Roger Godwin
O continente africano está cada vez mais
sob o fogo cruzado daqueles países que continuam a apostar numa forma
concertada de fantasiar os meios para depois justificarem os fins pretendidos
quando estes, eventualmente, forem alcançados.
Num cenário
de acentuada crise económica internacional, muitos países reforçaram os
“apetites” pelos tempos do passado, altura em que mandavam e dispunham das
“jóias da coroa”. Um pouco envergonhados com o desempenho económico do
continente africano, sentem uma premente necessidade de criar cenários de
crise, política e social, para encontrarem uma justificação, para que depois
surgirem como “salvadores da democracia” e encetarem acções que provoquem
alterações nas lideranças governativas, pouco importando se estas estão na
plena legitimidade de funções.
Os exemplos desta estratégia são vários e os moldes de a tentar aplicar apenas diferem em razão da força dos ocasionais aliados que esses países encontrem para “despertarem” aquilo que chamam de “consciência da sociedade civil”.
Foi para despertar a “consciência da sociedade civil” que essses estrategas quiseram impedir a reeleição do Presidente do Burundi, lançaram a confusão entre a classe militar no Burkina Faso, estão a colocar à prova a serenidade das instituições sul-africanas e atacam
Tanto no Burundi como no Burkina Faso, esse despertar da “consciência da sociedade civil” saldou-se em várias centenas, senão mesmo milhares de mortos, na destruição de importantes infra-estruturas do Estado e na deslocação de vários milhares de pessoas desde as suas zonas de origem. Na África do Sul, são os estudantes que estão a ser utilizados como “isca” para ver se as forças de segurança exageram na sua determinação para manter a paz e a ordem e assim abrem uma brecha para que seja possível uma ingerência internacional por parte dos habituais “donos da democracia” mundial.
No que respeita a Angola, a desfaçatez é tanta que leva a que se assista a uma campanha orquestrada no sentido de forçar o poder político a meter-se num assunto que é claramente da exclusiva competência da esfera judicial. Ou seja, se os políticos não fazem nada para libertar alguns dos ditos activistas apanhados a conspirar contra o Estado, são logo acusados de indiferença em relação ao que dizem ser a “defesa dos direitos humanos”, mas se tentam promover a sua libertação são também apontados como estando a sobrepor-se ao poder judicial.
A velha
história de ser preso por ter ou por não ter cão, na tentativa de
minimizarem e mesmo ignorarem os avanços que o país fez em termos de respeito
pelos direitos humanos, conforme foi recentemente reconhecido pelas Nações
Unidas.
É por demais evidente que tudo isto não acontece por acaso e aquilo que antes se passou no Burundi não está desligado do que agora sucede em Angola nem na África do Sul.
Em causa está a aplicação de uma mesma estratégia de provocar o caos e o clima de instabilidade, de modo a criar um cenário que favoreça uma intervenção política forte, ou até mesmo militar, capaz de inverter a actual correlação de forças existente nesses países, colocando depois no poder as pessoas que melhor defendam a ideia saudosista de um regresso ao passado ou à cedência aos novos poderes mundiais.
Foi assim que começou a “Primavera Árabe” e, até por isso, as actuais lideranças africanas já têm um conhecimento suficientemente forte para resistirem a algumas tentações mais musculadas, mas sob a capa de “revolucionários” e “democratas”.
Mas é errado pensar-se que, isoladamente, cada um dos países alvo dessa estratégia ocidental pode resistir a essas campanhas, visto que elas são movidas pela força que o dinheiro dá e alimentadas por sofisticados sistemas e redes de informação especializados na criação da calúnia e na difusão de uma realidade construída e destinada exclusivamente a servir os seus interesses.
Face a isto, a melhor forma de resistência a esses avanços é a criação de uma estratégia conjunta em África que crie as condições para a pronta denúncia dessas campanhas e a adopção de medidas conjuntas que a eles possam fazer frente com algumas possibilidades de sucesso.
Tanto ao nível das organizações regionais como continentais, devem ser criados mecanismos que permitam identificar e denunciar todos aqueles que, nos seus próprios países, se disponibilizem para protagonizarem e assim alimentarem “campanhas negras” contra os interesses nacionais.
Pelo menos até agora os “arautos” da democracia que se vendem para hipotecar os seus países têm encontrado pouco espaço de sucesso no continente africano, optando por “pregar” em paragens mais receptivas aos seus “discursos”, quase sempre nas capitais das antigas potências coloniais.
O desafio que neste momento se coloca a África é suficientemente sério para merecer um acompanhamento atento das organizações continentais e a consequente tomada de atempadas medidas de modo a evitar que o problema ganhe o efeito de contágio, como sucedeu durante a famigerada “Primavera Árabe”.
Se o ocidente está unido no ataque concertado contra alguns países africanos, estes, por razões óbvias, também têm que estar juntos para poderem resistir a uma situação que coloca em causa as suas próprias soberanias, que tanto sangue, suor e lágrimas custaram para conquistar.Cada vez mais, neste angustiante período de acentuada crise internacional, a união tem que fazer a força para barrar o caminho àqueles que insistem em impor as suas estratégias para reforçarem o que dizem ser a “consciência da sociedade civil”, mas que nunca revelam, por não o terem, onde encontraram ou quem lhes passou o mandato para se arvorarem defensores dessa mesma sociedade.
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