segunda-feira, 23 de novembro de 2015

UM MASSACRE MUITO CONVENIENTE

19 novembro 2015, Tlaxcala http://www.tlaxcala-int.org (México)
Tlaxcala, the international network of translators for linguistic diversity

Source: http://cluborlov.blogspot.com/2015/11/a-most-convenient-massacre.html
Publication date of original article: 16/11/2015

Translated by  mberublue

Quanta diferença pode fazer um único massacre! 

a.       Apenas uma semana atrás a União Europeia não conseguia pensar em nada que pudesse fazer parar o fluxo de “refugiados” que vinham daqueles países que os Estados Unidos e a OTAN tinha bombardeado até a destruição. Mas agora, por que “Paris mudou tudo” as fronteiras da União Europeia estão sendo fechadas e os refugiados forçados a retornar.

b.      Apenas uma semana atrás parecia que os governos europeus estavam sendo afogados por um nacionalismo ressurgente que estava prestes a chegar ao poder através do voto. Mas agora, graças ao massacre em Paris, eles obtiveram uma sobrevida, porque podem abraçar tranquilamente as mesmas políticas que há uma semana chamavam de “fascistas”.

c.       Apenas uma semana atrás a União Europeia e os Estados Unidos não podiam
permitir a si mesmos a admissão de que eram totalmente incompetentes para dar combate à própria criação – quer dizer, o Daich/ISIS/ISIL – e precisavam da ajuda da Rússia. Mas agora, na sequência do encontro de cúpula do G-20, estão todos prontos para manter a linha e deixar que Putin toque a guerra contra o terrorismo. Vejam só – até os (norte)americanos conseguiram finalmente ver aqueles comboios de caminhões tanques que se estendem até o horizonte e que o Daich/ISIS/ISIL usa para transportar o óleo cru que roubam dos campos da Síria – depois que Putin lhes mostrou fotos de satélite!

Estou por acaso sendo grosseiro e insensível? Não mesmo – Deploro todas as mortes causadas por ataques terroristas no Iraque, na Síria, no Líbano e em todos os outros países cujas populações nunca fizeram absolutamente nada para merecer tal tratamento. Eu só me sinto muito mal em relação aos franceses, que ficaram quietinhos enquanto seu exército ajudava a destruir a Líbia (que também nada fez para merecer isso).

Por favor, observe que depois que o jato russo caiu no Sinai, não vi ninguém colocando avatares com a bandeira russa depois daquela tragédia, nem vi velas ou flores ou vigílias nas várias capitais ocidentais. Pelo contrário, cheguei a perceber um certo cheiro de satisfação arrogante, como se a Rússia estivesse pagando um preço justo por ter avançado o sinal na Síria.

Por que as reações diferentes? Simples: disseram que você tinha que lamentar as mortes em Paris e você fez exatamente isso. Não disseram para você lamentar as mortes dos russos com a queda do avião, então você não lamentou. Não se sinta mal. Você só está seguindo ordens. O raciocínio por trás dessas ordens é transparente: os franceses, juntamente com o resto da União Europeia, são fantoches à disposição de Washington; portanto, eles são totalmente inocentes de tudo, e quando são mortos, isso é uma tragédia. Mas os russos se recusam a ser fantoches de Washington, daí não são considerados inocentes, e portanto, quando são assassinados por terroristas, estão apenas sofrendo uma justa punição. Mais: quando iraquianos, sírios ou nigerianos são assassinados por terroristas, isto também não é uma tragédia, por uma razão totalmente diferente: são pobres demais para que alguém se importe. Para que alguém se classifique como vítima de uma tragédia aos olhos ocidentais, têm que ser estas três coisas: 1) fantoche dos Estados Unidos; 2) rico e 3) morto.

Acrescente a tudo isso que você muito provavelmente acredita que os ataques terroristas em Paris foram autênticos como tal – ninguém poderia sequer imaginar que isso poderia vir a acontecer e também não se conseguiria impedir o ataque, já que os tais terroristas são inteligentíssimos e conseguem burlar a vigilância estatal onipresente. Não se sinta mal quanto a isso, também; você está apenas acreditando no que lhe mandaram acreditar. Está na cara que você acredita também que combustível para jatos podem derreter vigas de aço e que arranha-céus podem desabar sobre os próprios alicerces (atingidos ou não por aviões). Claro que você é livre para acreditar no que quiser, mas vou lhe dar um par de dicas fáceis de entender para lhe mostrar o que é real e o que é falso:

1. Se for falso, então saberemos imediatamente (às vezes antes de acontecer) quem são os perpetradores do atentado. Se for real, então a verdade só é descoberta depois de uma investigação completa e detalhada. Assim, por exemplo, soube-se imediatamente após os acontecimentos trágicos de 9/11 que os terroristas eram um punhado de sauditas armados com estiletes (alguns dos quais, por incrível que pareça, ainda estão vivos). Em Paris, soube-se imediatamente que os culpados pelo atentado eram militantes do Daich/ISIS/ISIL, e isso mesmo antes de termos conhecimento sobre a identidade deles. Quando o jato da Maylasian AirLines foi abatido sobre território ucraniano, a Rússia foi no mesmo instante acusada como culpada (ninguém se importou com o fato de que os ucranianos implantaram um sistema de defesa aérea e armaram dois jatos com mísseis ar/ar, para lutar contra um inimigo que não tinha [e ainda não tem] força aérea). Já em relação ao jato russo abatido sobre o Sinai, ainda não sabemos o que aconteceu exatamente. Como deveria ser em todos os casos, está sob investigação. Quando os fatos são reais, os encarregados pela investigação solicitam cautela e pedem tempo enquanto tentam descobrir o que aconteceu. Quando se trata de uma operação de falsa bandeira, os investigadores estão prontos para concordar imediatamente com qualquer Grande Mentira Oficial e em seguida fazem de tudo para manter a mentira, suprimindo qualquer resquício de prova que pudesse vir a ser recolhida por investigadores independentes. 

2. Se for falso, pode contar com algumas coisinhas bem arrumadinhas para o evento: logotipos de desenhistas imaginativos como se fossem para campanhas publicitárias, a serem lançados imediatamente junto com o evento, seja uma frase “Je Suis Charlie” ou um desenho inspirado com o símbolo da paz se fundindo com a Torre Eiffel. Não havia, porém, adereços desse tipo quando da tragédia do jato russo, onde morreram 224 pessoas, a não ser que você considere como algo de bom gosto um desenho do Charlie Hebdo de um foguete jihadista a fazer sexo anal com um avião de passageiros. Nos eventos falsos, também abundam bugigangas para provocar um frenesi-quase-êxtase da mídia, coisas já tradicionais como passaportes falsos encontrados ao lado de um dos autores, porque é fato sabido que todos os terroristas quando saem em missão suicida sempre levam seus passaportes falsos no bolso. O pior de tudo é que as pessoas que são encarregadas de montar essas farsas trágicas nem imaginação têm: normalmente repetem as mesmas coisas que já fizeram antes.

Podemos esperar quase com certeza que ataques de falsa bandeira, com mais massacres como esse aconteçam – a qualquer momento em que a situação política se torne preocupante o bastante para que mais um mostre a cara feia – porque nesta altura do jogo político e na postura prontos-para-tudo em que o ocidente se meteu, as células jihadistas são menos custosas e podem ser eficaz e facilmente implantadas. Claro que devemos sempre lamentar a perda de vidas humanas que, lamentavelmente, a cada ano se tornam uma mercadoria mais e mais desprezada, mas claro que há coisas que importam mais que meras vidas humanas. Deveríamos estar de luto pela verdade.

*Dmitry Orlov é um engenheiro russo-americano e escritor sobre temas relacionados ao declínio econômico, ecológico e político dos Estados Unidos. Orlov acredita que o colapso será o resultado dos orçamentos militares, enormes déficits do governo e um sistema político que não responde e declínio da produção de petróleo. Orlov nasceu em Leningrado (agora São Petersburgo) e se mudou para os Estados Unidos com 12 anos. Tem bacharelado em Engenharia de Computação e Mestrado em Lingüística Aplicada. Foi testemunha ocular do colapso da União Soviética durante os ano 1980-90. Entre 2005 e 2006 escreveu uma série de artigos sobre o colapso da União Soviética publicada em PeakOil. Em 2006 publicou o Manifesto Orlov on-line, A Nova Era da Vela”. Em 2007, ele e sua esposa venderam seu apartamento em Boston e compraram um veleiro, equipado com painéis solares e seis meses de fornecimento de gás propano e capaz de armazenar grande quantidade de produtos alimentícios. Chamou “cápsula de sobrevivência”. Continua a escrever regularmente no seu blog “Clube Orlov” e no EnergyBulletin.Net


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