sábado, 14 de novembro de 2015

Moçambique/Empoderamento da mulher no país: políticas vigentes devem ser cumpridas

13 novembro 2015, Jornal Notícias http://www.jornalnoticias.co.mz (Moçambique)

Para garantir maior participação da mulher nas diferentes áreas de actividade que possam contribuir para o desenvolvimento do país, os governantes têm um papel fundamental no cumprimento das políticas vigentes que visam capitalizar os valores éticos e morais através do seu envolvimento no processo de construção do país.

Esta tese foi recentemente defendida na Beira por mulheres académicas de diversos pontos do mundo durante a sua participação no I Congresso Internacional sobre o Género e Segurança Alimentar pela Sustentabilidade da África Austral, evento que foi organizado pela Universidade do Zambeze (UniZambeze) que juntou mais de duas mil pessoas, na sua maioria do sexo feminino.

Em entrevista
 ao “Notícias” na Beira, as nossas fontes afirmaram que há muitas políticas que foram aprovadas, sobretudo as sobre os direitos da mulher, mas não são aplicadas integralmente pelos governantes em termos de participação nos órgãos de tomada de decisão, acesso aos serviços básicos, concorrendo deste modo para outros males de desvalorização da mulher.

Apesar disso, elas reconheceram que Moçambique tem-se destacado bastante ao nível da região de África, ao fazer parte dos 12 melhores países que estão a se esforçar no cumprimento das mesmas.

Há grandes avanços – Generosa Gonçalves, da UEM
Para a directora do Centro de Coordenação dos Assuntos do Género na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), em Maputo, Generosa Gonçalves, Moçambique tem estado a aplicar-se a fundo no empoderamento da mulher através da sua participação nos diferentes ramos de actividade, contribuindo, deste modo, no processo de desenvolvimento do país.

Aquela académica explicou que hoje nota-se com muita satisfação a participação das mulheres nos cargos de chefia nas diversas áreas de actividade, desde as políticas até as consideradas mais chave, marcando assim uma diferença assinalável com os outros países, sobretudo nos últimos anos.

Apesar desta melhoria, esforços devem ser envidados pelas autoridades competentes no sentido de cultivar na mulher o espírito de que ela é muito importante na sociedade através da sua formação escolar.

“O país avançou bastante nos últimos tempos na questão de empoderamento da mulher, do ponto de vista político. Neste momento está a fazer um grande esforço para empoderar a mulher do ponto vista económico e social. A nossa luta é que paralelamente ao empoderamento económico se faça um grande trabalho para empoderar a mulher na questão social, porque ela ainda é sujeita a vários males”, defendeu a académica.

Academias têm um papel – Beth Ahlberg, presidente do órgão
Já a presidente das mulheres cientistas e académicas de África, a queniana Beth Ahlberg, afirmou que, apesar de a participação da mulher, sobretudo na política, educação e emprego, ter melhorado nos últimos tempos em África, situando-se entre 30 e 40 por cento em relação aos homens, as desigualdades de género ainda persistem, negando a esta camada social os benefícios.

Ahlberg explicou que as academias devem sempre auto-questionar-se em relação ao desenvolvimento, educação e pesquisas efectuadas nas diversas áreas, de forma a ajudarem no alcance da inclusão social, incluindo a igualdade de género.

Apontou que os casamentos prematuros, a mutilação dos órgãos genitais e a saúde sexual reprodutiva continuam a matar as mulheres, sobretudo em África, daí que as academias têm um papel preponderante na pesquisa desses males para que se encontrem plataformas para se pôr cobro a estas situações.

“Sobre os vários males que as mulheres enfrentam as academias devem auto-questionar-se sobre o desenvolvimento inclusivo em várias áreas, ir às comunidades para compreender as perspectivas das pessoas, sobretudo das mulheres. Contudo, a participação da mulher nos últimos anos avançou mas ainda temos de fazer muito porque não cumprimos com os objectivos do milénio na componente da mulher”, sublinhou a queniana.

A fonte defendeu ainda a necessidade de haver transdisciplinaridade nas pesquisas que as academias efectuam.

“Em África a busca de água para o consumo tem sido tarefa exclusiva da mulher, cuidar das crianças, entre outras tarefas, são incumbidas à mulher. Ora, as academias têm um papel fundamental na mudança de comportamento”, aflorou a fonte.
Acrescentou que as academias devem reflectir sobre o discurso desenvolvimentalista e a prática, de forma a assegurar a implementação de políticas integradas que trazem conhecimentos endógenos.

Há muito por se fazer para a mulher – Glória Naene, da UniZambeze
Por seu turno, a directora do Gabinete das Relações Internacionais na Universidade do Zambeze (UniZambeze),Glória Naene, diz que apesar de se terem registado alguns avanços no empoderamento da mulher ainda há muito por fazer, o que envolve todos os segmentos da sociedade civil.

Actualmente, segundo Glória Naene, as mulheres ainda são sujeitas a vários males, desde a falta de acesso aos serviços básicos, sendo da primeira necessidade até aos financiamentos para desenvolver os seus projectos de geração de renda para a sua sustentabilidade.

“A mulher continua a ser marginalizada e relegada ao último plano. Isso deve acabar, e ela deve ser vista como um contribuinte maioritário para o crescimento do país. Ela pode fazer o que os homens fazem, daí que a educação aqui é chamada a intervir alocando mais escolas nas zonas rurais, sobretudo de alfabetização, para maior educação. Uma mulher formada está mais pronta para conhecer os seus direitos e deveres”, argumentou a fonte.

Disse ainda que o Governo deve adoptar medidas apropriadas contra os que praticam a violência doméstica, tráfego, abuso sexual, entre outros.

“Há muitas mulheres que são violentadas sem denunciarem, sobretudo nas zonas recônditas, porque não conhecem os seus direitos, daí que elas são exploradas. Deve haver um plano de educação nas comunidades de forma que elas conheçam os seus direitos e deveres.

Práticas religiosas retrocedem esforços – Maria Barbito, docente brasileira
Para Maria Barbito, docente de uma universidade brasileira, algumas práticas religiosas estão a influenciar grandemente na desvalorização da mulher, visto que na religião ensina-se que a cabeça da mulher é sempre o homem.

Aquela académica é de opinião que a promoção do empoderamento da mulher deve envolver todos os segmentos da sociedade civil, com principal enfoque para as igrejas, onde se ensina os modos de convivência.

“É na igreja que se aprende que o marido é que tem o poder de decisão e há coisas que as mulheres não devem fazer que os homens fazem, o que não é verdade. Ora, todos nós somos chamados a enfrentar esta situação e dizer não. As mulheres são iguais aos homens e elas podem fazer tudo e gozam dos mesmos direitos”, defendeu a brasileira.

Disse estar a constatar uma fraca participação da mulher e valorização das suas capacidades nos meios de convivência social e laboral como estando a contribuir para acentuar a sua dependência em relação ao seu cônjuge.

“Temos de incutir na mulher que é possível ser diferente mas com igual autonomia sobre os processos de tomada de decisão na família e na comunidade. O importante é promover as acções de escolarização das mulheres através de programas de educação de adultos, crédito, poupanças bem como assistência jurídica”, referiu Barbito.

Igualdade não é tomar o lugar do homem – Patrícia Kasarigilak, estudante sueca
Já a estudante universitária sueca e participante no congresso, Patrícia Kasarigilak, referiu que falar de igualdade não é tomar o lugar do homem mas é dar oportunidade à mulher de contribuir para o desenvolvimento do país.

“Muita gente pensa que quando as mulheres falam de igualdade de género querem tomar o lugar do homem. O que se pretende é que haja uma convivência social e não discriminação”, referiu a fonte.

Afirmou ainda que em relação aos problemas que afectam as mulheres são generalizados, porque estas são sempre relegadas ao segundo plano.

Para pôr cobro à situação, as autoridades governamentais e a sociedade civil devem desenhar políticas claras para que haja um maior respeito à mulher, sobretudo a da zona rural, que mais sofre da desvalorização, sobretudo da violência doméstica.

Laiton Sifa

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