolsonaro accused INPE of lying about the numbers, then
later suggested that his administration should have the right to approve the
agency’s data before they are released to the public. INPE director Ricardo
Galvão accused the president of cowardice for publicly attacking his institute.
No regrets
The data in question come from a monitoring system designed to provide
rapid alerts to law-enforcement officers if it detects a new clearing in the
Amazon as small as one hectare. The data aren't Brazil’s official deforestation
statistics ― which come from a more detailed analysis of satellite observations
― but often follow larger deforestation trends.
Scientists have defended INPE, saying that it has the most comprehensive
deforestation monitoring system in the tropics. The agency’s estimates provide
a reliable gauge of deforestation trends and are based on publicly available
data, says Ane Alencar, the science director at the Amazon Environmental
Research Institute, an advocacy group based in Brasilia.
Galvão met with the minister of science, former astronaut Marcos Pontes,
on 2 August to discuss the issue. But Galvão was told during the meeting that
he was dismissed. He says that he had a constructive discussion with Pontes,
and stressed that there was no indication that INPE’s work on deforestation
would be censored moving forward. But Galvão says that it was clear that he
would have to leave because of the way he challenged the president.
“I don’t have any regrets,” says Galvão, a physicist formerly at the
University of São Paulo who will now return to his academic post. “That was not
a proper thing for a president to say.”
Opening up the Amazon
The reported rise in deforestation comes as no surprise to many
scientists and environmentalists. Bolsonaro's presidential campaign relied in
part on promises to open up the Amazon to agriculture and mining interests.
Since taking office, he has scaled back enforcement of environmental
laws and promoted development in Indigenous reserves. Now, his administration
is pushing forward with proposals to shrink the size of protected areas in
regions including the Amazon.
Bolsonaro has repeatedly derided environmental laws as being a barrier
to progress and has criticized enforcement officials, says Maurício Voivodic,
who heads the Brazilian branch of the environmental advocacy group WWF, which
is in Brasilia. “That’s why we are seeing illegal miners invading Indigenous
lands,” he says. “That’s why we are seeing more deforestation.”
Researchers in Brazil expected to see policy changes when Bolsonaro took
office, but not so quickly or to such extremes, says Mercedes Bustamante, an
ecologist at the University of Brasilia.
doi: 10.1038/d41586-019-02353-6
Updates & Corrections
Update 02 August 2019: This
story has been updated to reflect the fact that Ricardo Galvão, the director of Brazil's National Institute for
Space Research, has been dismissed.
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