9 novembro 2015, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
Ivan
Morozov, especial para Gazeta Russa
Segundo
embaixador, Brasil foi informado previamente sobre operação aérea no Oriente
Médio. Akopov ainda afirma que presidente criticou Washington, e não Moscou, em
visita à Suécia.
Embaixador
da Rússia no Brasil desde 2010, Serguêi Akopov, 61, fala com exclusividade à
Gazeta Russa sobre a ameaça do EI (Estado Islâmico), parcerias bilaterais no
setor espacial e crescimento do turismo entre os países, apesar das
dificuldades econômicas atuais.
Gazeta
Russa: Moscou anunciou o envio de forças aéreas à Síria para impedir o avanço
do EI ao país, após mais de mil cidadãos russos terem sido aliciados pela
organização. O quanto isso representa um perigo realmente à Rússia e a outros
Brics?
Serguêi
Akopov: Na
minha opinião, os representantes do movimento terrorista internacional – do
qual faz parte não apenas o EI, mas também uma série de outros grupos – sem
dúvida representam à Rússia um grande perigo. Milhares de cidadãos russos estão
lutando ali e, claro, acredita-se que eles possam retornar à pátria.
Mas
é preciso entender que o movimento terrorista representa uma ameaça não apenas
à Rússia, mas à humanidade. No caso do Brics, Índia e China, que
estão
localizadas geograficamente mais próximas à zona de conflito, também estão expostas
a um perigo crescente.
A
ameaça do terrorismo é a principal razão para o auxílio ao Exército do governo
sírio. Na minha opinião, hoje esse é o único meio de resolução do problema. É
melhor aniquilar o mal por lá, que esperar que ele bata a sua porta.
O
senhor poderia comentar as críticas realizadas quanto à operação militar russa
na Síria por parte da presidente brasileira Dilma Roussef, durante visita à
Suécia? O ministério dos Negócios Estrangeiros dará resposta oficial ao Brasil?
A declaração influirá nas relações bilaterais?
Infelizmente,
a imprensa brasileira usa as informações das principais agências de notícias e
tira as coisas do contexto. A declaração da presidente foi transmitida de
maneira que faz parecer que ela critica a Rússia.
Mas,
analisando a entrevista da presidente com atenção, pode-se ver que, na
realidade, ela não critica a Rússia. Pelo contrário, de maneira muito
diplomática, quem ela critica são os países ocidentais e os EUA por suas ações
no Oriente Médio, apesar de não citar concretamente nenhum país.
Em
primeiro lugar, as declarações da presidente de que o problema não pode ser
resolvido apenas por meios bélicos foi tirada do contexto. Em segundo, essa
posição coincide com a russa. Sempre dissemos que a força, sozinha, não resolve
nada.
A
Rússia realizou alguma consulta ou acordo com outros membros do Brics até o
início das operações militares na Síria?
Sim,
a Federação da Rússia informou com antecedência os membros do Brics sobre o
início das operações militares.
Como
anda a intensificação da parceria aeroespacial Brasil-Rússia anunciada já há
alguns meses?
O
setor espacial é uma das áreas prioritárias de parceria entre Rússia e Brasil,
e buscamos um modo de ampliar cooperação. Digo “buscamos” porque é um setor
muito caro, que exige fortes investimentos financeiros. Na atualidade, ambos
nossos países sofrem uma série de dificuldades econômicas e hoje faltam meios
para avançar com esses programas. Apesar de tudo, isso não significa que a
cooperação tenha sido colocada no freezer.
Relações
tecnológicas
É
um trabalho complicado, que exige muito tempo e é conduzido entre as agências
espaciais. Ambos os lados estão interessados nisso.
Dentre
as iniciativas que já existem, está a cooperação com o Brasil no âmbito do
sistema de navegação Glonass. O Brasil é o primeiro país da região a instalar
uma estação concorrente e terá ainda outras.
O
que o Brasil ganha com a instalação dessas estações em seu território?
O
sistema será usado não apenas com interesses bélicos, mas civis, e o Brasil
está interessado em ter acesso a essa tecnologia. Além disso, o uso
concomitante de dois sistemas de navegação permite que o país seja mais
independente.
Durante
a visita do vice-presidente Michel Temer a Moscou em setembro, o premiê russo
Dmítri Medvedev falou novamente sobre as trocas comerciais entre os países
usando as moedas nacionais. Temer se esquivou um pouco, devido à legislação
nacional, apesar de dizer apoiar a ideia. O senhor acredita ser possível que
ela se concretize?
O
assunto da mudança nas transações para as moedas nacionais é discutido já há
alguns anos e hoje os acordos estão sendo conduzidos entre os bancos centrais
de ambos os países. Apesar disso, há uma série de dificuldades técnicas
determinadas pela legislação financeira e monetária dos dois países que impede,
por enquanto, a realização dessa ideia.
As
perspectivas para essa transição são boas, na minha opinião. Esperar que isso
aconteça amanhã é irreal, mas os trabalhos continuam sendo conduzidos, e
acreditamos que podemos encontrar os mecanismos que permitirão que nos
esquivemos do dólar e do euro nas trocas bilaterais. Os governos dos dois
países apoiam essa iniciativa.
Apesar
de turistas russos não precisarem mais tirar visto para visitar o Brasil, o
país não entrou para os 50 destinos mais populares desses. Há até agências
falando na queda do volume de turistas russos ao Brasil em 2015. Em 2014, por
sua vez, apenas 31 mil turistas brasileiros visitaram a Rússia. O que atrapalha
o crescimento do fluxo de turismo entre os países?
O
volume de 31 mil turistas brasileiros pode não ser tão grande, mas tudo é
relativo, levando em conta o ponto do qual partimos. Se compararmos os
indicadores com os de cinco anos atrás, houve um salto no fluxo turístico,
tanto do Brasil à Rússia, quanto a Rússia ao Brasil.
Nos
últimos anos, o fluxo de turistas brasileiros aumentou muito. Como os
brasileiros nem sempre partem direto à Rússia, muitas vezes a visita a nosso
país integra um tour por diversos países.
Claro
que as dificuldades econômicas tiveram um impacto negativo no turismo, que
diminuiu. Isso ocorre, sobretudo, devido ao alto custo das passagens de avião.
Por esse mesmo motivo, não conseguimos estabelecer a ligação aérea direta entre
nossos países.
No
que diz respeito aos turistas russos, por enquanto o Brasil não está na lista
de destinos tradicionais entre os russos, mas é visível que os turistas russos
vêm mais e mais para o Brasil, tanto para resorts como para as cidades. Há uma
evolução sim, e ela está na cara.
Em
entrevista à agência Tass ao final da cúpula do Brics em Ufá, Dilma falou que o
país estava pronto a trocar experiências com a Rússia quanto à organização da
Copa e das Olimpíadas. Como tem se dado essa troca?
A
troca de experiências se dá tanto no âmbito ministerial, como no dos órgãos das
forças de segurança, das organizações esportivas e dos comitês olímpicos.
Existe um documento intergovernamental que regula a troca de experiências ainda
no âmbito legislativo.
O
embaixador russo Serguêi Akopov, 61, formou-se no Instituto Estatal de Relações
Internacionais de Moscou (MGIMO, na sigla em russo) em 1976. A partir de então,
ocupou cargos em diversos setores diplomáticos russos. Trabalhou no consulado
russo na Costa Rica de 1976 a 1980, e no Chile, de 1990 a 1996. Desde 2010 é
embaixador no Brasil, onde já havia servido de 1983 a 1988. De Brasília,
responde também pelo Suriname.
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