sexta-feira, 1 de maio de 2015

A SADC E A INDUSTRIALIZAÇÃO

30 abril 2015, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)

Nos processos de integração económica em que se encontram engajados Estados, como sucede na SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), a experiência demonstra que o princípio do gradualismo na execução de tarefas que conduzam a um espaço regional desenvolvido, garante melhores resultados e sustentabilidade.

Ao nível da região da SADC, um mercado com mais de 200 milhões de consumidores, muitas vozes defendem uma aceleração dos processos de integração, enquanto outras defendem medidas progressivas.

Angola tem defendido medidas graduais que ajudem a acelerar o comércio e as trocas comerciais numa altura em que a estratégia de governação passa pela diversificação da economia. Ontem aconteceu em Harare, capital do Zimbabwe, uma Cimeira Extraordinária da SADC em que Angola marcou presença por via do ministro das Relações Exteriores, Georges Chicoti, em representação do Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos. No encontro, os representantes dos Estados membros da SADC debateram, entre outros temas de interesse, a estratégia e roteiro para a industrialização, e
reviram o plano de desenvolvimento regional.

Os países membros da SADC discutiram importantes temas, numa altura em que a maioria dos Estados se debate com o desafio da diversificação das suas economias para melhorar as condições de vida das populações. Sob o lema “Uma estratégia regional para os caminhos da industrialização”, os Estados membros da SADC avaliaram os caminhos pelos quais tem de passar o seu desenvolvimento, tendo como estratégia o investimento na indústria transformadora, no agro-negócio e a liberalização das trocas entre os Estados. Em Harare, o ministro Georges Chicoti reafirmou o compromisso de Angola de tomada de medidas graduais, mas eficazes, para diversificar a economia, alargar a esfera das trocas comerciais e reduzir custos.

A agenda africana tem sido preenchida por discussões interessantes sobre a diversificação e o lançamento das negociações da zona livre de comércio continental. A SADC não pretende estar alheia às iniciativas e desenvolvimentos que estão a levar numerosos países a juntarem-se em blocos de integração em que o livre comércio constitui o seu maior activo.

A organização regional, a SADC, de que faz parte Angola, também ensaia passos neste sentido. Obviamente, não podemos esperar que, da noite para dia, integremos logo a Zona de Livre Comércio, atendendo a que existem ainda cautelas e procedimentos que ajudem Angola a entrar de forma segura e sustentável. Tratando-se de um país que apresenta ainda situações de pós-guerra, Angola faz esforços gigantescos para preparar o seu caminho, promovendo trocas comerciais e acordos de comércio com os países vizinhos. Georges Chikoti referiu em Harare que Angola tem estado a assinar acordos de comércio transfronteiriço com países vizinhos, acrescidos da reabertura das ligações ferroviárias e aéreas entre os Estados.
 
Angola aposta na diversificação da sua economia, com grande destaque para o sectores industrial, agrícola e dos transportes ferroviários. Neste aspecto o Corredor do Lobito tem uma importância estratégica incalculável para Angola e para os países vizinhos. Não há dúvida de que as iniciativas junto dos países vizinhos constitui um grande passo no sentido da complementaridade das economias e redução dos custos com a importação de bens. O ministro das Relações Exteriores lembrou que à semelhança dos acordos com a RDC, pretendese brevemente avançar com a Namíbia e Zâmbia, numa iniciativa que deve levar a fortalecer o processo de integração regional. A cimeira de Harare debateu igualmente os recentes incidentes na África do Sul, nomeadamente os ataques xenófobos dirigidos a africanos, numa altura em que a organização regional encoraja as autoridades sul-africanas a continuar a garantir segurança para todos.

Os últimos acontecimentos na África do Sul devem constituir momento de reflexão sobre as questões migratórias, particularmente o acolhimento de estrangeiros, grande parte deles provenientes de Estados membros da SADC. Num momento em que as atenções se centram no processo de integração económica na sub-região, com a liberdade de circulação e comércio como os seus maiores trunfos, não podia deixar de ser dado o devido tratamento a questões ligadas à migração. Esperemos que as decisões e recomendações saídas da cimeira ajudem os países membros da SADC a gizarem as melhores estratégias para a industrialização da região e para avançar com segurança para a consolidação do processo de integração económica.


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