25 maio 2015, ODiario.info
http://www.odiario.info (Portugal)
Publicamos em simultâneo este
emocionado testemunho de Magdalena Enjolras e o Comunicado das FARC-EP
informando a suspensão do cessar-fogo unilateral declarado em Dezembro de 2014.
O imperialismo e a burguesia colombiana vinculada aos seus interesses não estão
interessados na paz em Colômbia. Obrigaram o povo colombiano a uma heróica
resistência armada de mais de três décadas. Julgam poder vencer essa guerra.
Este testemunho mostra algumas das razões porque não o conseguirão. A luta das
FARC-EP é a luta dos camponeses pela terra, a luta dos trabalhadores contra a
exploração, a luta do povo colombiano pela liberdade, pela emancipação social e
pela
independência nacional.
Despediu-se de mim com um sorriso.
O revólver colocado entre a
cintura e as calças, saliente, onde formas brancas embelezavam o cabo. Deve ser
pesada, pensei. O aperto de mão afetuoso, a vontade de ambos de abraçar o
outro, as mãos um pouco desajeitadas, acabámos ambos sorrindo abertamente ao
desejo de um adeus sentido, e um desajeitado abraço acabou por surgir, as mãos
apertando os dedos, na face um beijo de despedida, ao meu ouvido as palavras
sussurradas, Cuídate.
Um jovem guerrilheiro das FARC-EP.
Não teria mais de 20 anos. Fora ele que me havia ido buscar ao pueblo X e
tivera a tarefa de me conduzir até ao Comandante M. Fora ele também que havia
tido a tarefa inversa, a de me trazer de volta até ao pueblo X, Ustedes hablaran
mucho.
A organização do encontro com o
Comandante M exigira seguidas e cansativas etapas até ao final destino onde o
conhecimento se haveria de travar. Onde esse extraordinário, caloroso e
expectante conhecimento se haveria de encontrar ao sabor de umas Águila light.
A chegada ao primeiro ponto havia
sido uns dias antes. Chegara à cidade de V onde companheiros me haveriam de
receber numa espera que quase desespera. Normal, diziam-me. Assim é, assim tem
de ser. Tudo é clandestino. Tudo se combina entre meias palavras. Deveria
partir no dia seguinte ao da minha chegada, mas assim não foi. Deveria partir
nos dois dias seguintes ao da minha chegada, mas também assim não foi. Deveria
partir nos três dias, quatro dias, cinco dias seguintes ao da minha chegada. E
quando achei que já não seria possível, que as condições para o encontro não
estavam satisfeitas pelas próprias circunstâncias tão particulares daquela
exigente e heroica luta, onde o cuidado exige ser extremo, parti.
Durante o desenrolar da conversa com
o Comandante M, ele dissera-me, La primera vez que uno viene aquí, viene
acompañado; pues a ti te toco venir sola. Não vi, mas senti, o terno sorriso,
Pues aquí estas, y eso es lo importante.
Dia 1
A partida da cidade de V. A
apreensão do que seria aquele tão esperado encontro criava uma sensação onde
expectativa e intranquilidade impunham um miudinho nervoso. Comi o
pequeno-almoço que me haveria de manter durante uma dezena de horas.
Às 5h15 estava no táxi que, 10
minutos depois, me deixaria no terminal. Às 5h30 parti para a cidade de QR.
Aqui, uma passagem já se encontrava reservada em meu nome para a cidade de Y. A
viagem seria num jipe, e talvez pela reserva, talvez por mera simpatia,
viajaria no lugar ao lado do condutor, enquanto atrás os restantes passageiros
se comprimiam entre suores. A estrada era de macadame. E a minha atenção
focava-se na paisagem. E no que não poderia esquecer de dizer caso o Exército
ou a Polícia Militar me mandassem parar.
Num ponto do caminho, o jipe é
obrigado a estancar. À janela, brutais, frios e desconfiados olhos, acompanham
as violentas palavras, De que país eres tu? A minha tranquilidade e olhar fixo
devem tê-lo desordenado. Tranquilamente respondi, De Canadá, Pasaporte!
Dei-lho. Revirou-o, olhou-o, olhou-me, Qué haces aqui? Soy profesora y
investigadora y trabajo sobre el tema de la agro-minería; vengo aquí a
colaborar con una asociación campesina. Devolveu-me o passaporte, Qué le vaya
bien. E o jipe seguiu viagem.
Chegada a Y.
Teria de efetuar uma ligação
telefónica de forma a informar da minha chegada. Aí deixaria a maioria dos meus
(sempre excessivos e inúteis) pertences pessoais numa casa. Recuperá-los-ia na
volta, quando, dois dias antes da partida definitiva, ainda haveria de ter
tempo para visitar um amigo com quem havia compartido o pânico e o medo durante
o Paro Agrario de 2013, quando, no refúgio humanitário de C, a ESMAD investira
contra o acampamento onde se encontrava um milhar de campesinos e mineiros.
Tiros a bala real, um companheiro que quase morrera dos golpes e facadas
sofridos, jazendo, em estado grave, numa enfermaria improvisada, coberta de
lona, onde a luz eléctrica se mantinha graças a um gerador, o helicóptero
ameaçante, tiros, lasers percorrendo os arbustos à nossa volta, tiros, uma
poderosa luz enviada constantemente para o centro do acampamento por dezenas de
militares que nos rodeavam, tiros, o medo. A percepção minha, pela primeira
vez, da violência militar extrema utilizada por um Estado terrorista. Ainda
tive tempo de com aquele amigo uma conversa compartir e de rememorar aquele
Paro de 2013.
Em Y, o calor e o suor
escorriam-me pelo corpo. Depois de mais de 6 horas de viagem desde a cidade de
V, teria de prosseguir. Os meus pertences aí ficariam e seguir-se-ia uma viagem
de moto de mais umas horas tantas.
Antes, diziam-me, Había que hacer
ese mismo viaje en mula. Então, a viagem poderia exigir praticamente um dia até
à vereda K. A estrada que conecta Y à vereda da minha chegada havia sido
construída pelos próprios habitantes das veredas próximas, onde as comunidades
campesinas e mineiras se encontram votadas à sua própria sorte. Sem meios de
comunicação, sem sinal telefónico, sem acesso a serviços de saúde e de
educação. De forma a encurtar as distâncias, a poder, ainda que com extrema dificuldade,
chegar à cidade mais próxima, constroem com o seu próprio suor as vias de
comunicação que o Estado lhes nega.
Com efeito, a saída da cidade de Y
logo nos anuncia que estamos em outro território. Num território abandonado
pelo Estado, do qual este apenas se lembra quando com fortes e violentas
investidas militares aí ataca campesinos, mineiros e insurgência. Onde
paramilitares semearam barbárie e medo.
Portagens construídas com cordas
no meio da estrada: o dinheiro serve para a manutenção das vias. As comunidades
organizam-se. Com a ajuda e proteção do Exército do Povo.
A pequena mochila, com o mínimo indispensável, pesar-me-ia nas costas. A estrada é de terra, de pedras, rodeando montanhas que ora sobem, ora descem. A mota tem dificuldades nas subidas. Sentimos o corpo triturado e o que nos mantém respeitosamente sentados na moto é, apenas, a esperança de chegar. Horas depois, naquela longa e tortuosa estrada fruto do labor campesino, chego à vereda K.
A vereda K
O motorista deixa-me na casa indicada.
Aqui, apreendo, pela primeira vez, esta vereda que, hoje, caminha memória
(a)dentro.
A comunidade auto-organiza-se, a
insurgência atenta, sempre presente, motor da história de resistência,
defendendo pequenos campesinos, pequenos mineiros e operários mineiros. A
eletricidade não chega até aqui. Quando necessário, alguns geradores vão
fornecendo a energia indispensável, a água busca-se através de canos de
plástico que se prolongam entre poços, algumas casas não têm água corrente.
O casario de madeira abarca mais
de uma centena de famílias, a maioria trabalhadora das artesanais minas de
ouro. O trabalho, aqui, extenua até quem apenas mire estes homens carregando
alqueires de terra, mesclada com ouro, às costas, enquanto sobem íngremes
escadas, construídas até 600 metros abaixo da superfície.
É aterrador descer numa destas
minas. No te preocupes, si algo pasa yo estoy aquí, te pego y te llevo para
fuera, cierto? Agárrate a mí, a mis manos, no te preocupes, yo estoy aquí,
Cuántas veces por día subes y bajas estas escaleras?, No sé, por veces siete u
ocho, Tengo miedo, No tengas, aquí estoy. Estanco a meio. Não consigo descer
mais. A mina, torta, é um buraco escavado terra abaixo, na vertical, sustentada
por blocos de madeira, as escadas presas por cordas, com a água, a partir de um
determinado momento, encharcando-nos, fazendo-nos escorregar, assustando-nos,
Vengase, estás conmigo, no tengas miedo, estoy aquí, contigo. Desci. Até ao
fim. É aterrador.
Mi trabajo es bombear el agua,
varias veces al día, Y si no la bombeas?, La mina se inunda.
Aqui, no entanto, dezenas de
trabalhadores, diariamente, sacam o sustento para as suas famílias. Nunca hay
accidentes? Algunos, No tienes miedo?, Uno sabe que todos los días arriesga su
vida aquí. Senti um aperto. E uma admiração e respeito imensos.
Terra de resistência. Resistência
não armada e resistência armada. Pelas montanhas, o Exército do Povo resiste
heroicamente, numa luta que, se desde sempre fez parte da construção de um país
cujos homens e mulheres não cedem, não querem ceder, às investidas do grande
capital, remonta a 1964 a sua oficial formação.
Foi aqui que, emocionada, veria,
tocaria, cumprimentaria, trocaria palavras, ouviria o Comandante M.
Nesta vereda, Te toca esperar,
dizem-me várias vezes, No te preocupes, aquí vendrán a recogerte, pero te toca
esperar, Uno nunca sabe si hay condiciones o non para que te puedas ir.
Dia 3
F aproxima-se da casa que me
albergava. Chama-me à parte. Hoy vendrán a recogerte. Não pude evitar um largo
sorriso. F, séria, solene, sussurrando quase, tampouco pôde evitar responder ao
meu sorriso com um sorriso seu.
Prepárate para quedarte allá, uno
no sabe se tiene o no que quedarse con ellos. Preparei, apressada, a mochila
com o quase nada de que eventualmente necessitaria. No te apreses, en general
vuelven como en una media hora o más.
Não sei quanto tempo decorreu
entre a informação de F e a primeira moto que me levaria até PR. Uma moto
surge. Vengo de la parte de F. Don H, ex-guerrilheiro, campesino, com uma
cultura histórica e política que me prendia ao banco, ouvindo, aprendendo, com
cicatrizes da guerra onde combatera durante 8 anos, sorriu, pela primeira vez,
tão aberta e afavelmente, que senti um tremor de emoção, Ahora vas a
conocerlos, suerte camarada!, e, emocionado, despede-se. Porra, pensei, é um
privilégio trocar vidas e histórias com aqueles que nunca desistiram de
combater pela vida.
Tranquilamente, montei na moto. E
aí fomos. Chegara o momento. Esperado, imaginado, agora em vias de
concretização. O longo caminho, uma vez mais, entre pedras, riachos e pontes
improvisadas. Apenas num momento tive de sair da moto e passar a pé sobre um
tronco. Que servia de ponte. Que ali estava permitindo conectar duas margens.
No caminho, outros casarios. E
grandes telas, em diferentes casas, homenageavam a insurgência. Nalguns casos,
ambas as insurgências: FARC-EP e ELN. Em letras chorudas, sem medo, ali
entraria num terceiro território. Abandonado pelo Estado, sim, apenas lembrado
para assassinatos e perseguições pelo aparelho (para)militar estatal, mas onde
a Palavra-maior de liberdade, resistência, luta e compromisso se balançava nas
ruas. Emoção. Emoção seria, aliás, a partir daqui, o sentimento que melhor
descreveria os momentos que a partir de então se desenhariam. Emoção.
Chegámos a PR, um pequeno casario
com umas poucas dezenas de construções, num pátio de uma casa de madeira onde
homens comiam. Es con él con quien tiene que hablar, dissera-me o motorista.
Sentados, os homens não me prestaram atenção. Cumprimentei-os, cumprimentei Don
G. Usted ya desayunó?, No, Come. Comi. Troquei palavras com as mulheres. Pouco
tempo depois, os homens dispersaram-se. Don G oferece-me uma cama, num pequeno
quarto despido, para descansar, Ya te vendrán a recoger. Sorrimos ambos.
Tiro as botas de borracha,
impermeáveis, e estiro-me na cama. Sem dar por isso, adormeci. Um sono
tranquilo.
Todos estes homens, todas estas
mulheres, imprimiam-me uma sensação de segurança e de tranquilidade. Sem nunca
antes os ter visto, em terra estranha, encontrava-me estranhamente tranquila.
Encontro
Acordo com um lindo jovem, botas
de couro negras usadas, calças caqui de tipo tropa, t-shirt vermelha, o rosto
quieto, à porta, Usted como se llama?, M, Listo, vámonos?
Voltei a calçar as pesadas botas,
peguei na mochila, acompanhei-o até à moto e instalei-me. Fomos até um outro
casario, as mesmas telas anunciando que, naquele território, é o Exército do
Povo o Estado. Comprámos cigarros, seguiram-se sorriso e empatia mútuas, Vejo
que a usted no le incomodan los cigarrillos, diz-me, Quiere uno? Um sorriso
quase infantil, grande, brilhante, incutia-me uma segurança crescente.
Seguimos pela mesma via tortuosa
até um ponto onde um outro guerrilheiro nos esperava. À borda da estrada, ali
estava, olhando-nos. Enquanto aqueloutro seguia em mula, continuei na moto,
selva dentro, até uma pequena finca. A moto desligada, enquanto uma família,
sem nunca dirigir palavra, sem tampouco dar uma atenção particular à nossa
chegada, descansava. Qué tal eres en las subidas? Depende, respondi. E, aqui,
maldisse os cigarros todos que ao longo de mais de 20 anos têm consumido os
meus pulmões. Adiante, ele subia, passo ligeiro e rápido, e eu sofria,
Discúlpame, pero tengo que parar, no logro subir, Déjame llevar tu mochila, yo
la llevo, Pero así te dificulto a ti la subida, No te preocupes, sorriu-me,
Estoy acostumbrado a tener mucho más peso y a subir mucho más. Claro, pensei.
Que parva que sou, pensei.
No cimo do monte, um grupo de
guerrilheiros fazia guarda. Estava com o Exército do Povo. O imaginado,
finalmente, tornado numa realidade.
Indescritível foi o turbilhão de
pensares e sentires que me assaltaram. Ali estava. Com o Exército do povo.
Comandante M
Quando o sonho se transforma em
projeto e o projeto em realidade, é difícil manusear as sensações. E ainda mais
descrevê-las. O primeiro contato foi com um aperto de mão. Estava desajeitada,
ofegante, a língua de Castela entaramelada, emocionada, contente, feliz,
Tranquila, no entanto.
A despedida, ao contrário, foi com
um abraço. Forte. Sentido. Guardo-o. Comigo. Aquele abraço. Aquela emoção. Guardo-o.
Na memória. Aquele feliz abraço. Pouco tempo antes, o Comandante comentara, La
luna hoy está bella.
A guerra de guerrilhas móbil que
caracterizara os primeiros anos das FARC-EP transformara-se, num determinado
momento, em guerra de posições. Dois Exércitos afrontavam-se, com centenas, ou
milhares, de homens combatendo, frente a frente. As perdas de vidas de
guerrilheiros, no entanto, eram muitas. O avanço tecnológico e apoio
exponencial do império estadunidense apetrechavam o Exército do Estado terrorista
de meios inalcançáveis para a guerrilha. Hoje, a insurgência voltou à guerra de
guerrilhas. Hoje aqui, amanhã não.
Em constante movimento, montanhas
calcorreadas, a guerrilha tem, hoje, um novo inimigo. A aviação. Siempre hubo
ataques aéreos en esta guerra, pero antes uno se reía. Por ejemplo, donde
estamos ahora, lo que pasaba es que el avión pasaba y no sabía dónde estábamos;
entonces, la bomba caía aquí al lado, pero raras veces sobre nosotros. Ahora
non. Tienen aviones que detectan el humo, que detectan el campo magnético de
baterías, que detectan el calor humano, que son precisos. Ahora es mucho más
difícil.
Era difícil imaginar ali, naquela
Floresta, um clima quente e húmido, mas calmo, ao som das aves nativas e com um
magnífico entardecer, aviões bombardeando. Así es. Uno está aquí, tranquilo,
pero de un momento al otro todo puede cambiar.
Um dos aspectos já acordados em
Havana diz respeito à não incorporação de menores de 15 anos em combate. Quando
falamos da incorporação de menores, a resposta surge rápido. Usted está vendo
ese guerrillero allá? Tiene 14 años. Está con nosotros desde los 4 años.
Nosotros somos su única familia. Lo que pasa es que con los asesinatos y
desplazamientos constantes, muchos niños se quedaban solos, sin familia, o
huérfanos. Nosotros non podíamos abandonarlos y así los traíamos con nosotros.
Assim a guerra obrigou. Assim o
obrigou a repressão, violência e barbárie do Estado colombiano.
As comunidades campesinas onde
atuam as FARC-EP têm um nível organizativo e participativo inigualável. Os
preços são estabelecidos coletivamente, a organização da vida quotidiana é
discutida coletivamente, as estradas são construídas coletivamente, os
conflitos são discutidos coletivamente. Somos un Estado dentro del Estado. Por
veces tenemos até que resolver conflictos entre parejas. E sorri.
Há mais de 30 anos na luta armada,
o Comandante M não tem dúvidas sobre a Colômbia que quer ver renascer. Se o
objetivo último, estratégico, das FARC-EP, organização política armada, é a construção
de uma sociedade socialista, hoje, por demanda das bases campesinas e mineiras,
de trabalhadores de Norte a Sul do país, dos povos indígenas, das comunidades
de origem africana, da população urbana, também pela certeza de que, hoje, a
resolução do conflito armado tem de ser político, a Paz é o objetivo imediato.
Mas não uma paz qualquer. Uma paz que assegure uma base democrática mínima que
permita assegurar conquistas alcançadas pelos trabalhadores e pela guerrilha
nas zonas por si controladas. Uma paz que reconheça as Zonas de Reserva
Campesina, consagradas em lei, mas cuja implementação o Estado colombiano
constantemente repele. Uma paz que assegure condições de trabalho e de vida
digna, não apenas para as populações campesinas e indígenas, desde sempre
abandonadas pelo Estado, mas para todos os colombianos. Uma paz que permita
desenrolar a luta, no plano político-institucional, daqueles que desde sempre
pugnaram, desde as montanhas, por uma Colômbia livre da exploração do Homem
pelo Homem. Uma paz que permita que as comunidades campesinas e indígenas
possam continuar a organizar-se e a organizar, sob a égide de organizações
representativas da sua classe, o espaço onde vivem e trabalham. Uma paz que não
entregue o solo, subsolo e recursos naturais à agroindústria e à agromineria.
Uma paz que não criminalize quem sempre trabalhou o solo e subsolo colombianos
e de cuja exploração depende, que permita o desenvolvimento destas áreas, com
um enfoque territorial. Uma paz que permita aos campesinos que são obrigados a
recorrer ao plantio de cultivos ilícitos, as condições para que possam
gradualmente diversificar os seus cultivos. Uma paz que permita ao povo
colombiano aceder à saúde, educação, trabalho e casa. Uma paz sem
paramilitares, sem assassinatos, sem perseguições políticas. Uma paz que
reconheça o direito à rebelião. Uma paz que não entregue a Colômbia nas mãos do
capital financeiro.
No Acordo Geral que hoje se
negoceia em Havana, está incluído um preâmbulo no qual se expuseram os
critérios principais que deram origem às atuais negociações de paz. Nele,
explicita-se a necessidade de participação de toda a sociedade na construção de
uma paz duradoura e estável, assim como o necessário desenvolvimento económico
com justiça social e em harmonia com o meio ambiente. Donde estamos ahora, el
suelo que estamos pisando, el subsuelo, este sitio mismo donde estamos
hablando, fue comprado por una multinacional, para extracción del oro. Y cuando
lo compraron sabían que este es un área controlada por nosotros. A paz terá,
assim, de assegurar as condições mínimas para que não apenas povos campesinos e
originários possam organizar-se e organizar as suas comunidades, mas igualmente
para que possam resistir sem medo ao avanço do capital estrangeiro. E exigir as
terras que desde sempre lhes permitiram sobreviver.
As FARC-EP sabem que a mudança de
um modo de organização socioeconómico para outro não passa por uma assinatura.
A Colômbia pós-acordo não será uma Colômbia pós-conflito. O conflito armado
poderá terminar, mas o conflito social, a luta de classes que lhe subjaz,
prossegue. E os guerrilheiros que, hoje, nas montanhas heroicamente lutam e
resistem, prosseguirão a luta e resistência política numa Colômbia pós-acordo.
A burguesia colombiana, historicamente, sempre traiu os compromissos que havia assumido com o povo colombiano e com as insurgências, Por eso, nosotros, las FARC-EP, hablamos de dejación de armas, y no de entrega de armas.
Uma paz que, certo, interessa a
uma parte da burguesia colombiana e estrangeira, ávida de explorar solo,
subsolo e mão-de-obra colombiana, mas que terá de enfrentar um povo com uma
experiência organizativa e de resistência de mais de 50 anos.
Dile a los compañeros que aquí
estamos, aquí seguimos, resistiendo y luchando por un mundo mejor.
Aqui o digo, Comandante, aqui o
escrevo, As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo aí
estão, resistindo e lutando por um mundo melhor, por uma paz com justiça
social!
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