7 maio 2015, Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)
O comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, Pierre Krähenbülh, esteve em audiência com a presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputada Jô Moraes, nesta quarta-feira (6), para pedir apoio à causa palestina. Ele falou sobre a possibilidade de conseguir algum mecanismo regular da contribuição brasileira à Gaza.
A deputada se
dispôs a ser uma ponte com as associações e comunidades no Brasil de
apoio à causa palestina e constituir um grupo de trabalho no parlamento
brasileiro para debater o assunto. Ela se sensibilizou com o relato do
diplomata sobre a situação dos palestinos após a ofensiva de Israel em julho do
ano passado, quando recrudesceu o conflito entre israelenses e palestinos, na
Faixa de Gaza.
Nos ataques à Faixa de Gaza, as maiores vítimas são as crianças, destaca o diplomata. E, pensando nelas, Krähenbülh sugeriu que o Brasil ajudasse aos palestinos com um projeto nos moldes do
Programa Nacional de Alimentação
Escolar (Pnae).Nos ataques à Faixa de Gaza, as maiores vítimas são as crianças, destaca o diplomata. E, pensando nelas, Krähenbülh sugeriu que o Brasil ajudasse aos palestinos com um projeto nos moldes do
O programa, implantado em 1955 no Brasil, contribui para o crescimento, o desenvolvimento, a aprendizagem, o rendimento escolar dos estudantes e a formação de hábitos alimentares saudáveis, por meio da oferta da alimentação escolar e de ações de educação alimentar e nutricional.
Do Portal Vermelho
---------
Crianças palestinas e soldados
israelenses expõem crimes da ocupação
4 maio 2015, Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)
Por Moara Crivelente*, para o Portal Vermelho
A demanda pela
responsabilização da liderança israelense pelo cotidiano violar dos direitos
humanos precisa envolver um objetivo amplo de luta pela justiça. O que se
discute já não é só a eventual e aparentemente inalcançável “solução do
conflito” ou o perpétuo “processo de paz”, mas principalmente, a justiça, já
que o mundo parece finalmente atentar-se para a insustentabilidade
da impunidade israelense.
No processo, a denúncia das graves violações acumula-se na lista de episódios estarrecedores que – desde as grandes ofensivas militares cada vez mais cruentas até as práticas cotidianas de uma ocupação que impõe permanentemente o “estado de exceção” à população ocupada – têm chocado cada vez mais a chamada “comunidade internacional”.
Ganha cada vez mais atenção, por exemplo, o impacto da ocupação israelense sobre as crianças palestinas. A carta de número 542 encaminhada em 1º de maio pelo embaixador palestino Riyad Mansour, chefe da Missão de Permanente de Observação do Estado da Palestina na ONU, reivindica a inclusão da situação no Relatório Anual da Secretaria Geral sobre Crianças em Conflitos Armados. “Acreditamos que este é um passo importante e necessário para responsabilizar os perpetradores de crimes contra as crianças por suas ações, contribuindo para os esforços pelo fim da impunidade,” afirma o documento.
De acordo com a Associação de Apoio aos Prisioneiros e Direitos Humanos “Addameer”, dos mais de seis mil palestinos presos em cárceres israelenses, 163 são crianças (13 delas são menores de 16 anos). Muitas passaram por situações como a descrita pela carta do embaixador Mansour. O primo de Ahmad, Mohamad, de 12 anos, teve menos sorte e passou ainda mais tempo detido, sem poder se alimentar ou beber água durante o interrogatório. Os pais só foram informados do paradeiro dos dois meninos horas depois da sua detenção. Mas o quadro ainda é mais preocupante.
No processo, a denúncia das graves violações acumula-se na lista de episódios estarrecedores que – desde as grandes ofensivas militares cada vez mais cruentas até as práticas cotidianas de uma ocupação que impõe permanentemente o “estado de exceção” à população ocupada – têm chocado cada vez mais a chamada “comunidade internacional”.
Ganha cada vez mais atenção, por exemplo, o impacto da ocupação israelense sobre as crianças palestinas. A carta de número 542 encaminhada em 1º de maio pelo embaixador palestino Riyad Mansour, chefe da Missão de Permanente de Observação do Estado da Palestina na ONU, reivindica a inclusão da situação no Relatório Anual da Secretaria Geral sobre Crianças em Conflitos Armados. “Acreditamos que este é um passo importante e necessário para responsabilizar os perpetradores de crimes contra as crianças por suas ações, contribuindo para os esforços pelo fim da impunidade,” afirma o documento.
De acordo com a Associação de Apoio aos Prisioneiros e Direitos Humanos “Addameer”, dos mais de seis mil palestinos presos em cárceres israelenses, 163 são crianças (13 delas são menores de 16 anos). Muitas passaram por situações como a descrita pela carta do embaixador Mansour. O primo de Ahmad, Mohamad, de 12 anos, teve menos sorte e passou ainda mais tempo detido, sem poder se alimentar ou beber água durante o interrogatório. Os pais só foram informados do paradeiro dos dois meninos horas depois da sua detenção. Mas o quadro ainda é mais preocupante.
Mansour sublinha também a letalidade do abuso da força pelas
autoridades israelenses contra as crianças. “Em 27 de abril, Mohamed Murad
Yahiyawas, de 18 anos, foi atingido e morto pelas forças israelenses ocupantes
na vila de Al-Araq, a oeste de Jenin, quando voltava para casa de um casamento.
Em 26 de abril, Mohammed Abu Ghnem, de 17 , foi atingido e morto em um posto de
controle na Jerusalém Oriental ocupada. Em 28 de abril, Fadi Abu Mandil, de 14,
foi atingido em sua casa, no centro da Faixa de Gaza, quando as forças
ocupantes abriram fogo contra agricultores palestinos, e continua em estado
crítico.” O texto continua para contar casos igualmente ultrajantes de
violência contra crianças palestinas, apelando pelo compromisso internacional
na sua proteção.
Do outro lado do bloqueio, mais crimes
Em um novo relatório com testemunhos de soldados, a organização israelense de veteranos “Quebrando o Silêncio” (“Breaking the Silence”, em referência ao código de silêncio do Exército) voltou a expor a conduta das forças armadas israelenses, desta vez na Faixa de Gaza. A organização centrou-se nas denúncias dos crimes de guerra cometidos pelas “Forças de Defesa de Israel” (FDI), como se intitula o Exército israelense, durante a ofensiva de 51 dias, entre julho e agosto de 2014, que matou mais de 2.200 palestinos (83% civis). Uma comissão do Conselho de Direitos Humanos da ONU tenta investigar, com grande dificuldade, a miríade de denúncias de graves violações durante a ofensiva e antes dela, em Gaza e na Cisjordânia. Em atualização recente, a comissão explicou precisar estender o prazo para a entrega do relatório até junho.
Não é à toa que no início de abril o advogado do Exército responsável por avaliar a condução da “operação Margem Protetora” de 2014 disse ao jornal israelense Haaretz que jamais o classificará de “o Exército mais moral do mundo”, jargão cunhado por suas equipes de propaganda. O major-general Danny Efroni está encarregado de averiguar episódios como aqueles denunciados por cerca de 60 soldados que testemunharam sobre as atrocidades que cometeram ou presenciaram na Faixa de Gaza.
Um dos soldados afirma que, apesar do esforço de marketing do Exército sobre o cumprimento das normas internacionais para a condução da guerra, “todos os que se encontrassem na área das FDI, que as FDI tivessem ocupado, não eram civis. Essa era a inferência.” Casos estarrecedores são narrados pelos soldados para expor a destruição arbitrária de casas, inclusive com tanques, e o disparo indiscriminado contra civis, por vezes até como ações de “vingança”. Um episódio descrito foi a ordem de um comandante para uma salva de tiros, “como fazem nos funerais”, quando um soldado morreu em combate, “mas com artilharia, contra as casas.”
Outros relatos referem-se ao assassinato de civis devido às frouxas ou ignoradas “regras de combate”, como quando um veículo não tripulado (drone) foi enviado para identificar duas mulheres que falavam no celular, na rua, em seguida alvejadas. O fato de estarem sozinhas e portarem apenas celulares foi tido como suspeito. Ainda que estivessem desarmadas, "elas foram contabilizadas como ‘terroristas’,” disse um soldado.
Estes são episódios estarrecedores da luta cada vez mais fortalecida pela denúncia desses crimes e a demanda por justiça. Tratar o assunto enquanto condicionante para a eventual “solução do conflito” é estratégico. Há tempos se rarefazem os episódios em que os líderes sentam-se à mesa para as meta-discussões do que poderá ser abordado no longo debate sobre o fim do despojo e do massacre dos palestinos, com o papel visivelmente negativo desempenhado pelo “mediador-aliado” (de Israel) representado pelos Estados Unidos.
A estratégia alternativa é o direito internacional. Assim como a liderança israelense desenvolveu a habilidade de instrumentalizar as normas internacionais e a narrativa para legitimar sua ofensiva contra o povo palestino – prática nada inédita, diga-se de passagem – os palestinos também têm mostrado saber empregar o instrumento em sua luta por libertação. A paz passa necessariamente pela responsabilização e pela justiça.
Do outro lado do bloqueio, mais crimes
Em um novo relatório com testemunhos de soldados, a organização israelense de veteranos “Quebrando o Silêncio” (“Breaking the Silence”, em referência ao código de silêncio do Exército) voltou a expor a conduta das forças armadas israelenses, desta vez na Faixa de Gaza. A organização centrou-se nas denúncias dos crimes de guerra cometidos pelas “Forças de Defesa de Israel” (FDI), como se intitula o Exército israelense, durante a ofensiva de 51 dias, entre julho e agosto de 2014, que matou mais de 2.200 palestinos (83% civis). Uma comissão do Conselho de Direitos Humanos da ONU tenta investigar, com grande dificuldade, a miríade de denúncias de graves violações durante a ofensiva e antes dela, em Gaza e na Cisjordânia. Em atualização recente, a comissão explicou precisar estender o prazo para a entrega do relatório até junho.
Não é à toa que no início de abril o advogado do Exército responsável por avaliar a condução da “operação Margem Protetora” de 2014 disse ao jornal israelense Haaretz que jamais o classificará de “o Exército mais moral do mundo”, jargão cunhado por suas equipes de propaganda. O major-general Danny Efroni está encarregado de averiguar episódios como aqueles denunciados por cerca de 60 soldados que testemunharam sobre as atrocidades que cometeram ou presenciaram na Faixa de Gaza.
Um dos soldados afirma que, apesar do esforço de marketing do Exército sobre o cumprimento das normas internacionais para a condução da guerra, “todos os que se encontrassem na área das FDI, que as FDI tivessem ocupado, não eram civis. Essa era a inferência.” Casos estarrecedores são narrados pelos soldados para expor a destruição arbitrária de casas, inclusive com tanques, e o disparo indiscriminado contra civis, por vezes até como ações de “vingança”. Um episódio descrito foi a ordem de um comandante para uma salva de tiros, “como fazem nos funerais”, quando um soldado morreu em combate, “mas com artilharia, contra as casas.”
Outros relatos referem-se ao assassinato de civis devido às frouxas ou ignoradas “regras de combate”, como quando um veículo não tripulado (drone) foi enviado para identificar duas mulheres que falavam no celular, na rua, em seguida alvejadas. O fato de estarem sozinhas e portarem apenas celulares foi tido como suspeito. Ainda que estivessem desarmadas, "elas foram contabilizadas como ‘terroristas’,” disse um soldado.
Estes são episódios estarrecedores da luta cada vez mais fortalecida pela denúncia desses crimes e a demanda por justiça. Tratar o assunto enquanto condicionante para a eventual “solução do conflito” é estratégico. Há tempos se rarefazem os episódios em que os líderes sentam-se à mesa para as meta-discussões do que poderá ser abordado no longo debate sobre o fim do despojo e do massacre dos palestinos, com o papel visivelmente negativo desempenhado pelo “mediador-aliado” (de Israel) representado pelos Estados Unidos.
A estratégia alternativa é o direito internacional. Assim como a liderança israelense desenvolveu a habilidade de instrumentalizar as normas internacionais e a narrativa para legitimar sua ofensiva contra o povo palestino – prática nada inédita, diga-se de passagem – os palestinos também têm mostrado saber empregar o instrumento em sua luta por libertação. A paz passa necessariamente pela responsabilização e pela justiça.
Leia também:
"Dia da Independência" em Israel: mito e memória do despojo palestino
Prisões sistemáticas: a ocupação israelense contra a resistência palestina
Palestina ocupada: O desafio à justiça e os mediadores fajutos
Israel: Mais colônias e a matança deliberada dos palestinos
"Dia da Independência" em Israel: mito e memória do despojo palestino
Prisões sistemáticas: a ocupação israelense contra a resistência palestina
Palestina ocupada: O desafio à justiça e os mediadores fajutos
Israel: Mais colônias e a matança deliberada dos palestinos
*Cientista política e jornalista, membro do Centro Brasileiro de
Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) na assessoria à presidência
do Conselho Mundial da Paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário