29 novembro
2015, Tlaxcala http://www.tlaxcala-int.org
(México)
Tlaxcala, the international network of translators for
linguistic diversity
Vladimir Putin
Владимир Владимирович Путин
Tivemos negociações substanciais com o presidente
francês, conduzidas de modo construtivo e baseadas numa relação de confiança.
Naturalmente, dedicamos atenção máxima à questão da luta conjunta contra o
terrorismo internacional.
O ataque bárbaro ao avião russo sobre a península do
Sinai, os horríveis eventos em Paris e os ataques terroristas no Líbano, na
Nigéria e no Mali causaram grande número de vítimas, das quais centenas de
cidadãos russos e franceses. É nossa tragédia comum, e nos mantemos unidos em
nosso compromisso de encontrar os culpados e levá-los ao tribunal.
Já intensificamos a operação das forças armadas russas
contra os terroristas na Síria. Nossas ações militares são eficazes: os
militares do dito 'Estado Islâmico' e outros grupos radicais sofreram perdas
pesadas. Perturbamos os mecanismos de funcionamento dos extremistas, causamos
dano à infraestrutura militar deles e minamos consideravelmente a sua base
financeira. Refiro-me, em primeiro lugar, ao comércio ilícito de petróleo, que
gera lucros imensos para os terroristas e seus apoiadores.
Todos os que se servem de
duplos padrões em suas relações com os terroristas, utilizando-se deles para
alcançar seus próprios objetivos políticos e envolvem-se em atividades
comerciais ilícitas como sócios de terroristas estão brincando com fogo. A
história mostra que cedo ou tarde essas ações
viram-se contra os que encorajam
os criminosos.
Rússia e França sabem o que significa a ação em espírito
de aliança; estivemos unidos mais de uma vez ao longo de nossa história. Hoje,
decidimos intensificar nossos esforços comuns para a luta antiterrorista,
melhorar a qualidade da troca de informações operacionais na luta contra o
terrorismo e estabelecer um trabalho construtivo entre nossos especialistas
militares, como o objetivo de evitar qualquer incidente, concentrando nossos
esforços a fim de assegurar que nosso trabalho na luta contra o terrorismo seja
mais eficaz, evitando ações contra territórios e forças armadas que também
combatem contra os terroristas.
O presidente Hollande e eu entendemos que esse tipo de
cooperação é contribuição concreta e prática à formação de uma grande coalizão
antiterrorismo, de uma grande frente antiterrorista sob os auspícios da ONU.
Destaco que é crescente o número de nações que tratam já de unir-se a essa
iniciativa.
Estamos convencidos de que a erradicação do terrorismo na
Síria criará condições necessárias para que cheguemos a um acordo e, no longo
prazo, ao fim da crise síria. Decidimos que continuaremos a trabalhar juntos
muito ativamente no quadro do Grupo internacional de apoio à Síria e a agir em
favor da realização de todos os acordos firmados no seio desse grupo, sobretudo
no que tenha a ver com detalhes e parâmetros para que se constitua e avance um
diálogo inter-sírios.
Nas conversações de hoje, não poderíamos ter ignorado a
situação na Ucrânia; nesse contexto, discutimos as perspectivas de cooperação
no Formato Normandia. Continuaremos a insistir em que sejam postas em prática
todas as cláusulas dos acordos de Minsk de 12 de fevereiro.
Concluindo, devo agradecer ao senhor presidente da França
e a todos os companheiros franceses por esse diálogo aberto e construtivo.
Decidimos continuar nossas conversações em Paris, no quadro da Conferência da
ONU para mudança climática.
PERGUNTAS & RESPOSTAS
(Jornalista francês): Boa-noite. Uma pergunta ao
Sr. Putin. Senhor presidente, o senhor concorda com a ideia de que manter no
cargo o Sr. Assad é um entrave à realização de seus objetivos comuns? Chegaram
a algum acordo sobre que grupos podem e não podem ser tomados como alvos dos
ataques aéreos?
Vladimir Putin: Entendo que a sorte do
presidente da Síria deve ser decidida inteiramente pelo povo sírio.
Concordamos entre nós que é completamente impossível
lutar com sucesso contra o terrorismo na Síria sem operações de solo, e não há
forças hoje que possam executar operações terrestres na luta contra Daesh,
Frente al-Nusra e outras operações terroristas, exceto as forças do exército do
estado sírio.
Quanto a isso, entendo que o exército do estado sírio sob
o comando do presidente Assad e o próprio presidente Assad são nossos aliados
naturais na luta contra o terrorismo. É possível que haja outras forças em
solo, que declarem sua disposição de lutar contra o terrorismo. Atualmente,
estamos cuidando de estabelecer contato com essas forças, já o fizemos com
algumas delas e, como eu mesmo já disse várias vezes, estamos prontos a
ajudá-las nos seus esforços na luta contra o Daesh e outras organizações
terroristas, como já apoiamos o exército de Assad.
Decidimos também, e entendo que é parte muito importante
de nossos acordos com o senhor presidente da França, hoje, que – assim como
fazemos com outros países da região – trocaremos informações sobre os
territórios ocupados em maior parte por grupos da oposição 'sã', mais do que por
terroristas; e evitaremos dirigir nossos golpes aéreos contra esses
territórios. Também trocaremos informações porque nós – França e Rússia – temos
absoluta certeza de que alguns territórios são ocupados por organizações
terroristas, e coordenaremos nossos esforços nessas zonas.
(Jornalista russo): Tenho uma pergunta para o
presidente da Rússia. Senhor presidente, trata-se aqui de uma coalizão de
grande envergadura e, quanto a isso, gostaria de perguntar sobre o específico
lugar da Turquia nessa história. Hoje, por exemplo, o exército russo sinalizou
que intensificou os ataques sobre a região do território sírio onde o avião
russo foi abatido.
Ao mesmo tempo, jornais e jornalistas turcos acusam a
Rússia de, praticamente, ter bombardeado um comboio humanitário. Nesse
contexto, o assunto "Turquia" foi objeto de discussão na reunião com
o presidente francês? E o que nos podem dizer sobre o papel da Turquia nessa
história e nas nossas relações com aquele país?
Vladimir Putin: Como todos sabem, a Turquia
é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN. A França também é
estado membro da OTAN, e compreendemos a posição da França nessa situação. Mas
o senhor presidente da França manifestou condolências imediatamente depois da
morte dos nossos militares, e lhe somos reconhecidos por isso.
Quanto ao território mencionado em sua pergunta, onde
morreram militares russos, de fato, as forças armadas sírias utilizaram-se de
seus lança-foguetes múltiplos, fornecidos por nós recentemente, em ações coordenadas
com a Força Aérea Russa, e os ataques contra essa região foram intensificados
imediatamente depois que recebemos informações confiáveis de que um militar
russo havia sido morto ali, e pudemos tomar as necessárias providências para
salvar o segundo. Não poderia ser diferente. Essa é a maneira correta de agir.
Inicialmente, quero registrar um comentário sobre o que
pensamos do assunto de haver ali algumas tribos próximas da Turquia, os
turcomenos. Uma pergunta impõe-se imediatamente: o que fazem naqueles
territórios representantes de organizações terroristas turcas, que se exibem
para as câmeras de TV e postam imagens suas na Internet?
Segundo: o que fazem ali, naquele território, criminosos
fugitivos que a Federação Russa procura por crimes praticados aqui e que são
claramente classificados como terroristas internacionais? Nossos militares
operavam naquele quadrante para impedir a volta possível dessas pessoas ao
território russo para cometerem mais crimes; nossos militares cumpriam seu
dever com a Rússia, diretamente. Digo, diretamente! Repito a minha pergunta: o
que fazem lá aquelas pessoas?
Entendemos que é perfeitamente justificado que
intensifiquemos os esforços de nossa aviação naquela área e que apoiemos a
intensificação dos esforços, também, das forças sírias.
Quanto ao bombardeio de algum comboio humanitário, tanto
quanto sei a organização humanitária da qual as autoridades turcas falavam já
se manifestou e declarou que não tinha nenhum comboio ou representanteseu
naquela zona, no momento em que ocorreram os fatos. Se algum comboio havia ali,
com certeza não era pacífico. Se havia algum "comboio" naquela
região, suponho que, como ordena a lei internacional, teria de ter declarado
que tipo de comboio seria, para onde ia e o que fazia ali. Dado que nada disso
foi feito, supusemos que a carga transportada pelo tal comboionada teria de
humanitária. Aí está mais um elemento de prova de que os terroristas
internacionais contam com cumplicidades consideravelmente importantes.
(Jornalista francês): Boa-noite. Minha pergunta
é dirigida aos dois presidentes. Senhor Putin, por que o senhor instalou na
Síria os sistemas S-400 de foguetes múltiplos? Senhor Hollande, essa instalação
dos S-400 é compatível com os esforços da coalizão internacional [fala da
coalizão EUA-OTAN]?
Vladimir Putin: O S-400 não é sistema de
lança foguetes múltiplos, mas um sistema de múltiplos mísseis antiaéreos. Não
havíamos trazido antes esses sistemas para o território sírio, porque nossa
aviação opera em altitudes que nenhum terrorista alcançaria. Os terroristas não
têm a necessária tecnologia militar para abater avições que voem acima de 3, 4
mil metros.
Jamais antes nos passara pela cabeça que poderíamos se
atacados por estado e exército que supúnhamos que fosse nosso aliado.
De fato, os nossos aviões, voando a alturas de 5-6 mil
metros, não estavam absolutamente protegidos: não estavam protegidos contra
ataque por jatos de caça de outro país, em céus sírios. Se tivéssemos suposto
que um ataque como o que sofremos seria possível, o S-400 já estaria na Síria
há muito tempo, para proteger nossos aviões.
E há também outras formas de tecnologias e proteções
militares, por exemplo caças de escolta ou, pelo menos, técnicas de defesa
antimísseis, principalmente as defesas térmicas. Os especialistas sabem fazer
operar tudo isso.
Mas repito: nada disso havia sido feito antes, porque
entendíamos que a Turquia fosse estado amigo e absolutamente não esperávamos
que a Turquia atacasse a Rússia. Por isso, precisamente, entendemos que o que
foi feito foi como punhalada pelas costas.
Vimos agora que, sim, pode acontecer. A Rússia perdeu
soldados naquela área. Temos o dever de garantir a segurança de nossas tropas e
de nossos aviões. Por isso instalamos lá um moderno sistema S-400. Funciona
sobre grandes distâncias e é um dos mais eficazes sistemas desse tipo que há
hoje no mundo.
Mas não ficaremos só nisso. Se for necessário,
complementaremos a atividade de nossos caças com aviões de combate e outros
meios, inclusive, é claro, de guerra eletrônica. Fato é que há muitos meios de
proteção, e agora os alocaremos e utilizaremos.
Nada disso contradiz o que fazemos com a coalização
dirigida pelos EUA. Trocamos informações com ela, mas estamos muito preocupados
com a natureza das trocas e os resultados de nosso trabalho comum.
Considerem o seguinte: alertamos nossos parceiros
norte-americanos com antecedência sobre as zonas nas quais nossos pilotos
operarão, altitude, etc. Os EUA, que dirigem a coalização que inclui a
Turquia, sabiam hora e local onde estariam nossos aviões e nossos
pilotos. Fomos atacados precisamente nesse ponto.
Pergunto aos senhores: de que nos serviu ter fornecido
aquela informação aos EUA? Ou os EUA não conseguem controlar nem o que fazem os
seus próprios aliados, ou os EUA distribuem a torto e a direito as informações
que recebam, sem nem perceber as consequências. Naturalmente tínhamos de
promover reuniões sérias de consulta com nossos parceiros sobre essa questão.
Mas o sistema de mísseis de defesa aérea não é, de modo nenhum, dirigido contra
nossos parceiros com os quais lutamos contra os terroristas na Síria.
(Jornalista russo): O senhor falou da
necessidade de organizar uma grande coalizão. Será esse o tipo de coalizão da
qual o senhor falou em seu discurso na ONU, ou prosseguirá a disputa entre
diferentes 'coalizões'? Se a disputa prossegue, teremos de perguntar sobre a
eficácia de haver duas coalizões, particularmente depois do incidente com o
avião russo. Ou quem sabe os senhores têm em vista uma nova coalizão comum e,
se for esse o caso, é possível que tal coalizão possa vir a agir também em
outros países ameaçados pelo Daesh, não só na Síria?
Vladimir Putin: No que concerne à
coalizão, o presidente Hollande e eu discutimos essa questão hoje. Respeitamos
a coalizão organizada pelos EUA e estamos prontos a trabalhar com essa
coalizão. Entendemos que seria preferível estabelecer coalizão unificada e
comum. Isso tornaria mais simples e mais fácil e, penso eu, também mais eficaz
fazer a coordenação de nossos esforços comuns nessa situação. Mas se nossos
parceiros não estão prontos a fazer tal coisa... Sim, sim, foi disso
que falei na ONU. Mas se nossos parceiros não estão dispostos, muito bem,
também podemos trabalhar em outros formatos, em qualquer formato que nossos
parceiros considerem aceitável. Sim, estamos dispostos e prontos a cooperar com
a coalizão construída pelos EUA.
Mas é claro que incidentes como a morte de nossos
militares – o piloto e um Marine que tentava salvar os
companheiros de armas – e a destruição do nosso avião são totalmente
inaceitáveis. Nossa posição é que nada disso pode voltar a acontecer. Para
impedir que tais coisas voltem a acontecer, não precisamos nem de cooperação
nem de coalizão com país algum.
Discuti tudo isso, em detalhes, com o presidente da
França. Acertamos que trabalharemos juntos no futuro imediato, em formato
bilateral e, em geral, com a coalizão organizada pelos EUA.
A questão é delimitar territórios que sejam alvos
preferenciais para serem atacados e os territórios nos quais é prudente evitar
ataques; trocaremos informações sobre essas questões e outras, e coordenaremos
a ação em áreas de combate.
Quanto à questão do contrabando de petróleo e a questão
de que foram destruídas instalações em território turco, questões que vieram à
tona na reunião do G20, que acontecia precisamente na Turquia, em Antalya, já
exibi imagens e já falei publicamente sobre isso. As imagens foram colhidas por
nossos pilotos, de uma altura de 5 mil metros. Os veículos que transportavam
petróleo contrabandeado formavam fila tão longa que, mesmo daquela distância a
fila desaparecia no horizonte. É como um oleoduto sobre rodas. O petróleo está
sendo contrabandeado e fornecido em escala industrial, saído de áreas do
território sírio que estão no momento controladas pelos terroristas. Esse
petróleo provém dessas regiões, não de outras regiões.
Pode-se ver do alto, de nossos aviões, para onde se
dirigem aqueles caminhões-tanques: dirigem-se para a Turquia e não param nunca,
dia e noite. Posso imaginar que os mais altos governantes turcos não saibam de
nada disso. É difícil acreditar que não saibam, mas, teoricamente, é possível
que ainda não soubessem.
Mas nada disso significa que, agora que já foram
informadas, as autoridades turcas não tenham o dever de pôr fim àquele
contrabando.
O Conselho de Segurança da ONU adotou resolução especial
que proíbe que alguém compre petróleo diretamente dos terroristas, porque
aqueles barris e caminhões-tanque não contém só petróleo: estão cheios também
de sangue de nossos cidadãos; e porque os terroristas servem-se do dinheiro
desse comércio para comprar armas e munição e para montar ataques sangrentos
como esse, contra nosso avião civil no Sinai e os atentados em Paris e em
outras cidades e países.
Se as autoridades turcas queimam o petróleo que
confiscariam dos contrabandistas... por que ninguém vê qualquer sinal de
fumaça? Permitam que repita que o contrabando de petróleo atinge, ali, escala
industrial. Seria preciso construir instalações especiais para conseguir
destruir tais quantidades de petróleo. Nada disso está acontecendo. Se os mais
altos governantes da Turquia não estavam informados do que se passa, a partir
de agora já têm o dever de abrir os olhos.
Não tenho nenhuma resistência a acreditar que há
corrupção e pode haver contratos clandestinos gigantescos. É indispensável que tudo isso venha à luz.
Mas não resta nenhuma dúvida de que o petróleo viaja
diretamente para a Turquia. Já vimos de nossos aviões e já fotografamos e já
mostramos as imagens. O fluxo de caminhões é ininterrupto e os caminhões voltam
vazios. São carregados na Síria, em território controlado pelos terroristas,
vão para a Turquia e retornam à Síria vazios. Todos os dias. Lá estão e podem
ser vistos todos os dias.
Quanto à questão de se o presidente turco deveria, ou
não, renunciar à presidência, não é coisa que nos diga respeito; só diz
respeito ao povo turco. Os russos nunca nos metemos em assuntos internos de
outros países e não começaremos agora. Mas é uma lástima perder as relações
bilaterais sem precedentes que desenvolvemos com a Turquia ao longo dos últimos
anos. Nossas relações haviam alcançado alto grau e considerávamos a Turquia não
só como nação vizinha, mas também como país amigo e praticamente como nação
aliada. É triste ver tudo isso destruído com brutalidade e levianamente.
Quanto à ideia, que também circulou, segundo a qual a
aviação turca não teria reconhecido nosso avião, é absolutamente impossível.
Fora de questão. Impossível. Nossos aviões são muito claramente identificados.
Não há quem não visse que se tratava de avião russo. Fora de questão.
Além disso – permitam que eu repita mais uma vez –,
conforme os acordos que temos com os EUA, sempre demos aos norte-americanos
todas as informações antecipadas sobre a operação de nossos aviões, formações,
zonas e horários.
No momento, estamos trabalhando a partir da hipótese de
que a coalizão EUA-Turquia é efetiva e que todos os membros dela sabiam, sim,
que havia aviões russos em operação naquele ponto, naquele momento. Que outros
aviões seriam, se não os nossos? E se os turcos tivessem identificado ali um
avião dos EUA? Teriam derrubado um avião norte-americano?
De fato, esses argumentos dos turcos são absolutamente
absurdos e inverossímeis, tentativa de arranjar desculpas.
É lastimável que, em vez de determinar investigação
aprofundada e séria sobre o que realmente aconteceu, e de tomar medidas para
garantir que esse tipo de ação criminosa não se repita, os turcos só façam
repetir tolices e declarações confusas. Aliás, nem desculpas apresentaram e
entendem que não devem desculpas. OK. Eles resolveram assim. Não é ideia nossa;
é ideia da Turquia.
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