sábado, 3 de agosto de 2019

CPLP, Timor-Leste/Câmara de Contas timorense considera ilegais 35 contratos de reabilitação de estradas


30 de Julho de 2019, 08:30, Lusa (Portugal) http://noticias.sapo.tl/portugues/lusa/artigo/26750029.html

Díli, 30 jul 2019 (Lusa) - A Câmara de Contas timorense considerou ilegais, por não terem cabimento orçamental, um conjunto de 35 contratos adjudicados em 2014 e 2015 para reabilitar estradas em Díli, questionando o facto de terem sido atribuídos por ajuste direto.

"As adjudicações e assinatura dos 35 contratos, nos anos de 2014 e 2015, cujo valor total ascende a 114,0 milhões de dólares, foram feitas sem cabimento orçamental, sendo, por esta razão, ilegais", segundo o relatório, a que a Lusa teve acesso.

"Esta situação é suscetível de eventual responsabilidade financeira sancionatória e reintegratória" dos
responsáveis, nomeadamente ex-membros do Governo envolvidos na adjudicação.

A Câmara de Contas refere que os contratos são exemplo da "prática comum" do Conselho de Administração do Fundo de Infraestruturas (CAFI) e do Ministério das Obras Públicas, que adjudica obras sem cabimento orçamental, a maior parte das quais por ajuste direto.

"A prática generalizada em Timor-Leste é a realização de obras públicas através de ajuste direto, sendo que os concursos públicos representam uma parte muito pequena dos contratos celebrados pelo Estado", aponta-se no relatório.

A análise refere-se aos resultados da "Auditoria de Conformidade à Execução do Orçamental do Fundo das Infraestruturas" em 2015, período alargado em "casos pertinentes".

No relatório, a Câmara de Contas diz que, tendo em conta o valor contratual -- 65,3 milhões de dólares (58,7 milhões de euros) em 2014 e 48,7 milhões (43,7 milhões de euros) em 2015 --, verificou-se "uma clara e sistemática suborçamentação do projeto" no Fundo de Infraestruturas.

As obras, diz-se no relatório, foram iniciadas "antes da celebração dos respetivos contratos e antes mesmo da sua adjudicação pelo CAFI", representando encargos que "nem sequer tinham cabimento orçamental".

"Não obstante a inexistência de orçamento para fazer face aos encargos dos contratos de 2014, o CAFI procedeu à adjudicação, no mesmo mês de abril de 2015, de mais 16 contratos para reabilitação de estradas em Díli com valor de cerca de 51 milhões de dólares [45,8 milhões de euros]", nota.

A Câmara de Contas considera que esta "prática adotada pelo CAFI de adjudicar obras sem que as mesmas tenham cabimento orçamental ou estejam sequer orçamentadas se prolongou até ao ano de 2017".

Como exemplo, refere o facto de "a cinco dias das eleições parlamentares, o CAFI deliberar, em reunião extraordinária, adjudicar 143 projetos, no valor de 345,7 milhões de dólares (310,8 milhões de euros)", sendo que "de acordo com a ata da reunião, os projetos não estavam orçamentados".

"Para melhor perceção da gravidade da situação, basta afirmar que o orçamento do FI para o ano de 2017 era de apenas 223,8 milhões de dólares (201,2 milhões de euros), o que quer dizer que o CAFI, composto apenas pelo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Gastão Francisco de Sousa, e pela Ministra das Finanças, Santina Cardoso, aprovou, em apenas um dia, 143 projetos relativos a estradas em pontes, todos por ajuste direto, cujos montantes eram superiores em 121,9 milhões ao valor total do OGE para o FI em 2017", nota.

Estes contratos têm sido alvo de intensa polémica política em Timor-Leste, chegando a ser analisados por uma Comissão de Inquérito parlamentar, suscitada pela oposição, cujo relatório final nunca chegou a ser divulgado publicamente.

No relatório indica-se que uma grande maioria dos contratos foi adjudicada por ajuste direto, incluindo os 22 do programa de "reabilitação de estradas e controlo de cheias" -- no valor total de 18,3 milhões de dólares (16,4 milhões de euros) - 35 contratos para a 2.ª fase da reabilitação de estradas em Díli, no valor de 114 milhões e de oito "contratos de emergências", no valor de dois milhões de dólares.

A Câmara de Contas nota que "todos os contratos foram celebrados através de ajuste direto, procedimento que, de acordo com a lei, deve ser utilizado apenas em situações excecionais, mas que, como é fácil de perceber do presente relatório, constitui, isso sim, o procedimento regra em matéria de contratação pública no âmbito do FI".

No relatório refere-se ainda que as estradas do enclave timorense de Oecusse, construídas depois de concursos públicos restritos, são de melhor qualidade e, em média, 50% mais baratas que as estradas construídas por ajuste direto, na capital.

"As estradas de Oecusse, precedidas de concurso restrito, são, em média, 50% mais baratas do que as estradas de Díli e têm uma qualidade de execução que não tem paralelo em Timor-Leste", considera-se no relatório assinado por um coletivo de juízes timorenses.

"Já as estradas de Díli, como podemos constatar diariamente, além de caras, não têm a qualidade e durabilidade exigível", sustenta a Câmara de Contas.
Lusa/Fim

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